Em Setembro de 2016 partilhei um post sobre o almanaque Borda d’Água, folheto anual publicado em Portugal pela Editorial Minerva. Ele nasceu dois anos depois da editora e transmite um saber simples, ligado à terra e à agricultura, ao céu, aos astros e às estações do ano, à história, ao mundo cristão e ainda à cultura popular.
Amiúde o meu olhar passa sobre a folha do mês em curso a fim de saber algo mais sobre a “história” e acontecimentos do dia. Hoje porém, ao verificar que a editora que o publica nasceu a 2 de Junho de 1927, o que significa que completa 92 anos de vida, associei de imediato esse evento à minha progenitora e à idade que ela teria se estivesse viva, uma vez que nasceu nesse mesmo ano.
A minha mãe tinha o saber adquirido enquanto estudante, mas guardava um saber bem maior, mais popular e fruto da simplicidade do meio em que nasceu e cresceu. Como apreciadora da natureza em todas as suas versões, sabia identificar a maioria das flores e de muitas plantas, saber talvez aprendido com o seu pai (e meu avô), um homem que sempre teve uma pequena horta ou um jardim para cultivar e zelar.
Minha mãe também entendia a meteorologia de uma forma muito empírica mas assertiva. Se o vento estava assim… tinha um significado; se estava de além…implicava outra coisa; se as nuvens apareciam naquele lado ou se a lua tomava determinado aspecto, era outra coisa qualquer; e assim por diante. E naturalmente associava ao seu próprio conhecimento saberes populares e provérbios que depois partilhava nas mais diversas situações.
Hoje percebi que o meu gesto quase diário de deitar o olhar sobre este almanaque que a Editorial Minerva insiste heroicamente em publicar num tempo em que o “saber” se adquire pela internet é, de certa modo, um olhar sobre as raízes que me deram origem, e talvez, uma forma inconsciente de encontrar um pouco da minha mãe, da sua sensibilidade e de uma sabedoria que muito me encantava e que tantas vezes me levou a pensar “como é que ela sabe estas coisas todas?”
Um olhar ternurento sobre ela e o passado, leva-me sempre a senti-la como alguém muito especial… mas igualmente como um pequeno “almanaque humano”, uma espécie de Borda d’Água com coração!
Neste dia, longa vida à Editorial Minerva e ao seu delicioso Borda d’Água!
Eu tb gostava de ler o Borda d’Agua, e pensava q já não o publicavam.
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Este almanaque é um resistente! E a Editora uma instituição de louvar por manter a sua publicação neste digital séc. XXI.
Obrigada pela presença!
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Que sorte em teres ouvido esses ‘ensinamentos’ da avó 🙂 Belo post! Para mim o Borda d’Água também era um clássico aí em casa… Que continue por muitos mais anos!
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Esta mãe também te dá alguns desses “ensinamentos”…e tu dás-me outros!
O Borda d’ Água foi e será sempre um clássico lá em casa…enquanto ele for editado…ou eu viver!!
Bjs e obrigada!
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Desconhecia o Borda d’Água e a história associada, no entanto acho fantástico que insistam em fazer-se perdurar no tempo. São estas relíquias que compõem o nosso imaginário mais fértil, desde crianças 🙂
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Sendo o Miguel um lisboeta, talvez a região mais fácil para encontrar um Borda d´Água, aconselho-o a comprar um. O preço é irrisório e vai ver que, não só aprende muita coisa como também se vai rir com muitas coisas curiosas que lá encontra, mesmo que possam parecer absurdas a quem é ainda tão novo e vive nesta era digital.
Além disso, sendo o Miguel um viajante… garanto que adquirir este almanaque é uma curiosa “viagem”, desde o início!
Grata pela presença e pelo comentário.
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Vou seguir o conselho 🙂
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Eu tenho um grande respeito por esse tipo de conhecimento. Nós temos algo chamado “O Almanaque do Fazendeiro” que é um pouco parecido com isto, mas o seu almanaque tem um sentimento mais quente. Eu amo a história de como ele te traz de volta para sua mãe.
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This popular and genuine knowledge has the power of earth and nature. Maybe that’s why I consider it so important and something to preserve.
Thanks for the comment and for appreciating the post.
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Não conheço “Borda d’ Água” mas me encantei com seu post e a relação com a sabedoria de sua mãe. Obrigada por compartilhar. Beijos.
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Quando algo é escrito com uma “maior percentagem” de afecto, o resultado será mais emotivo e é possível que toque mais nos outros.
Este post foi um desses ternos momentos.
Muito obrigada por comentar!
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