
Num recanto da cidade
um estendal…
…e uma branca camisa
em sonhos de liberdade!
Ora enfuna com o ar
e na vontade de voar…
ora na corda se enrola
esgotada de tanto lutar.
Na rotina dos dias
o desalento é total,
usada
e depois despida,
na roupa suja é metida
numa indiferença brutal.
Se a lavagem é desventura,
pior é a tortura
dum ferro quente a passar
percorrendo o seu corpo
para os vincos alisar.
Sucedem os dias difíceis
e nada de bom acontece,
até o tal sonho,
gasto de tão usado
em dor se desvanece.
Um dia…
…estando presa no estendal
um fortíssimo vento norte
faz renascer a esperança,
pois nas molas sentiu desnorte
e na corda insegurança.
Uma rajada maior
liberta-a
daquele lugar,
começando ofegante
numa aventura invulgar.
Como um balão insuflado
voou feliz pelo ar,
e quando longe chegou
viu-se com riso e espanto
uma manga a acenar!