a janela

 

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“Dulce, vem … rápido… e traz a máquina!”

E eu fui, sempre pronta para a surpresa.

Pousado no exterior da janela estava este bonito insecto “pedindo” uma fotografia. Em dois cliques concretizei o intento e, em breve, ele seguiu a sua vida. E eu a minha, feliz com a “captura” e certa que teria que saber um pouco mais sobre ele, o que fiz oportunamente junto de quem poderia esclarecer a minha curiosidade.

Sendo uma apaixonada por insectos, a minha amiga bióloga olhou para esta imagem e em breve me disse que deveria pertencer à ordem Neuroptera. Uma rápida busca pela internet levou a integra-la na família Chrysopidae e pouco depois a associá-la, com alguma certeza, à espécie Pseudomallada prasinus (Burmeister, 1839).

Fiquei feliz por conhecer o nome deste elegante ser de aspecto frágil e asas rendilhadas que decidiu pousar na minha janela. Entretanto, a conversa continuou…

Dizia-me ela que a Neuroptera é uma ordem pouco estudada porque não tem grande interesse científico. A sua existência nada implica de bom ou de mau para o homem ou para a natureza, uma vez que as espécies que a integram não são nocivas nem benignas.

Isto significa que, por exemplo, não são nocivas como os mosquitos que provocam doenças como a malária e dengue, ou como as vespas e gafanhotos que podem ser bastante prejudiciais na natureza; e também não são benignas como as abelhas ou borboletas, fundamentais para a polinização, ou como as joaninhas, que são excelentes controladoras de pragas.

São, pois, uns insectos relativamente neutros e inofensivos, que andam por aí servindo essencialmente de alimento a outras espécies.

E no meu pensamento algumas relações…

Neste mundo, grande parte dos recursos disponíveis são orientados no controle do que é “mau” ou no incremento do que é “bom”, termos que são sempre bastante relativos como todos sabemos. No primeiro caso poderemos incluir as acções que fragilizam a sociedade, como a corrupção, o roubo, a agressão, o crime, as doenças, etc. No segundo,  acções como a solidariedade, a educação, a investigação ou a cultura.

Teoricamente resta um “espaço” intermédio de acções que não se encaixam nestes extremos…que contribuem para a sociedade com uma certa neutralidade e que estão associados a gente comum e algo invisível, mas…

…que não “agride” ninguém…

…está atenta aos outros…

…vive o dia-a-dia com simplicidade…

…reage perante a complexidade…

…encara a dinâmica das emoções sem interferir com os demais…

…que sabe apreciar, à sua maneira, os momentos e as “janela” que a vida lhe vai proporcionando…

…talvez como eu…

…talvez como tu…

…talvez como os insectos da espécie Pseudomallada prasinus que andam por aí voando sem grande objectivo a não ser viver…

…existir…

…dar um toque de beleza à vida, à natureza e às nossas janelas…

…até ao dia em que, de uma forma natural mas sempre inesperada, o seu ciclo terminará num “último voo” no bico de um gigante Pássaro…

 

Estarei muito errada?

 

 

(Obrigada Lília!)

 

 

 

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13 thoughts on “a janela

  1. Que delícia degustar de uma leitura tão apetitosa numa bela manhã de sexta! Obrigado por compartilhar teus pensamentos por trás da janela… se estiver muito errada, estamos no caminho certo pois passeio por estas trilhas. Tenha um fim de semana iluminado! Beijo no coração

    Liked by 1 person

    1. Fico feliz quando os meus pensamentos contribuem para um bom começo de dia… neste lugar onde me “encaixo” e onde tento aproveitar os momentos e as surpresas da vida.
      Muito obrigada pelo simpático comentário e votos de um tranquilo domingo!

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  2. Que post tão interessante! Já aprendi muito com o que escreveste 🙂 E esse paralelismo com a vida humana está certeiro… Beijinho grande e obrigada pela aprendizagem ❤

    Liked by 2 people

    1. Estás sempre a aprender comigo, minha filha!!!
      Mas neste caso… também eu aprendi, não só com o que me foi dito mas igualmente com as relações surgidas no meu pensamento. E ao partilhar isso, todos ganhamos!
      Bj e obrigada!

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      1. “A sua existência nada implica de bom ou de mau para o homem ou para a natureza”. Peguei esse trecho para definir o bichinho como “Suíça voadora”. No Brasil, acho que no mundo, aquele país tem fama de neutro, nem bom nem mau.

        Liked by 1 person

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