Falar deste maravilhoso instrumento que são as nossas mãos, é falar de precisão, coordenação, harmonia, perícia, elegância, expressão, sentimento, habilidade e muito, muito mais. Também poderia referir o lado sombra das mãos, mas tal não é relevante para hoje.
Por fazerem parte do nosso corpo são uma forma de nos relacionarmos, de partilhar sensações, de sentir o que nos rodeia, de expressar sentimentos e de materializar as capacidades que nasceram connosco (e com elas!), desde que estejamos dispostos a fazer essa exploração ao longo da vida.
Se uma parte da nossa sensibilidade depende da relação que estabelecemos com os nossos sentidos – relação que pode ser mais ou menos íntima – de certa forma as mãos/tacto são a vertente mais dinâmica dessa relação. Mas todos os sentidos “brincam” e cooperam entre si, em diálogos vividos de uma forma activa e relativamente consciente.
Num músico instrumental, a audição brinca com os sons através das mãos. E estas dançam sobre as teclas de um piano, nas cordas de uma guitarra ou na sensibilidade de qualquer outro instrumento. Hoje, porém, escolho o piano e a guitarra portuguesa, e as mãos da pianista Maria João Pires e do guitarrista Carlos Paredes. Porque neste dia 23 de Julho, a primeira completa setenta e quatro anos de vida e o segundo catorze anos que deixou de estar entre nós.
Dois artistas incríveis, dois lutadores, e quatro fabulosas mãos que encantam os nossos sentidos e a nossa alma.
Como portuguesa, lamento que Maria João Pires desiludida com Portugal e com as suas instituições, tenha saído do país há cerca de uma década, vivendo actualmente no Brasil. Mas a minha admiração por ela não diminuiu.
Dois instrumentos de que gosto e dois artistas extraordinários. Imagino um concerto com estas quatro mãos.
Lamento, como tu, a partida da Maria João. Mas este país tem um historial longo com a partida de artistas, nomeadamente para o Brasil, pelas mais diversas razões. Assim aconteceu com Vieira da Silva nos anos quarenta, Fernando Lemos e Jorge de Sena, nos anos cinquenta e, já em plena democracia no século XXI, com a Maria João.
Desta guardo uma grata recordação em duas cartas manuscritas, na primeira das quais me convidou a visitá-la em Belgais, onde vivia e dirigia o centro cultural, como se fôssemos amigos de longa data.
A maneira genuína e a sensibilidade com que escreveu essas cartas, tocaram-me profundamente. Tenho portanto uma dupla razão para admirar a pessoa que é e a artista que sempre foi.
Agradeço-te este momento que me levou a recuar no tempo e a mergulhar no baú das memórias.
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Poderá este comentário ser o único deste post, mas vale por muitos, porque acrescentaste saber, partilhaste o teu sentir e ainda algo de muito pessoal que eu própria desconhecia.
E que me deixou muito feliz, porque esse teu saber sobre a Maria João é real, as palavras que dela leste e ouviste são reais, e os dados que tens serão bem mais consistentes que os meus.
Ou seja:
Que mais poderia eu querer para complementar a minha admiração pela personalidade desta mulher-artista, desta mulher pequena em dimensão mas com tanta força, sensibilidade e humildade?
Impossível ter aqui mais!
Obrigada Zé, por mais esta partilha.
E…certamente que um concerto com estas quatro mãos seria inesquecível!
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Um belíssimo post, a denotar a sua elevada sensibilidade. Parabéns, Dulce!
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Muito obrigada!
Agradeço as palavras e também a sua sensibilidade na compreensão da “sensibilidade do post”!
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para se escutar e escutar e escutar…extraordinários. belíssimo e muito sensível post. muito obrigado. o meu abraço, Dulce.
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Eu é que agradeço a presença e a atenção dada a estes artistas e senhores destas quatro mãos!
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Hermosa música!
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…saída de mãos de mestres!
Muito obrigada pela presença!
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