a chuva e a janela

Lá fora, uma chuva persistente continuava a cair e a alimentar a sede da terra.

Entre o meu olhar e o exterior um vidro transparente recebia as gotas que caíam…que aí permaneciam… ou que deslizavam sem rumo definido. Centrei o meu olhar nessa “janela-cenário” e tentei perceber que caminho seguiria a próxima gota…

Impossível, totalmente impossível de determinar. Num ápice senti-me no “jogo da vida”, igualmente imprevisível, aleatório e quantas vezes até desonesto.

Metaforicamente… somos como as gotas de água numa janela em dia de chuva….

…de um momento para o outro podemos ser tocados ou “apanhados” por um qualquer acontecimento, pessoa, sentimento, etc e tudo ficar alterado;

…podemos ser uma gota mais activa, aquela que não pára e avança, que muda de direcção e segue, solitariamente ou depois de “abraçar” outras pelo caminho

…ou ser apenas a gota que foi ficando, sem nada acontecer, acabando mais tarde ou mais cedo por evaporar…

Cada instante pode ser determinante, seja quanto ao passado seja no desenhar do futuro. Diria mesmo potencialmente determinante, como cada uma das gotas de chuva que aleatoriamente tocava no vidro e me fez lembrar a vida de todos nós…com os seus encontros e desencontros, abraços, mudanças de rumo, quedas abruptas, períodos de inércia, indiferença, energia ou actividade intensa, paragens, etc,.

Uma verdadeira “dança da Vida”!

Respirei fundo e de certa forma agradeci por ainda continuar atenta a estes momentos. Resolvi ir buscar a máquina e fazer um pequeno video…que agora verifico que a versão gratuita do WordPress não me permite publicar.

Paciência. Ficam dois detalhes dele retirados e…na próxima vez que a chuva abraçar a vossa janela, observem o “filme”, pois ele será bastante semelhante ao que hoje não consigo partilhar.

Com chuva ou sem ela, desejo a todos um bom final de Outubro!

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sempre o tempo…

Voam os anos
aumentando a nossa idade,

voam os meses
a estonteante velocidade,

voam os dias
sem dó nem piedade,

voam as horas
de dias sem identidade

e voam os segundos
antes de serem realidade!

Neste eterno voar
o tempo é um sopro
que passa em nossos
interstícios…

…ele toca
afaga
dói
envelhece
enriquece
esquece,
é instante e memória
derrota e vitória
prazer e partilha
solidão
desilusão
sonho
e Amor,
porque sempre o tempo
tem para nós
um qualquer Amor!

Em cada respirar
habilmente o tempo voa
e a vida vai…

…para depois parar
numa esquina do tempo que passou
e dizer-nos simplesmente…

…atenção
muita atenção,
olha que já aqui estou!

(Dulce Delgado, Maio 2022)

relativizar…

Em Lisboa, o dia e a semana nasceram em tons de cinzento e com previsão de pluviosidade. Pouco depois de nascer logo o sol ficou tapado por densas nuvens ficando desagradável e incómodo para enfrentar uma segunda-feira… talvez o dia da semana em que a capacidade de relativizar é bastante menor…

Porém, as previsões não se concretizaram e logo o cinzento deu lugar a um lindíssimo céu azul com nuvens muito dispersas e temperatura agradável.

Lição a tirar (para além das cada vez mais constantes falhas meteorológicas): quantas vezes olhamos para uma situação com um dramatismo negro e desagradável…para posteriormente verificarmos que tudo foi ultrapassado sem causar perturbação de maior? E que a dificuldade prevista não se concretizou e que tudo fluiu naturalmente?

Certamente muitas vezes e em demasiados momentos da nossa Vida!

É obvio que a chuva se atrasou…desviou o rumo…não sei. Agora a previsão é que comece a cair em Lisboa amanhã, terça-feira, ao fim do dia.

Que venha e nos nolhe!

Afinal já passou a segunda feira……… e precisamos urgentemente da sua presença!

experimentações #36

Em 2011, no âmbito da quarta visita ao arquipélago dos Açores e à ilha das Flores nasceu o álbum de férias que hoje partilho e um dos que me é mais querido.

As circunstâncias desta viagem foram muito diferentes das anteriores, seja pelo contexto familiar seja porque a disponibilidade era maior e permitiu conhecer a ilha de uma forma mais profunda e exploratória através de percursos pedestres. Foram por isso umas férias de muitos quilómetros andados, de amplas vistas, de imensos detalhes e de momentos inesquecíveis.

A viagem incluiu inda uma ida à menor ilha dos Açores – a do Corvo – ilha que juntamente com a das Flores, formam o grupo ocidental do arquipélago

Seguindo a linha dos anteriores, este álbum foi idealizado e planeado in loco à medida que os dias iam acontecendo. Alguns desenhos foram realizados no momento e possui também colagens, fotografias, elementos da flora, areia, etc.

Contem ainda um CD com os estranhos e inesquecíveis sons das cagarras (Calonectris borealis), aves que nidificam nestas ilhas e que se ouvem especialmente à noite.

Tal como noutros registos já partilhados, este é também um verdadeiro “guardador de memórias e de emoções”. E cada vez lhe dou mais valor porque, muito honestamente, creio que já não teria paciência para elaborar algo semelhante. Se a Vida e a idade nos alteram as prioridades… também nos alteram a forma de viver e de sentir as férias.

Mas como sempre gosto de acrescentar: nunca digas nunca!

detalhes citadinos

Lisboa sempre nos oferece curiosos detalhes, seja qual for a área da cidade que nos acolha. O facto de profissionalmente me enquadrar entre as zonas de Santos e Alcântara, leva a que privilegie esse segmento da capital para os passeios que faço habitualmente à hora de almoço, seja a um ritmo activo ou mais tranquilo e fotográfico.

Nesse deambular passo inúmeras vezes pelas pequenas caravelas em pedra inseridas nas fachadas de algumas habitações desta zona da cidade, baixos-relevos cujo estado de conservação varia entre o bom e o bastante mau. Li que existem elementos deste tipo noutras zonas da cidade próximas do rio Tejo, mas ainda não os fui procurar.

Creio que ninguém saberá ao certo o seu verdadeiro significado, sendo várias as versões conhecidas. Uns dizem que estariam na fachada de edifícios onde habitavam pessoas cuja profissão estaria relacionada com o mar; outros afirmam que poderiam ser marcos sinalizadores relacionados com os limites do município, cujo símbolo tem por base uma caravela. Outras versões existirão certamente, mas deixo isso para historiadores e especialistas na matéria.

Eu prefiro o papel de observadora destes curiosos detalhes que pontuam a cidade e de deixar a imaginação “navegar” com eles por onde quiser. O importante é constatar que ainda persistem, sendo um legado que temos a obrigação de cuidar, preservar, apreciar e partilhar.

Calçada da Pampulha nº 4 e Rua Presidente Arriaga nº 124

Rua Presidente Arriaga, nº136/138 e nº142

Rua Presidente Arriaga, nº150 e nº152/154

Rua Presidente Arriaga nº172, e Rua Prior do Crato nº40

Rua Prior do Crato nº175 e Rua da Costa nº43

Rua da Costa nº63 e Travessa da Costa nº81

Com um enquadramento diferente, outras caravelas podem ser vistas nesta zona, como a existente no Fontanário nº10 localizado da Praça da Armada e ainda na fachada do nº19 da Calçada do Livramento, esta de maior dimensão e creio que bem mais recente.

Estas imagens mostram claramente que alguns destes elementos se encontram em mau estado de conservação e que não tem havido cuidado na sua preservação. Se a erosão e a poluição são importantes factores de desgaste, também a incuria humana tem dado uma boa contribuição. Aliás, a presença de cabos electricos e de telecomunicações colocados sobre alguns estes baixos-relevos é bem demonstrativa disso.

Numa pequena investigação que fiz encontrei referência a outras caravelas…mas in loco não existiam, provavelmente porque as fachadas dos edifícios foram remodeladas e/ou esses elementos entretanto retirados.

Antes de terminar, gostaria ainda de referir que a imagem que inícia o post é um detalhe da fachada da habitação nº10 da Rua da Costa e que a zona da cidade onde todos estes elementos se encontram está assinalada no mapa abaixo.


Neste vaguear recolhi outro tipo de detalhes que oportunamente poderão dar origem a uma publicação de titulo semelhante mas de conteúdo bastante diferente.