Segundo a lenda, S. Martinho de Tours foi uma altruísta alma quando há muitos séculos atrás rasgou ao meio a sua capa para proteger dois mendigos do frio. Por tão bondoso acto, Deus decidiu afastar as nuvens para que o sol aquecesse o seu corpo.
Então o sol, fazendo jus à tradição, foi sempre voltando nos dias de S. Martinho para nos brindar com “três” soalheiros e amenos dias que iluminavam outonos já acinzentados, frescos e chuvosos. Obviamente que este número era variável, mas sempre apareciam e eram bem recebidos.
Mas isto acontecia quando o clima deste nosso planeta era equilibrado. Entretanto…tanto o incomodamos que ele mudou de atitude, ficou alterado, confuso e deixou de ligar às tradições. No meu país, por exemplo, estamos a viver uma espécie de S, Martinho perene, apesar de estarmos a meio do Outono. Meses e meses sem chuva deixaram o país em seca extrema e numa situação muitíssimo preocupante. O céu apenas nos brindou com chuvas muito pontuais, algumas no momento certo de apagar alguns incêndios, mas persiste em continuar muito azul, sendo essa a previsão para os próximos tempos. Apenas o frio está a dar um ar da sua graça.
Diria que o S. Martinho se instalou confortavelmente neste recanto do sudoeste europeu, depois de nos visitar anos a fio apenas como turista. Agora, parece que se tornou residente…
Por isso, tendo em conta este contexto e neste seu dia…
…peço encarecidamente ao S. Martinho de Tours que faça umas férias noutra região deste planeta, permitindo assim que as nuvens se aproximem e a chuva caia nesta Ibérica Península tão carente desse precioso liquido.
Precisamos que a chuva regue as nossas raízes, as nossas árvores, faça crescer a relva e as culturas dos nossos campos, alimentos vitais, quer para os animais quer para nós.
É ainda urgente que a precipitação tenha alguma continuidade de forma a encher as nossas barragens que estão praticamente vazias, assim como a restabelecer o nível dos aquíferos que alimentam o nosso solo e as nossas fontes naturais, agora quase esgotados.
Ao partir… deixaria o Outono ser, o Inverno acontecer e nós ficaríamos eternamente gratos!
Entretanto…enquanto o S. Martinho medita neste pedido que será certamente o de milhões de portugueses, apreciemos as tradições deste dia de convívio, de muitos petiscos e de castanhas assadas acompanhadas de água-pé ou jeropiga. E que em muitas regiões do país, a tradicional prova do vinho novo que hoje se realiza, revele um bom ano vinícola.
Que procuremos a alegria no meio da tristeza!