encontro

Não obstante serem invasoras, estas aves são uma companhia barulhenta e movimentada nos jardins de Lisboa. Andam normalmente em grupo, pelo que achei muito curiosa esta solitária presença em cima de uma antena.

Nesta dinâmica dos dias e da vida, talvez…

… passasse por um dia menos bom

…tivesse um assunto para pensar/resolver

… necessitasse de um pouco de silêncio e de se afastar dos irrequietos companheiros do bando

…estivesse a dormir

…ou apenas a apreciar a vista!

Fosse o que fosse, certo é que ali ficou por algum tempo, absorta e silenciosa.

Abri a janela e tirei a foto acima. Apercebendo-se da minha presença a alguns metros virou-se para um lado…depois para o outro…

…e por fim para trás, com um ar bastante curioso. Gosto de pensar que foi para me dar os bons dias!!🤗

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sopro de alma

Entre palavras e silêncios
vive a poesia,
lugar de vibrantes
e dormentes emoções
livres
mas nem sempre libertas.

Alimenta-se da vida
e do amor,

do olhar
e sentir de pele,

da paz
e da dor.

Poesia,
alma de palavras
vividas e expiradas
num sopro sentido!

A Poesia é uma espécie de Árvore de palavras unidas pela Criatividade!

(Dulce Delgado, 21 Março 2023)
(Para lembrar este Dia Mundial da Poesia, Dia Mundial da Árvore e Florestas e Dia Europeu da Criatividade Artística )

vontade de primavera

E eis que ela chega, sempre a tempo e horas no calendário cósmico mas nem sempre de forma equilibrada. Por vezes chega até bastante fora do tempo. Este ano, por exemplo, uma sua sósia passeou por Portugal em pleno Inverno. Foi um período tão primaveril que algumas árvores foram enganadas e mostraram os seus rebentos. Umas semanas depois, essas inocentes e frágeis ramificações ficaram queimadas com a vaga de frio que se seguiu. Até doeu ver isso.

A verdadeira Primavera chegará ao princípio da noite a este hemisfério onde resido (21h 24m). Virá amena e com algumas nuvens, depois de um dia de excelente temperatura que nos deixa uma imensa vontade de Primavera.

Chega certamente vibrante em energia e Vida, algo que espalhará de uma forma mais intensa nos próximos meses seja através do vital desejo de procriação…da cor que dará a árvores, campos e prados… ou, ainda na energia motivadora com que afagará a nossa alma e sentidos.

Aproveitemos essa dádiva gratuita e sem contra-indicações, agora que ela começará a vibrar no timing certo. Que venha equilibrada e com vontade de harmonizar alguns desconfortos do mundo!

Boa Primavera!🤗

(e um bom Outono para quem vive na metade sul deste planeta!)

experimentações #39

Depois da “traumática” experiência com o bloco do ano anterior, em 2014 adquiri um da marca Winsor&Newton, adequado a aguarela e que me desse alguma garantia de solidez. Cumpriu essas exigências, mas lamento que nove anos depois o papel esteja extremamente amarelecido nos bordos, como é bem visível nas imagens que hoje partilho.

Comparativamente com o do ano anterior, este registo tem muito menos texto e  abrange um período de férias que contemplou a Extremadura espanhola e o Algarve. A par dos desenhos e de uma ou outra fotografia, integra também detalhes naturais, como folhas e casca de árvores, conchas, algas e ainda parte de uma pele de cobra encontrada num trilho pedestre em Espanha.

Em certos desenhos optei por colorir apenas detalhes pontuais, normalmente aqueles que apresentavam mais cor ou que tinham mais importância no contexto geral. E gostei bastante do efeito conseguido.

Seguem-se então algumas folhas das mais de quarenta que formam este livro de registos em tempo de férias.

Obrigada pela presença!🤗

segundo neto!

Contrariamente ao nascimento do meu primeiro neto, o Vasco, em que a ansiedade que me invadiu foi imensa, com o Vicente que nasceu ontem ao fim da tarde (dia 7), foi tudo completamente diferente.

Por um lado, porque mentalmente alarguei bastante o timing de receber a desejada notícia (o que não fiz na primeira vez…), e por outro, ao ter o Vasco comigo não tive sequer tempo para pensar muito no que estava a acontecer.

E assim, de repente e sem aquele “sofrimento de avó” que conhecera há dois anos e meio, chegou uma mensagem…uma foto…e o novo neto estava ali nos braços de uma filha feliz, alegre e muito longe de parecer que tinha acabado de ter um filho. Tudo correra lindamente e ambos estavam bem!

O Vicente não veio com a Primavera como era suposto, nascendo antecipadamente no final de um estranho dia de Inverno e de lua cheia. A região de Lisboa, porém, não recebeu qualquer luar porque as nuvens, o nevoeiro e a chuva miúda tudo tapavam.

Contudo, aqueles 2,700Kg de gente e alma, iluminaram a nossa família e iluminaram um fim de dia cinzento, invernoso e bastante incómodo.

Apenas sei que me senti feliz. E especialmente grata, muito grata por tudo. 

detalhes citadinos


Há algum tempo publiquei um post sobre as pequenas caravelas que pontuam as paredes de algumas habitações localizadas relativamente perto da zona ribeirinha de Lisboa.

Essa busca levou-me a reparar noutros elementos/sinalética que, por este ou por aquele motivo me chamaram a atenção.

Alguns, são apenas detalhes do tempo que “desaguaram” neste séc. XXI. Não guardarão em si o significado ainda meio desconhecido das pequenas embarcações, mas cada um deles reflecte uma dinâmica citadina que usualmente nos passa ao lado. Objectivamente, eles revelam algo facilmente perceptível (ou não), mas são sempre formas de comunicação entre a cidade-espaço e a cidade-pessoas, sejam eles os habitantes locais ou os passeantes como eu.

A fé, no geral associada a uma certa religiosidade e intrínseca à maioria das pessoas, ultrapassou paredes e assentou raízes em fachadas de edifícios através de pequenos azulejos ou grupos de azulejos pintados com santos, virgens, etc

Reflectirão estes elementos a fé de quem as habita…a fé dos proprietários das habitações (que muitas vezes não as habitam)…ou uma fé que entretanto as desabitou e se perdeu no tempo?

A maioria, julgo eu, foi provavelmente ali colocada com a finalidade de proteger a habitação de energias menos simpáticas e/ou negativas.

Os momentos de glória sempre deixam marcas. Encontrei-a em duas ruas que no início deste século ganharam o concurso da “Rua mais florida” de Lisboa. Hoje, muito pouco as aproxima desse título…

Detalhes informativos são muito comuns e clarificam de imediato o tipo de proprietário, a função dos edifícios ou aspectos relacionados com a segurança das habitações.

Há detalhes na cidade (e em todo o lado!) que visualmente me incomodam. É o caso dos fios, eléctricos/comunicações que aqui, ali e além “decoram” ruas, paredes, recantos, varandas, etc, etc. De certa forma eles reflectem a profusão desses meios nas últimas décadas e o modo pouco controlado como “invadiram” o nosso espaço e vidas. Incomodam ainda mais quando não respeitam aspectos arquitectonicos que muitas vezes caracterizam os edifícios.

Sendo no geral demasiado inestéticos, partilho apenas dois exemplos dos imensos que poderia ter fotografado.

Aqui e ali, a arte urbana também está presente, seja em pequeno ou em grande formato. Limitei-me ao primeiro, pois a ideia deste post é a de partilhar essencialmente detalhes.

Entretanto deliciei-me com as imagens que se seguem, sendo com esse conjunto que termino. Já conhecia duas destas esculturas porém, este deambular permitiu-me encontrar mais algumas dessas figuras em ferro que decoram o topo de algumas habitações localizadas na área de Alcântara.

Acho-as simplesmente deliciosas!

Este post é a prova provada que, se passarmos atentos pelos lugares eles têm imenso para nos dar em troca. Na verdade eles contam histórias, momentos, modos de viver, revelam opções e sempre nos comunicam algo, seja ou não do nosso agrado.

E principalmente, alimentam a nossa curiosidade!🤗

virgílio ferreira

Por norma prefiro lembrar/recordar alguém tendo por base a sua data de nascimento e não a do seu falecimento. Permite-me uma perspectiva mais luminosa. Hoje de manhã porém, ao virar a página do almanaque Borda d’água para o mês de Março, verifiquei que neste primeiro dia se invoca a morte de Virgílio Ferreira (1916- 1996), um escritor e professor português que deixou uma vasta obra para a posteridade.

E pensei “Curioso, ainda não o levei a passear ao Discretamente! Hoje será o dia!”

Fui então à prateleira onde tenho alguns dos seus livros e tirei o que seria mais simples de partilhar pois, sendo de pensamentos, quando o li marquei lateralmente a lápis aqueles que mais me agradaram.

Passei os olhos pelas suas páginas e logo surgiu a dúvida sobre o que escolher, dada a diversidade e a dimensão dos excertos com anotação. Decidi de imediato que optaria apenas pelos mais curtos – no máximo com cinco ou seis linhas – o que à partida reduziu bastante o leque de possibilidades.

O livro em causa tem por título Pensar, é composto por 677 textos/pensamentos com um número de ordem associado a um indíce remissivo e foi terminado em Maio de 1991, portanto cinco anos antes do falecimento do autor. Este exemplar que possuo é uma 3ª edição da Livraria Bertrand, datado de 1992 e tem uma complexa introdução do próprio Virgílio Ferreira a que deu o titulo “Do impensável”

Certo é que a maioria destes pensamentos, concordando nós ou não com eles, sempre nos levam a pensar!

  • Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora. (32)
  • Entra pela janela o rumor da avenida. E do parque entre os prédios, um músico ambulante toca o seu saxofone. É um som volumoso, oco, tem no final vibrações melodiosas. É uma música nostálgica, de uma lentidão genesíaca. E a toada sobe por entre o rumor do tráfego. E paira ao alto como uma estrela. (42)
  • Chora aos berros como as crianças até te estafares. Verás que depois adormeces. (56)
  • Disseste ou escreveste muitos milhões ou muitos milhares de palavras. E deve haver nessa nebulosa uma estrela que seja tua. Não o saberás nunca. (73)
  • A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito para não rebentar. (92)
  • Morrerás em breve. É incontestável. E quanta verdade morrerá contigo sem saberes que a sabias. Só por não teres tido a sorte de num simples encontro ou encontrão ta fazerem vir ao de cima. (134)
  • Falar alto para quê? Poupa as forças, fala baixo. Poderás talvez assim ser ouvido ainda, quando os outros que falam alto se calarem de estoirados. (146)
  • Sol bonito, deixa-te estar. Andaste nestes dias todos na vadiagem nefelibata, vieste enfim. Não te vás. Sol português, tens as tuas obrigações para com a nossa identidade nacional, não nos deixes à mercê de um polícia que nos pilhe sem identificação. E ficas bem, deitado no tapete como um cão luminoso…(202)
  • A luz, o mar, o vento. E as flores, os animais, a vida inteira. Não te apetece gritar? Explicar tudo isso num grito? Num excesso do excesso? (244)
  • O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo. (337)
  • Não ouças só as palavras que ouvires, ouve-lhes também o silêncio, se o tiverem. Porque há tanta variedade de silêncio. O da cólera, da expectativa, do êxtase, da ameaça, da suspeita, de. Ouve. Ele te dirá decerto mais do que as palavras, que são só a sua manifestação, a face do seu aparecer. Mas há silêncios que não têm aparecer. Ouve, atende. São os que não cabem nos dicionários do mundo. Não tentes dizê-los. O mistério não se diz. (354)
  • O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos – é não termos já mesmo perguntas. (403)
  • Não te queixes muito da rotina. Ela é o sucedâneo, mais à mão, da eternidade. (429)
  • Há uma criança em ti que te acompanha sempre. Mantém-na em disciplina para não cometer disparates. Mas não te envergonhes muito dela, atende-a de vez em quando. Porque quando ela te não acompanhar, só já te resta morrer. (443)
  • Pois, A emoção é decerto uma forma de se subir mais alto. E quando se cai, de se cair de mais alto. Aprende a serenidade. Porque mesmo que caias, não te magoas tanto. (454)
  • Quantas pessoas te amaram? Quantas amaste? O afecto é a melhor forma de saberes o tamanho da tua vida. Ou seja, do até onde exististe. Haverá outro balanço para saberes se ela valeu a pena? (471)
  • Não há amor como o primeiro, mesmo que esse primeiro seja o último. (483)
  • Num quarto escuro não se pode ver nada. Não o digas. Sê humilde e responsável. Num quarto escuro podes ver a escuridão. (509)
  • No amor nunca os pratos da balança estão equilibrados. E como a essência do amor é etérea, quem pesa mais é quem ama menos. (671)

O último pensamento deste livro (677) resume bastante bem a dinâmica e o questionar do autor sobre o seu próprio pensar:

  • Minha imaginação doente. Meu pensar de loucura. Porquê a obsessão de entender o que não tem entendimento possível? Porquê a obsessão de ter de haver uma resposta, apenas porque houve uma pergunta? Todo o entender é no impossível que tem o seu limite. Mas o impossível é a medida do homem e da sua vocação. Aí sou. Aí estou.

Este não é um post fácil nem linear. Tal como a Vida e o Pensar também não o são!

Imagem retirada de   https://cm-sintra.pt/todas-as-noticias-arquivo/100-anos-do-nascimento-de-vergilio-ferreira