Num diálogo impossível, pergunta o pombo:
– Não estás cansado? Não te apetece baixar os braços?
A silenciosa resposta foi:
– Claro que sim…mas não posso! Ainda tenho fé na Humanidade!
………………
Num diálogo impossível, pergunta o pombo:
– Não estás cansado? Não te apetece baixar os braços?
A silenciosa resposta foi:
– Claro que sim…mas não posso! Ainda tenho fé na Humanidade!
………………
Encosta-se o Outono
à minha pele
na fresquidão dos dias…
…e provoca um arrepio!
Depois sorri
com as cócegas desse meu arrepiar…
…gostou de sentir
uma pele a lhe tocar!
Ao ultrapassar a realidade, a imaginação tem algo de mágico e de maravilhoso.
Sem esforço, nessa viagem tudo alcançamos, contornamos e criamos. Os olhos da mente elaboram planos, resolvem situações, alteram comportamentos e criam lugares… por vezes maravilhosos. Certamente que haverá por aí muita imaginação menos prosaica e mais destrutiva que a minha, mas tal não interessa para o tema.
Nos meus sessenta anos de olhares, muitos sobre o céu e as nuvens, foram imensos os momentos que me cativaram e alimentaram a imaginação. Mas nunca encontrara aquele lugar já imaginado, aquele lugar de linhas desenhadas e fluídas… misto de montanha e cidade…uma espécie de mundo paralelo habitado de horizontes e de infinito….
Encontrei esse lugar, recentemente, ao amanhecer.
Estava ali, à espera do meu olhar. Fiquei parada, vidrada e maravilhada. Registei o momento com emoção e depressa percebi a sua efemeridade, porque num dos extremos, o ritmo de dispersão das nuvens era evidente. Minutos depois tudo se alterou e desapareceu. Ele não estava ali só para mim, mas eu estava sensibilizada para o encontrar.
Há momentos na vida em que um detalhe faz toda a diferença.
Por vezes, circunstâncias diversas provocam uma quebra de energia e uma maior dificuldade em manter o habitual positivismo, sendo fácil surgir o sentimento de estarmos a “atraiçoar” a nossa verdadeira natureza. Um sentir um pouco absurdo, porque somos humanos e nada é linear nem igual nesta vida. Mas nesses momentos de maior fragilidade, essa mesma Vida é perita em nos “oferecer” momentos especiais, por vezes absurdos para os outros, mas muito simbólicos para nós. Como foi este, ou outros já ocorridos na minha vida.
Ele significou que…
… não há impossíveis
… não podemos desistir de acreditar/esperar/encontrar
… é importante manter o foco, um “horizonte”, mesmo que o caminho seja por vezes mais complexo
… na altura certa aparecerá algo que nos alerta/ estimula/ questiona e ajuda
… e que é fundamental manter-mo-nos atentos, seja com o olhar, seja com a alma!
Apenas dessa forma as energias que somos e as energias que nos cercam se poderão “alinhar” para nos mostrar de infinitas e estranhas formas aquilo que precisamos de entender/aceitar em determinado momento da nossa Vida.
Por vezes os relógios acordam-nos à hora certa…
Quero um poema
sem tema.
Um poema livre
isento,
sem dilema
ou problema.
Talvez,
um anárquico poema
de palavras sem lema…
…ou,
um não poema
de sílabas
fugidas do sistema.
Sem estratagema.
Então pedi ao e
para se agarrar ao ma,
e num momento de devaneio
construírem um poema…
…singular
…meio louco
…e fora do esquema!
O meu olhar permite-me ver e com ele preencher de imagens os meus dias. É naturalmente sentido como um dado adquirido, a que apenas damos o real valor quando confrontados com a sua falta ou perante situações em que nos apercebemos da realidade de outros que estão impedidos de o ter da mesma forma.
Ver com outros olhos é o título de uma exposição que resultou de uma parceria entre o Movimento de Expressão Fotográfica (MEF) e a Fundação Calouste Gulbenkian através de um projecto associado à arte, no qual foram convidadas pessoas de várias idades e com problemas de visão (amblíopes e cegas totais), para que registassem em imagens algo que tivesse a ver com a sua vida, vivência, percurso, gostos, sonhos, etc. Alguns conseguiram fazê-lo sem ajuda, outros descreveram a sua imagem e construíram-na com o apoio de outros.
Mais do que apostar na criatividade de pessoas com dificuldade de visão, esta exposição aposta na profunda sensibilidade que revelam, quer na escolha de detalhes quer nos pensamentos partilhados e que acompanham as imagens. A exposição é composta por vários módulos baseados em conceitos diferentes.
Todo o espaço expositivo está preparado para ser percorrido e sentido sem o olhar, impondo-se o táctil e o sonoro. Apesar de saber que “Ser cego não é fechar os olhos”, uma das frases que recordo da exposição, em vários momentos tentei agir como se fosse invisual, ou seja, fechei os olhos e senti/ouvi o que me era apresentado. Só posteriormente os abria e confrontava o que tinha percepcionado com a realidade, o que se revelou uma experiência estranha, diferente, mas muitíssimo interessante.
O olhar é uma forma fácil de nos relacionarmos com o mundo. Quem não o tem, desenvolve a “sabedoria dos sentidos” a partir de uma profunda e dorida aprendizagem nascida das dificuldades. E assim constrói um mundo semelhante ao de todos nós e composto igualmente de alegrias, tristezas, sonhos, devaneios, criatividade, paixões e tudo o mais que possamos imaginar. Mas sem facilitismos.
Esta exposição estará patente na Fundação Calouste Gulbenkian (Piso 0), até ao próximo dia 12 de Novembro e tem entrada livre.
Uma onda…
outra…
e outra mais…
muitas ondas…
Linhas deslizantes
que se cruzam
neutralizam
e ultrapassam
no tempo de um olhar.
Desejos fluidos
do mar
nascidos em cada instante,
seja ao longe
na linha do horizonte,
ou aqui,
na beira deste lugar
tão fácil de eu amar!
Uma onda…
outra onda…
Serão as ondas
as mãos do mar
que acariciam a beira-mar?
Numa sociedade predominantemente tecnológica e em que os saberes tradicionais passaram para um segundo plano, prezo saber que na capital do meu país tem havido algum cuidado na preservação desses conhecimentos, sendo certo que qualquer apoio que se associe à vontade, ao esforço e ao investimento dos próprios artífices, é potencialmente positivo.
Se há algum tempo divulguei aqui a iniciativa das Lojas com História, hoje quero referir a Rede de Artes e Ofícios de Lisboa, onde é possível encontrar, por zona da cidade ou ramo de actividade, uma série de profissões que o tempo colocou num segundo plano e que requerem conhecimentos especializados, técnica e sensibilidade. Nesta rede encontramos ofícios de todo o género, assim como os contactos de quem os realiza.
No sentido de divulgar estas actividades, também abriu recentemente o Mercado dos Ofícios do Bairro Alto, iniciativa que resultou de uma parceria entre o Município, a Misericórdia e entidades especializadas em ofícios tradicionais.
Por último, apesar de se situar numa vertente um pouco diferente, não quero deixar de referir os concursos para atribuição de ateliers municipais a baixo custo e com contrato de exploração por quatro anos, um sistema ideal para artistas em início de carreira e com poucos recursos, uma vez que o arrendamento é bastante baixo tendo em conta os altos valores do parque habitacional da capital.
Explorem os links acima e ajudem na sua divulgação.
Na clara evidência dos dias
a vida escorre
em horas sem consciência,
horas
que o tempo leva
fugindo da nossa existência.
Quero tempo,
quero horas, minutos e segundos
limpos
e sem dependência,
quero a vida aproveitar
em pleno
em paz,
e sem sentido de urgência!
Quero tempo…
Voltando a este lugar…
No primeiro post publicado sobre este tema optei por dar informações gerais… no seguinte, o meu olhar percorreu a paisagem a nível do horizonte… e hoje, para concluir, irei centrar-me na beira-mar e nos seus areais, pelo que as imagens serão essencialmente detalhes de uma região que vive do dinamismo das marés.
Entre os extremos destes fluxos passam seis horas e alguns minutos, sendo estes últimos variáveis. É assim neste planeta que habitamos, seja aqui ou em qualquer outro lugar junto ao mar. Em Julho, apesar das marés serem mortas, o facto desta área natural possuir grandes bancos de areia permite sentir bem os seus extremos.
Maré vazia…
Nesse recuo, são variadas as formas que o mar escolhe para se despedir da areia…
Para além dessas aleatórias marcas, ele aproveita os recursos que tem à mão e naturalmente “desenha” na areia suaves linhas ou manchas de maior densidade e visibilidade.
Nesse tempo de aparente paragem o mar permite o descanso das formas, seja em silenciosa solidão ou em caos partilhado…
Algumas horas depois do início da vazante, o calor do sol seca a “pele da areia” fazendo nascer novos grafismos. Por outro lado, aqui e ali, surgem marcas reveladoras da passagem de humanos.
Um segundo…
Será um segundo o tempo que separa o final de uma maré e o início de outra. No relógio. Talvez exista mesmo um período de quietude e de nada, mas à beira-mar esse momento é imperceptível. Porém, com um pouco de imaginação e pela calmaria das águas, vamos supor que seria o instante da imagem que se segue…
Algum tempo depois, a subida das águas começa a ser visível de variadas formas, seja através das pequenas ondas e das espécies que vêm embaladas por esse fluxo…
…seja no efeito de ondas mais activas que fazem surgir bolhas resultantes do ar que entretanto se infiltrara na porosidade da areia.
Em zonas de ria, em que os fluxos são mais passivos, a subida da maré pode ser acompanhada pelo contínuo arrastamento de finas placas de areia na superfície liquida…como pequenas nuvens em andamento que vão projectando a sua sombra no fundo arenoso…
E assim, ao ritmo da terra, da lua e do mar, a maré vai tranquilamente enchendo. E depois voltará a baixar, sem cansaço nem atrasos.
Enquanto isto… maré após maré…dia após dia…talvez todos os dias do ano…
…na areia seca, as carochas deambulavam sem parar, de declive em declive, até o meu olhar as perder de vista.
Que procuram?… Para onde vão?… Encontrarão a família?…
Mas a carocha da imagem seguinte era especial e determinada. Por isso termino o post com a sua companhia.
Subia…e caía…subia e voltava a cair…e subia e caía novamente…
E ali ficou, naquela luta, insistindo, na tentativa de chegar a algo….
Senti-a tão humana e tão parecida connosco!!