A minha relação com a música é algo flutuante. Isto significa que estou longe de ser conhecedora, sendo que a pouca memória auditiva que possuo também não ajuda em nada. Diria que sinto a música essencialmente como uma emoção que marca um momento. E depois outro. E assim sucessivamente.
Isto vem a propósito de um CD que recentemente me foi oferecido para marcar uma data especial e que inclui sonoridades menos habituais aos nossos ouvidos.
Clychau Dibon datado de 2013, é um disco que resulta da cumplicidade entre Catrin Finch e Seckou Keita, sendo a primeira harpista e o segundo tocador de kora, um instrumento de percussão oriundo da África Ocidental.
Gostei imenso dos sons que o disco disponibiliza e da harmonia que instrumentos com origens tão diferentes conseguem formar. Porém, quando dias depois tive a possibilidade de ver as imagens que estão para além desses sons, fiquei encantada.
A notória cumplicidade entre os dois artistas torna a música quase “palpável”. Essa conivência está patente nos olhares que se trocam, na mudança de sonoridades/ritmo que essa permuta frequentemente desencadeia ou no movimento dos corpos que ambos os instrumentos exigem ao seu intérprete. Neste vídeo, a cumplicidade entre eles é sensualidade. São dois artistas que se entregam aos seus instrumentos e com eles, constroem uma “dança” de sons, de olhares e de gestos.
Porque gostei tanto daqueles onze minutos, gostava de os partilhar aqui.
Catrin Finch e Seckou Keita actuaram em meados de Fevereiro deste ano na Fundação Calouste Gulbenkian, certamente num excelente concerto. Lamento não os ter conhecido há mais tempo.
Sobre o kora, em Portugal vive um músico da Guiné-Bissau que é mestre neste instrumento. Chama-se José Galissá e actuou no passado sábado no CCB, acompanhado pela sua banda, no âmbito dos Dias da Música. A este espectáculo assisti e gostei imenso.