Tenho o privilégio de trabalhar diariamente numa sala com muita luz natural, luminosidade que entra por uma grande janela de onde se desfruta uma razoável vista sobre Lisboa. Para um lado, o olhar pousa na belíssima ponte 25 de Abril e no seu inseparável companheiro Cristo-Rei e, no lado oposto, sobre as cúpulas de alguns edifícios da Baixa da cidade. Mas permite igualmente um olhar mais humanizado, uma vez que esta janela se enquadra nas traseiras de alguns edifícios de habitação.
Naquela “ilha” vive a intimidade de um pedaço da cidade, por vezes nua, por vezes crua, mas muitas vezes doce e soalheira. Há trinta e seis anos que acompanho o tempo a passar por ali, seja nos apartamentos que se foram renovando, seja nos edifícios que perderam a corrida do tempo a favor da degradação e das ervas daninhas, seja no envelhecimento natural dos seus habitantes ou, ainda, através da renovação de gerações, reveladas ao nosso olhar pelo minúsculo vestuário que de vez em quando aparece nos estendais.
E o tempo passou também por uma árvore de fruto, por uma nespereira, a razão de ser deste post. Vimo-la crescer, mas julgo que com os anos se tornou meio selvagem, uma vez que grande parte da copa está sobre telhados de difícil acesso. Talvez por isso, a maioria dos seus frutos secam e morrem na árvore.
Apesar de aparentemente abandonada, estou certa que é uma nespereira feliz, pois está enorme, apanha muito sol, produz imensos frutos e cumpre com rigor o seu ciclo anual de vida. Quando se inicia a Primavera algumas nêsperas já estão amarelas e maduras, começando a servir de alimento a várias espécies de aves que, em divertidas acrobacias, as saboreiam em vários momentos do dia.
Delicia-me assistir a este processo que se repete ano a ano. Por isso, num dia desta Primavera decidi tirar algumas fotografias através do vidro da referida janela, uma vez que todas as tentativas de a abrir resultaram em voos para parte incerta.
Em pouco tempo vi um periquito-de-colar…
…e toutinegras-de-barrete jovens e adultas, cuja diferenciação reside, respectivamente, na mancha castanha ou preta que possuem na cabeça.
Este adulto era um belíssimo cantor!
Fotografei ainda um pardal…
….e uma rola!
Em momentos não registados em imagens, vi igualmente melros de bico amarelo, pombos e outros pássaros que não identifiquei. Mas estas fotografias permitem ter uma pequena ideia da actividade que se gera em torno daquela árvore de fruto nesta altura do ano. Estou certa que, para além da cor que empresta a este recanto escondido, esta solitária nespereira é um parceiro importante no ciclo de vida das aves que habitam esta área da cidade.
O futuro levará seguramente à repetição deste ciclo. E se a vida o permitir, serei espectadora e cúmplice por mais alguns anos.
Há rotinas que sabem bem!
Que engraçado!! E achei mais piada porque também tenho uma nespereira debaixo de mim todos os dias… e tenho acompanhado o crescimento do fruto todos os dias 🙂 (queria colocar aqui uma fotografia, mas não consigo…) Acho é que os pássaros não andam muito por aqui…
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No geral as aves gostam de sossego. Talvez a excepção sejam os pombos e os pardais, que se adaptaram à confusão das cidades. Os pardais, por exemplo, até apreciam bastante o convívio com os humanos, especialmente em esplanadas.
O local onde trabalhas tem muita gente, pelo que deve ter poucos pássaros. Mas gostei da foto que me enviaste na tua nespereira… porque não estava a imaginar uma nespereira nesse local!
Bj e obrigada pela partilha!
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Fiquei cheia de vontade de comer nêsperas!!…sorte a dos pássaros!
Lindas e divertidas fotos.
Uma bela rotina para ambas as partes: quem espreita e regista e quem debica e saboreia.
Feliz Primavera … bom trabalho para todos!!
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Sim, eles são uns sortudos! Nem sei como não ficam enjoados de tanta nêspera!!! Mas vê-los é um prazer!
Obrigada pelas palavras…e um bom fim de semana para ti!
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Como é bom saborear o que nos rodeia…..e ter o privilégio de apreciar estas “pequenas coisas” da natureza, tão escassas nas grandes cidades.
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Sim, é verdade, são bem mais escassas nas cidades…mas muitas vezes somos nós que estamos um pouco “formatados” para não ver certos pormenores nos ambientes menos prováveis. Quantas vezes eles estão por perto e nós nada vimos!
Agradeço muito a sua presença e o seu comentário!
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Que lindo! E conhecedora de aves, parabéns e obrigada pela partilha. Um abraço. Á espera do próximo post.
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Que bom que é ver-te por aqui, Augusta! Espero que esteja tudo ok contigo!
Ainda bem que apreciaste as fotos! Quanto ao gosto pelas aves, gostamos muito de andar por aí a vê-las e a fotografá-las. Daí reconhecer algumas!
Obrigada por ires acompanhando o blog e…vai aparecendo!
Bj e bom fim-de-semana!
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