ria formosa III

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Voltando a este lugar…

No primeiro post publicado sobre este tema optei por dar informações gerais… no seguinte, o meu olhar percorreu a paisagem a nível do horizonte… e hoje, para concluir, irei centrar-me na beira-mar e nos seus areais, pelo que as imagens serão essencialmente detalhes de uma região que vive do dinamismo das marés.

Entre os extremos destes fluxos passam seis horas e alguns minutos, sendo estes últimos variáveis. É assim neste planeta que habitamos, seja aqui ou em qualquer outro lugar junto ao mar. Em Julho, apesar das marés serem mortas, o facto desta área natural possuir grandes bancos de areia permite sentir bem os seus extremos.

Maré vazia…

Nesse recuo, são variadas as formas que o mar escolhe para se despedir da areia…

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Para além dessas aleatórias marcas, ele aproveita os recursos que tem à mão e naturalmente “desenha” na areia suaves linhas ou manchas de maior densidade e visibilidade.

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Nesse tempo de aparente paragem o mar permite o descanso das formas, seja em silenciosa solidão ou em caos partilhado…

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Algumas horas depois do início da vazante, o calor do sol seca a “pele da areia” fazendo nascer novos grafismos. Por outro lado, aqui e ali, surgem marcas reveladoras da passagem de humanos.

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Um segundo…

Será um segundo o tempo que separa o final de uma maré e o início de outra. No relógio. Talvez exista mesmo um período de quietude e de nada, mas à beira-mar esse momento é imperceptível. Porém, com um pouco de imaginação e pela calmaria das águas, vamos supor que seria o instante da imagem que se segue…

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Algum tempo depois, a subida das águas começa a ser visível de variadas formas, seja através das pequenas ondas e das espécies que vêm embaladas por esse fluxo…

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…seja no efeito de ondas mais activas que fazem surgir bolhas resultantes do ar que entretanto se infiltrara na porosidade da areia.

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Em zonas de ria, em que os fluxos são mais passivos, a subida da maré pode ser acompanhada pelo contínuo arrastamento de finas placas de areia na superfície liquida…como pequenas nuvens em andamento que vão projectando a sua sombra no fundo arenoso…

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E assim, ao ritmo da terra, da lua e do mar, a maré vai tranquilamente enchendo. E depois voltará a baixar, sem cansaço nem atrasos.

Enquanto isto… maré após maré…dia após dia…talvez todos os dias do ano…

…na areia seca, as carochas deambulavam sem parar, de declive em declive, até o meu olhar as perder de vista.

Que procuram?… Para onde vão?… Encontrarão a família?…

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Mas a carocha da imagem seguinte era especial e determinada. Por isso termino o post com a sua companhia.

Subia…e caía…subia e voltava a cair…e subia e caía novamente…

E ali ficou, naquela luta, insistindo, na tentativa de chegar a algo….

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Senti-a tão humana e tão parecida connosco!!

(Dulce Delgado, Outubro 2018)

14 thoughts on “ria formosa III

  1. Depois dos guias e roteiros, das descrições, do olhar atento, da poesia e do sentir, pouco mais falta a não ser, talvez, uma viagem pelo céu. Aqui vai …

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    1. Este vídeo é realmente um belíssimo complemento para esta série de três posts sobre a Ria Formosa. Ele abrange cerca de metade deste espaço natural, mas permite ter uma ideia da imensidão e das paisagens que o formam.
      E nestes minutos foi possível rever muitos dos locais/praias visitadas e espaços percorridos.
      Muito obrigada!

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  2. Aí Dulce, como sempre, os seus posts são magníficos!
    Estes, em especial, me tocam bastante e me recordam de tempos antigos. Durante muitos anos passava férias em Tavira, no parque de campismo, e tudo isto que a Dulce descreve é-me tão presente. O percorrer daqueles areais até à praia do Barril, passando por Santa Luzia… Lembro-me de ter percorrido aquela zona toda da Ria Formosa. Tenho uma ligação muito especial a Tavira e à cidade em si, marcou muito a minha adolescência.
    Toda esta forma como descreve, todo este ambiente, faz-me sentir que estou de novo lá, faz-me querer voltar… (até o detalhe da carocha!).
    Parabéns.

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    1. Obrigada Irina, agradeço muito as suas sentidas palavras.
      Fico satisfeita por ter proporcionado essa viagem no tempo e o rever deste espaço natural.
      A Ria Formosa e Tavira esperam-na um dia destes para renovar esse sentir….basta descer até ao sul..
      Bj

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  3. eis uma série que encanta pela delicadeza de cada momento em que a natureza cria sua própria arte e quem a viveu como você soube acolher em toda sua dimensão. e, como um presente, trouxe parte da minha infância, quando a praia aqui no sul do Brasil, ainda era deserta, e olhava esses movimentos todos. você e sua sensibilidade deram vida à vida. um magnífico post. o meu abraço.

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    1. Ainda bem que apreciou o post e que ele permitiu essa viagem a memórias da infância e a detalhes semelhantes a outros já vistos.
      Não foi fácil seleccionar estas imagens porque foram tantas as que tirei. A beira-mar encanta-me completamente! Algo que também vem da minha infância passada no sul de Portugal.
      Muito obrigada pelo comentário!

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    1. Esta imagens, como tantas outras na natureza e no ambiente que nos rodeiam, são apenas detalhes de um olhar mais amplo. Por vezes esquece-mo-nos desses detalhes, porque o olhar apressado passa ao lado e segue para objectivos mais “chamativos” e visíveis.
      O que me agrada nelas é o facto de serem imagens passiveis de imensas leituras. Eu apenas lhes dei uma, a que precisava para a minha história.
      E por isso concordo com essa ideia de infinito…de tudo o que está para além de…
      Obrigada Cristileine, pela presença e pelo sentir!

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  4. Gostei muito da simbiose das palavras e imagens que acompanham o texto!
    A ria é um dos tesouros portugueses 🙂

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