a estrada

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Entre curvas e contracurvas,
a estrada segue
sem rumo.

Pela frente,
cruzamentos
hipóteses
e direcções sem fim…

… Que fazer?

Optar pela melhor paisagem?
Caminhar apenas pela margem?
Seguir uma miragem?
Sentir o prazer da aragem?
Ou fazer uma paragem?

 

 

(Dulce Delgado, Fevereiro 2018)

 

 

 

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sentir… pensar…

 

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As horas de luz crescem a olhos vistos neste Inverno já maduro.
O tempo frio alterna com o primaveril, tal como nuvens mais ou menos cinzentas e densas vão coabitando com o céu azul.

Alguma chuva tem caído no norte do país e alimentado a terra e as barragens, situação que aconteceu muito esporadicamente no centro e no sul, onde a natureza continua afogada em secura. Apesar da pequena dimensão do país na globalidade do planeta, a distinção entre norte e sul é notória em imensos aspectos. E no clima também, para desespero de todos aqueles que precisam urgentemente que a chuva caia e prepare os terrenos para as novas sementeiras.

Se por um lado apetece sentir na pele os dias primaveris e soalheiros, por outro a sua presença é dolorosa, porque sabemos o que tal pode significar na dinâmica deste nosso solo pátrio. E em nós, que o habitamos.

Como em muitos momentos e situações da nossa vida, estamos perante o querer e o não querer, perante a emoção que pende para um lado e a racionalidade que pende para o outro.

Que fazer? Sentir… ou pensar?

Sentir o prazer do sol… talvez “culpabilizando-nos” por o estarmos a fazer?

Ou pensar…negando a vontade de o sentir e “acalmando” os problemas de consciência?

 

 

 

olhares lugares

 

 

Agnès Varda é cineasta, fotógrafa e brevemente fará 90 anos; JR é o street artist Jean Réné, igualmente fotógrafo e agora com 34 anos.

Quando se conheceram em 2015, a cumplicidade foi notória e crescente apesar do meio século que os separa. Por esse facto surgiu a ideia de iniciar um projecto em comum, tendo como ponto de partida a sensibilidade e o gosto pela fotografia que ambos partilham.

Iniciaram então uma viagem pelas estradas secundárias de França, de onde resultou um documentário ao estilo roadmovie a que deram o título de Visages Vilages, nome que em Portugal foi traduzido como Olhares Lugares.

Essa viagem foi realizada numa carrinha transformada em máquina fotográfica gigante, uma espécie de laboratório ambulante que “imprime e expele” imagens a preto e branco em formato grande, facto que acabou por gerar muita curiosidade por onde passavam.

As imagens obtidas resultavam do contacto e diálogos estabelecidos com pessoas  encontradas em diversos lugares e situações, assim como da sua forma de estar e sentir, actividades e meios de subsistência. Mas todas as imagens revelavam o olhar artístico de ambos sobre essas personagens reais. Numa fase final, as impressões em papel foram coladas em locais específicos e sempre relacionados com a vivência dos fotografados, seguindo a técnica que caracteriza o trabalho artístico de JR.

O resultado desta viagem é um delicioso documentário sobre o quotidiano, a vida, a alegria de viver e a expressão artística, onde não faltam também interessantes diálogos sobre o passado, a morte, as escolhas ou as diferenças entre gerações. Mas toda a dinâmica se centra no profundo respeito que nasceu entre os dois como seres individuais, e neste papel em que são simultaneamente realizadores, actores, artistas e viajantes.

Com personalidades e traços identitários muito fortes e diferenciados, Agnés Varda e JR oferecem-nos noventa minutos de inteligência, partilha, humor e de imensa ternura.

Acrescento ainda que este filme se encontra nomeado para a próxima edição dos Óscares na categoria de Melhor Documentário.

 

 

de lista em lista…

 

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Apesar dos telemóveis disponibilizarem os blocos de notas e os lembretes, eu assumo o meu vício pelas “listas”… em papel!

Uma lista é uma espécie de “cábula legalizada”, uma vez que cumpre a função de auxiliar de memória sem transgredir qualquer norma. É leve, reciclável, não depende da carga de um telemóvel e ainda proporciona um saudável momento de prazer, de catarse e de sensação de missão cumprida, sempre que algum item é energicamente riscado. Tratando-se de um pequeno vício, quando uma lista acaba, outra já está no prelo. E assim sucessivamente!

Existem as listas desagradáveis e as agradáveis.

Nas primeiras incluo a lista das faltas/compras de víveres, lista muito dinâmica, sempre presente…quase eterna… e pronta a receber itens adicionais. Para se tornar mais simpática, aceita transgressões pontuais no acto das compras.

Relacionada com esta está a lista das refeições planeadas, uma forma pessoal de funcionamento que me permite tornar menos pesada uma tarefa que não aprecio.

E depois existem as agradáveis!

Em primeiro lugar, está a lista das ideias e tarefas, uma lista teórico/prática que regista ideias de todo o género e feitio, inclusive para este blog, mas igualmente tarefas práticas (obrigatórias ou não), actividades manuais, bricolages, etc. É uma lista muito activa e apreciada.

Em segundo lugar está a lista dos lugares a visitar, seja dentro ou fora do país. É uma verdadeira utopia, porque está sempre a crescer e raramente um item é riscado. Mas não faz mal… porque os sonhos também têm direito a uma lista!

E por fim, existe a lista de eventos/cultural, onde muitos itens acabam por ser riscados… simplesmente porque o filme, a exposição ou o teatro já saíram de cartaz. Normalmente é longa, bastante dinâmica…e ligeiramente frustrante, porque a falta de tempo, de oportunidade e de capacidade monetária misturadas com alguma preguiça levam a essa situação. Não obstante, está geralmente actualizada… talvez porque me faz sentir uma pessoa mais culta…

É absurdo, eu sei, mas, quem diz a verdade merece perdão!

 

 

 

memórias

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De memória em memória
desenhamos uma linha
de imagens
momentos
lugares
e sentimentos.

Linha
etérea e fugidia
nascida dos meandros
do tempo,
guardiã daquela memória
que deu início à nossa história.

Ilusório será pensar
que as imagens
do passado,
se agarram à linha do tempo
para sempre aí ficar.

Mas não.

Como um vento
de outono
que leva as folhas pelo ar,
também um sopro de tempo
traz o passado ao presente,
e com ele,
os momentos de alegria
as mágoas
a inquietação
os sentimentos de culpa
e talvez…
…talvez o sábio perdão!

Com o passar dos anos,
pode essa linha do tempo
tentar voar com o vento
e fugir,
ou apenas desvanecer.
Mas uma ponta
é sempre nossa,
como um cordão virtual
umbilical,
que une a vida que nos foi oferecida
com a vida por nós vivida
e aquela que iremos ceder.

Um dia,
em paz ou inquietação.

 

 

(Dulce Delgado, Fevereiro 2018)

 

 

 

a árvore do ano

 

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A maioria das árvores são importantes para o equilíbrio ambiental. Algumas porém são especiais, tendo em conta a sua idade, porte, localização ou história, requerendo por isso atenção redobrada.

Este post é uma espécie de alerta para esse grupo de seres vivos, uma vez que permite que possamos contribuir de uma forma simples para a sua preservação e cuidado. Como? Participando na votação para a Árvore Europeia do Ano (Tree of the Year – Europe), eleição que está a decorrer até ao próximo dia 28 de Fevereiro.

Como é referido no site deste evento, esta votação tem permitido todos os anos consciencializar muitos milhares de pessoas para a natureza, focando a atenção de treze países e de treze comunidades locais para uma causa, neste caso focada na protecção de treze árvores que fazem parte da sua herança natural.

Não se pretende escolher a árvore mais bonita, mas a árvore com a história mais marcante. São portanto treze histórias da natureza que estão a concurso, sendo certo que a do nosso Sobreiro assobiador, o escolhido por Portugal e que vive em Águas de Moura no Alentejo, é uma das mais interessantes. Além de estarmos perante uma magnífica árvore!

Este concurso  tem o patrocínio da Comissão Europeia e é organizado pela Environmental Partnership Association, entidade que engloba seis países (Bulgária, República Checa, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia), todos apoiantes de projectos comunitários locais com o objectivo de proteger o ambiente e de lhes dar melhores meios. Nos últimos vinte anos, esta associação cedeu 10 milhões de euros de financiamento para variados fins.

Por tudo isto e porque as árvores merecem toda a nossa atenção, não custa nada colaborarmos!

 

 

paixão

 

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Perde-se no tempo a paixão das nuvens pela Serra de Sintra, paixão dinâmica e sem pudor que o nosso olhar acompanha quantas vezes extasiado. Ora se abraçam, ora se enroscam, ora dançam… ou se afastam simplesmente e cada qual vive o seu tempo.

Mais fulgurantes nessa paixão são os cumes mais altos e/ou os localizados próximo do Atlântico e do Cabo da Roca, como esta imagem revela. Neste mesmo dia, a zona oriental da serra e oposta a esta, a que abrange o Castelo dos Mouros, o Palácio da Pena ou a Cruz Alta, olhavam livremente para um céu azul e com raríssimas nuvens.

Também na paixão é importante o afastamento… o dar espaço… e o respirar com gratidão!

 

 

 

talvez…

 

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Gosto da sublime ideia de que existe algo, talvez uma energia…talvez uma luz …talvez um anjo…talvez uma estrela…que nos acompanha, protege, alerta e orienta em determinados momentos.

Por vezes estará perto, muito perto de nós; noutros, ficará bem mais longe, apenas a “observar”… um pouco à maneira dos “anjos” do filme As Asas do Desejo de Wim Wenders. Mas gosto de imaginá-los como energias transparentes ou luminosas….

…dissolvidas na luz que entra na janela e inunda uma casa…

…voando na aragem sentida de um vento que não existe…

…na sensação de uma presença ausente…

…naquela forte intuição que nos ajuda a decidir…

…na intranquilidade que nos leva a procurar…

…nas situações de perigo em que um efémero segundo nos salva…

…naquele inexplicável sentimento de alegria…

…na estranha repetição de determinados sinais…

…no inesperado abanão que nos desperta de um adormecimento acordado…

 

Qualquer sentir é discutível, porque é apenas pessoal.

Para alguns de nós, a vivência e a experiência dá a esses sentires determinada explicação; para outros, a explicação estará noutra razão; nos mais cépticos, provavelmente não haverá explicação; e noutros, o sentir nem chega a ser sentido ou a ser razão.

A verdade, é que todos estamos certos.