experimentações #31

Em 2003 concretizamos durante duas semanas uma muito ansiada viagem à Irlanda. Sendo algo fortemente desejado, vivido e sentido pelos dois, o livro que daí resultou foi em parceria, ou seja um registo com características algo diferentes dos anteriores já partilhados. A meu cargo ficou a descrição geral da viagem e a parte gráfica, escrevendo o Jorge pontualmente a sua versão/comentário a determinados momentos ou situações.

No final tínhamos o nosso livro, o único realizado em conjunto. Mas aquela viagem, que exigiu muito tempo de preparação pelos recursos envolvidos e que no final foi tão gratificante, merecia transformar-se numa recordação especial e palpável para toda a Vida.

Seguem-se algumas páginas das quase cinquenta folhas que ele engloba.

Este album foi, é e sempre será um recanto inesquecível e muito querido para nós!

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incompreensível

Não, esta imagem não é do dia de hoje, mas simbolicamente ela representa muito bem o negrume, a dor e a tristeza que hoje se instalou na vida de um povo, na dinâmica de um país e, indirectamente, em todos os povos e países que respeitam a liberdade, a democracia e a independência.

Sou por norma positiva, pacífica e respeitadora do espaço/ideias dos outros. Hoje porém, não sei onde está essa Dulce, pois apenas encontro uma Dulce profundamente revoltada, incrédula, com uma angústia a que não estou habituada e com perguntas prementes no pensamento:

Até onde irá esta absurda e revoltante invasão da Ucrânia?

E o que irá realmente este dia significar na vida de todos nós?

a vida acontece

Pelo doce-amargo dos dias
a vida acontece,
sorrateira…

…entre instantes de atenção e indiferença
emoções inócuas ou intensas
palavras imensas
silêncios
e pensamentos
profundos ou efémeros.

Amiúde respiramos
sem sentir esse ar
sem compreender o coração
ou o que nos dá o olhar.

Mas a Vida acontece…

…a cada instante e em cada inspirar,
até ao dia em que nos deixará
sem aviso
sem volta
nem hipótese de contestar.

Simplesmente,
irá.

(…quem sabe……..talvez um dia voltemos mais conscientes do “estar” e atentos ao “respirar”…)

pela chuva…

Sem querer entrar no campo da religião, matéria em que sou bastante neutral, acho muito curioso o facto da igreja, neste caso a católica ter santos associados a tudo e a mais alguma coisa.

Esta manhã, ao olhar para o Almanaque Borda D’Água verifiquei que ontem foi o dia de “Santa Escolástica, dispensadora da chuva”. Para além do nome ser deveras curioso, fui investigar e, segundo li, esta santa implorou uma tempestade com chuva para que o seu irmão – S. Bento – com quem se encontrava apenas uma vez por ano, fosse impedido de seguir caminho e pudessem ficar mais tempo a conversar. Em resultado desse pedido a chuva veio tempestuosa e eles conversaram toda a noite.

A partir daí, Santa Escolástica ficou associada a este evento.

Portugal e Espanha (para além de muitas outras regiões) estão a sofrer uma enorme e preocupante seca, sendo este um tema que está muito presente na mente e nas conversas dos seus habitantes.

Por ser um assunto demasiado sério, todas as abordagens e invocações são permitidas pelo que, fazendo um pouco de humor em dia de sexta-feira, creio que não fará mal pedir aos portugueses e aos espanhóis que recorram a toda a sua concentração e energia, e implorem à referida santa que distribua uma boa chuvinha por aqui e por todos os locais com forte carência de água.

Apesar do dia que lhe é dedicado ter sido ontem, 10 de Fevereiro…pode ser que se mantenha atenta e nos ouça se formos muitos. Nunca se sabe, não é?🤞

Com ou sem chuva, desejo a todos um tranquilo fim-de-semana!

reencontro

Ao iniciar mais um período de amadurecimento dos seus frutos, esta nespereira informa silenciosamente os que habitam ou trabalham por perto que passou mais um ano na Vida de todos nós.

Esse cíclico frutificar atrai muitas aves, sendo presença certa os barulhentos e assustadiços Periquitos-de-colar (Psittacula krameri) que diariamente a visitam em busca de nêsperas “prontas-a-comer”…não sei se como prato principal ou apenas como uma deliciosa sobremesa.

Na maioria das vezes o simples e cuidadoso gesto de abrir a janela para os fotografar é suficiente para logo fugirem. Aliás, creio que há alguns anos eram bem mais tranquilos e menos assustadiços, o que facilitava esse objectivo. Quem sabe…talvez o constante stress da vida citadina os tenha levado a reagir com mais medo e maior nervosismo…

Este exemplar, apesar de desconfiado, permitiu-me fazer os registos que hoje partilho. E eu agradeci-lhe no final, com o desejo sincero que nos possamos rever e reencontrar no próximo ano!

Entretanto mudou de ramo…

Olhou para a janela desconfiado…ou talvez a se despedir…

…e depois fugiu!

Foi simpático!👍

beleza do envelhecer

Tudo o que é natural tem uma beleza muito própria.

Sendo o envelhecimento um processo de transformação natural possui igualmente a sua beleza, algo que se manifesta de uma forma díspar e eclética relativamente ao conceito comum de beleza.

Em nós, talvez se manifeste de uma forma predominantemente anímica, interior e associada a um sentir mais relativizado e condescendente, já que exteriormente o espelho é especialista em nos mostrar aqueles detalhes que nem sempre nos apetece apreciar com um olhar conivente. De uma forma geral, diria que a alma é mais cúmplice com o envelhecimento do que propriamente o corpo.

Na natureza, por sua vez, a passagem do tempo pode ser extremamente bela, ou não tenha as estações de fim de ciclo – o Outono e o Inverno – uma beleza singular e bem perceptível, seja num olhar amplo ou mais detalhado.

Há alguns dias…

…ao tratar das minhas plantas retirei duas folhas meio secas e, quando as ia deitar fora fui atraída por alguns detalhes que logo percebi possuírem uma beleza especial. É claro que essas folhas seguiram outro caminho e horas depois estava a apreciá-las com um olhar mais sensível e fotográfico, sendo as imagens de hoje, o resultado desse inesperado encontro.

No momento em que as fotografava, surgiu-me um pensamento curioso: estando aquela planta em minha casa há mais de duas décadas e se anualmente sempre há folhas que secam e que corto… quantas possibilidades houve deste “encontro” já ter sucedido?

Extrapolando para um campo mais vasto, diria que também na Vida há situações e encontros aparentemente inconsequentes que se vão repetindo e repetindo, até ao dia em que estamos “capazes” de os ver, entender, apreciar, valorizar e finalmente compreender que têm potencial e são importantes. Creio, por tudo isto, que quase tudo tem um tempo certo na nossa Vida.

Termino, voltando ao tema inicial e à “beleza” do envelhecer…

…estou a gostar deste “estado de alerta” mais apurado que o processo de envelhecer me vai dando e dos detalhes que este olhar vai encontrando!

(Algumas das imagens não estão devidamente focadas, mas não as rejeitei porque apesar de não valorizarem as texturas, sempre possibilitam ver o jogo de tonalidades, formas, limites, etc. )