o cata-vento

 

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Irrequieto,
o vento
fustiga o cata-vento,
que roda loucamente
sem parar.

Pára!
Pede o galo
do alto do cata-vento,
estou tonto,
cansado
sem norte
e farto desta sorte!

Porquê?
pergunta o vento,
num rodopio
sonoro e menos turbulento…

Porque…
não canto
não voo
não acordo ninguém
não tenho par
nem um quintal onde reinar!
E estou preso
nesta alma de metal,
fria e intemporal!

Mais calmo,
o vento soprou
com ternura
e ecoou…

Puro engano
meu amigo!

Tu és norte,
orientação,
e o corpo que me dá voz.
És o vento que o olhar mais simples
compreende,
linguagem universal
clara e sem igual.

Não voas
é certo,
mas desse lugar
podes ver mais mundo
e horizonte que muitos
a voar.

O teu “quintal” é vasto
aprecia-o com alegria.
E voa,
quando quiseres
e disso precisares.

Basta sentires
o meu afagar em teu corpo
com emoção,
ou a minha loucura
sem razão,
e  terás penas
e asas
e voos de imaginação!

Se este é o teu lugar
e destino,
não vires as costas
ao sopro que te dá vida,
sente-o simplesmente
guiando a emoção
para junto do coração!

 

(Dulce Delgado, Junho 2019)

 

 

15 thoughts on “o cata-vento

  1. sabe, moro em um condomínio cujo nome é Solar dos Cataventos, homenagem a uma poesia do Mário Quintana e agora ao ler a tua poesia fico feliz em ter novas palavras e novos sentidos, tão doces quantos as do nosso poeta. belíssimo e inspirador. receba o meu abraço.

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    1. E esse solar de poesia e de vento oferece ao olhar algum catavento a rodar? Com ou sem galo?
      Muito obrigada por partilhar esse sentir e de ter apreciado este meu imaginar.
      Desejo um dia tranquilo e sempre sentindo que algo vai recuperando no seu corpo.

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      1. não, infelizmente porém, possui uma placa com a poesia do Mário. é sempre um alento encontrar poesia assim. (estou aos poucos me recuperando fisicamente, a questão clínica começa semana que vem com exames mais específicos. vamos ver!) muito obrigado. feliz dia!!

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    1. Quem sabe se esta história de ventos e cata-ventos não terá uma sequela um dia destes?
      Depende de como o galo se portar…
      Obrigada Fernanda por aparecer e apreciar!

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    1. Diria que a ideia deste poema é exactamente essa, a de valorizarmos o que somos e de certa forma, também o que temos. Porque o que “temos/somos” provavelmente já é bastante, ou pelo menos suficiente para que não nos sintamos infelizes
      Muito obrigada!

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