olhares

 

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Para além dos genes, o que de nós se prolonga em nossos filhos é sempre uma incógnita. Se os primeiros são responsáveis por um detalhe fisionómico, pela cor dos olhos ou por um trejeito, será a educação ou a vivência em comum durante o seu crescimento que estarão na origem daquilo que, não sendo visível ao olhar, é bem real no estar.

Há poucos dias a minha filha enviou-me uma imagem com um detalhe da sua casa que a sensibilizou. Nesta fotografia, uma das folhas de um grande feto descansa tranquilamente sobre o monitor do computador. A cor e a elegância das folhas em contraste com os restantes elementos presentes concedem uma beleza especial a esta imagem, harmonia que ela se apercebeu com o seu olho clínico e sentido estético, e que também me encantou quando recebi a fotografia.

O meu primeiro pensamento foi “é mesmo minha filha!”, pensamento que surgiu acompanhado de uma imensa ternura e logo complementado por divagações colaterais…

…os meus filhos nasceram e crescerem numa casa com muitas plantas. Quando a minha filha começou a andar tinha alguma tendência para ir mexer na terra dos vasos e nas plantas e pontualmente a fazer asneira. Nessa altura ensinei-a a fazer-lhes “festinhas” com carinho, atitude que foi integrada e que se foi entranhando na sua sensibilidade. Hoje ela tem uma casa com imensas plantas que trata zelosamente e as plantas gostam tanto de estar com ela como sempre gostaram de estar comigo.

Pela vivência e educação acredito que lhe transmiti isso. Não é genético, mas algo que era meu e hoje também é dela. Daí o meu doce sentir quando ela me enviou esta fotografia.

Porém, esta imagem não me sensibilizou apenas pela linguagem estética ou pelas emoções maternais que despertou, mas igualmente pelo simbolismo que tem associado. Na verdade, gosto da ideia de ver a natureza coabitar em harmonia com a tecnologia. Cada uma no seu lugar, sem agredir nem interferir no espaço da outra. Aqui, elas apenas se tocam…com suavidade…com respeito…

Eu sei que este sentir não passa de uma pequena utopia efémera… e caseira. Contudo, absolutamente nada me impede de levar a imaginação por aí!

Desejo um tranquilo fim-de-semana!

 

(Fotografia de Diana Oliveira)

 

 

 

água vida

 

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Meses depois, a chuva, a humidade e os dias cinzentos regressaram a uma boa parte deste Portugal sedento. Como ela é bem-vinda!

As nossas barragens estão em níveis mínimos e nunca vistos, e os rios acompanham assustadoramente essa escassez. Por isso seria bom que esta chuva permanecesse bastante tempo entre nós, para se entranhar nos solos, torná-los produtivos e simultaneamente alimentar os lençóis freáticos e aquíferos vitais para a vida de todos e para o equilíbrio da natureza.

Acreditemos nessa possibilidade.

Contudo, acreditar não basta, porque precisamos de ser pro-activos na nossa relação com a água. Todos os dias.

Em minha casa, tudo fazemos diariamente para poupar esse bem essencial. Para além das acções habitualmente divulgadas, refiro três gestos menos comuns:

– as garrafas de plástico cheias de água que ocupam há muito tempo uma parte do reservatório dos autoclismos, diminuindo a quantidade de água potável que vai em cada descarga para a sanita;

– a recolha sistemática para um balde de toda a água fria que sai da torneira da banheira até chegar a quente;

– a recolha da água de lavagens de legumes e fruta, ou de alguma roupa ou louça lavada manualmente.

Na prática, são cerca de três baldes de água que recolhemos diariamente e que substituem várias descargas simples de autoclismo. No fim do mês, esses gestos reflectem-se na conta a pagar e são uma pequena ajuda para o planeta.

Muitos dirão “que chatice, isso dá trabalho e não adianta nada!”

E eu convictamente respondo: estes gestos não dão trabalho, porque rapidamente se tornam rotina. Apenas exigem uma vontade genuína em preservarmos um bem maior e vital desta terra que nos acolhe.

Se formos muitos a fazer algo semelhante, estamos a contribuir objectivamente e não apenas com palavras para uma causa maior. Pensem nisso.

 

Entretanto,  desejo a todos um bom fim-de-semana!

 

 

 

 

 

esquecida mente

 

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Para um estranho recanto da mente
foge aquele nome
ideia
ou palavra
não presente.

Hábeis e sorrateiras
espreitam
e fazem cócegas ao pensar,
tocam a nossa pele…
…e debaixo da língua parecem estar!

Raramente aparecem
no desejado momento,
mas depois
e de repente,
quando a nossa esquecida mente
relaxar…

…e nelas já não pensar!

 

(Dulce Delgado, Outubro 2019)

 

 

 

 

ponto de luz

 

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Lisboa é apenas um ponto neste mundo.

Um ponto de um mundo simultaneamente belo e cheio de absurdos, de um mundo gerido por alguns leaders voluntariosos, perigosos, que não respeitam acordos assinados, sem noção dos efeitos das suas acções e com uma evidente falta de bom senso.

Entretanto o sol continua a nascer todos os dias.

Eu tenho a felicidade e o privilégio de tranquilamente poder apreciar esse momento neste ponto do mundo, no meu país, em segurança e em paz.

Muitos não.

 

(Lisboa, hoje)

 

 

 

 

entre libélulas

 

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Em voos rápidos
e aleatórios pelo ar,
elas voam sobre a água
ao som
do fresco murmurejar.

A seu lado
voa o meu olhar,
atraído pelas cores metalizadas
e transparência fluída
das suas asas.

Com  libélulas
no ar,
é tão leve
e fácil
voar neste lugar!

 

 

(Dulce Delgado, Outubro 2019)

 

 

 

 

texturas e detalhes

 

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Nos primeiros dias de Setembro voltamos à Costa Vicentina para usufruir de umas curtas férias. Esta região de Portugal é um lugar de tranquilidade e de imensos olhares, seja o mais amplo que facilmente se envolve nas neblinas locais ou aquele mais minucioso que encontra magníficos detalhes/texturas resultantes da acção do tempo e dos elementos naturais sobre este solo que pisamos.

Restringimos os dias disponíveis a quatro praias, sendo as imagens aqui publicadas captadas unicamente nas Praias de Odeceixe, Vale dos Homens, Carreagem e Amoreira, um troço de pouco mais de 10 Km da costa oeste do Algarve e uma pequena parte dos 130/140 Km do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

A maré vazia em praias que perderam alguma areia nos últimos anos facilitou o acesso a zonas rochosas de grande personalidade. Geologicamente é uma área muito rica, mas a minha ignorância e a complexidade dessa matéria não me permitem complementar este post com dados mais científicos como gostaria. Será por isso uma apreciação puramente visual, emocional e centrada nas texturas encontradas.

 

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Em toda esta área os veios de quartzo “decoram” as rochas de forma diferenciada e quase incompreensível para a nossa mente limitada no tempo. São milhões de anos de história desenhada que está ali perante o nosso olhar em resultado das movimentações dos solos e dos seus sedimentos, de infiltrações, de compactações e, especialmente, de muita, muita erosão.

 

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A interacção da água do mar com a areia, algo que sempre me fascina, cria verdadeiras obras de arte ao ar livre.

 

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A par desta natureza-artista instalou-se a natureza-vida sob muitas e diferentes formas. Mexilhões, lapas/cracas, ouriços e caracóis do mar, caranguejos, camarões, anémonas, algas, musgos, peixes, etc. assumem um papel importante no equilíbrio do ecossistema e deliciam qualquer olhar, mesmo o mais distraído.

 

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Mas a natureza é mestra nas mensagens que silenciosamente nos revela, mensagens que quer eu quer a minha imaginação apreciamos deveras descobrir.

Seguindo esse pensar, diria que a fotografia que se segue (e última deste post) encerra uma dessas mensagens. De uma forma muito simples a natureza diz-nos que o equilíbrio é possível através da diversidade e que em paz se pode viver lado a lado com a diferença, seja ela a que nível for.

Algo que muitos de nós no geral e alguns em particular, sobretudo alguns “leaders” deste mundo,  ainda não entenderam verdadeiramente.

 

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Termino, assegurando que este é realmente um belo recanto de Portugal, especialmente para os apreciadores de tranquilidade, de texturas e de detalhes!

 

 

 

 

 

outubro

 

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Este primeiro dia de Outubro, a que associamos em Portugal o Dia Nacional da Música e o Dia Nacional da Água, nasceu estranhamente bonito sobre a cidade de Lisboa.

Porque as imagens também têm música, partilho estas fotos tiradas com poucos minutos de intervalo e em lugares diferentes, mas ambas junto às águas do Tejo e ao som silencioso de um andamento musical proporcionado por esta luz e tonalidades.

A água é vital, tal como é vital a “música” que os nossos sentidos encontram no recanto dos dias!