pequenas invasões

Desde ontem, em consequência da passagem da depressão Célia, assistimos à invasão de uma nuvem poluída e de cor alaranjada proveniente do norte de África formada por finas poeiras em suspensão. Um estranho “filtro” que se interpôs no exterior entre o nosso olhar e tudo o que ele abrange.

Num campo totalmente diferente, outra invasão aconteceu recentemente no terminal de Alcântara do Porto de Lisboa, quando o vimos ser ocupado por quatro gruas gigantescas de origem japonesa, as quais, segundo li, são o supra sumo em tecnologia. Além disso, o seu tamanho e funcionalidades irão permitir a atracagem de navios porta-contentores igualmente gigantes, o que até aqui não sucedia.

Isto significa que a partir de agora, o olhar de quem habita e/ou trabalha naquela área da capital e desfrutava de vista para o rio foi violado por estes quatro monstros que, em certos ângulos, abafam totalmente a bela ponte 25 de Abril. Pessoalmente, deixei de ter a sua elegância no meu olhar e passei a ter umas descomunais estruturas vermelhas e brancas que ainda não consigo aceitar. E como eu, tantos outros sentirão certamente o mesmo.

Relacionando tudo isto….

…a invasão deste respirar poluído foi por momentos metaforicamente sentida como a “materialização” da “nuvem” que se abateu ultimamente sobre a energia do mundo, algo que a minha esperança precisa de acreditar que terá um fim em breve… tal como a poeira do deserto desaparecerá e dará lugar a um bonito céu azul;

…mas nada diz a minha esperança sobre a invasão das gruas-monstros, que ficarão para sempre como intrusos na “alma” desta zona ribeirinha de Lisboa. De um dia para o outro, a minha e muitas janelas foram amputadas de uma vista que me encantava todos os dias há quarenta e um anos. E sinto-me triste por isso.

Numa época em que a palavra “invasão” assombra as nossas mentes e transformou o tempo que habitamos, este post é apenas um conjunto de pequenos detalhes e emoções associadas a essa palavra que infelizmente reentrou em força no nosso vocabulário pelas piores razões. Porém, também ficará associada a uma grande “invasão de solidariedade”!

Diria, para terminar, que ele se centra nas pequenas “invasões” inócuas que vão marcando os nossos dias…porque a vida continua para além daquela (im)possível e bárbara invasão da Ucrânia.

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19 thoughts on “pequenas invasões

  1. Lamento os monstros que lhe cortam o horizonte. Quanto às poeiras do norte de África, invadem-nos cada vez mais frequentemente. Devem ser, também elas, reflexo das mudanças no clima. Pior são as outras nuvens negras e junto-me à Dulce no voto de que com o pó do deserto sejam igualmente varridas dos nossos dias.

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    1. Luisa, que bom vê-la no Discretamente, uma vez que tem estado longe do seu blog e também do insta. Seja qual for a razão, o importante é que esteja bem de saúde. Já nos bastam as “doenças” do mundo para nos incomodar e tirar o sono…..
      Sobre o post, realmente fiquei sem vontade de ir à janela. É um detalhe apenas, mas que me incomoda. Bastante.
      Obrigada e tudo de bom para si. E que todas as “nuvens negras” que vagueiam pelo mundo se vão rapidamente!🍀

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  2. Dulce,
    É lamentável. Aquilo que vemos tem reflexos no que sentimos e essa paisagem industrial em nada favorece nosso bem estar e paz interior.
    É principalmente a natureza e secundariamente a beleza arquitetônica, que nos traz a estética que precisamos.
    Sou solidário ao seu sentimento de perda após mais de 40 anos desfrutando de um visual agradável. Desejo que encontre novos ângulos e para lá seus olhos se voltem…
    Saudações!

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    1. Durante o dia de trabalho, este recanto sempre foi a minha “liberdade” ´e o ângulo através do qual eu voava… Agora já não é. E terei que me adaptar a isso, pois ainda me esperam mais dois anos e meio de gruas vermelhas no olhar! 🙄
      Vivemos num mundo em que dificilmente a estética é mais importante do que o lucro!
      Muito obrigada.

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  3. Dulce, percebo tão bem as suas inquietações, sou solidária com o seu pesar. Haja esperança que os monstros ainda se vão e lhe devolvam de a sua “liberdade”…como as poeiras, que já regressaram às origens e nos devolveram o céu azul. Não podemos dizer o mesmo do mundo, que continua em convulsão e a trazer-nos muitos temores.

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    1. Monstros… monstro…..são alguns que andam aí à solta intimidando e matando. Estes metálicos só mataram a minha vista, mais nada.
      Mundo louco e revoltante, este em que vivemos.
      Obrigada Antónia. Boa semana!

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  4. Parece que nunca poderemos estar seguros da harmonia do presente, há sempre uma barbárie qualquer a desestabilizar, seja uma grua, um Aeroporto, uma fábrica de papel, como aqui em Setúbal, com um cheiro nauseabundo, um metro de superfície mesmo ao lado, etc e mesmo uma guerra que não sabemos como ou se terminará. Belo texto.

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    1. Obrigada Guida.
      Realmente vivemos uns tempos longe de harmonias e peritos em agressões…
      Nem imagino a revolta que possa sentir com essa vizinhança tão tóxica para os sentidos. Gostaria de dar esperança, mas não sei como… 🙄

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    1. My “ruined vision” is just a detail and absolutely nothing when compared to the “pains” of this world.
      But my working days got really different and sadder, because my window stopped being inspiring…
      Maybe one day I will be able to see cranes as a source of inspiration…🙄🤔
      Thank you.

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    1. Aqui foi estranhíssimo e parecia um outro mundo/tempo.
      Certamente um evento muito complicado para asmáticos, pelo que espero que os seus já tenham recuperado totalmente.
      Obrigada e boa semana.

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