Pelo discretamente já passaram vários frutos e legumes vistos através daquele olhar curioso que me habita e que me permite encarar os alimentos comuns com um valor acrescentado e não apenas como algo efémero que se consome quase inconscientemente.
Sendo uma apreciadora incondicional de citrinos, hoje chegou a vez da tangerina, um fruto que me atrai pelo sabor e facilidade de consumo, mas também pela versatilidade que a sua forma oferece se decidirmos encara-la numa perspectiva mais lúdica.
Dir-me-ão alguns: para quê estar a perder tempo a brincar com os gomos de uma tangerina? E eu respondo: e porque não fazê-lo?
Certo é que, sempre que degusto esse fruto também me “alimento” da musicalidade da sua forma, um dom silencioso que apenas a curiosidade e esse “tempo perdido” me permitiu encontrar.
Passo a passo, partilho então um pouco do potencial artístico de uma tangerina!
Depois….já fartas de tanta volta….transformaram-se em borboletas e voaram!
Como um ser individual que sou, creio que a melhor forma de começar um novo ano é estando grata por aqui ter chegado com saúde e saber que esse precioso bem está presente naqueles que me são mais queridos. E por muitas outras razões, obviamente.
Como um ser colectivo e que interage com outros, agradeço os momentos bons e menos bons que me fizeram crescer e ficar mais atenta, assim como as ocasiões de partilha que sempre permitem novas aprendizagens. E agradeço profundamente o facto de viver num país que não tem conflitos com o exterior e onde impera a liberdade de acção e de expressão.
E por último, como um ser virtual que se insere neste imenso “tronco” cheio de ramos e ligações que é a blogosfera, onde se entrecruzam palavras e energias, olhares e emoções, pensamentos e criatividade, alegrias e tristezas, primaveras e invernos, outonos e verões, aniversários e natais…
… quero agradecer colectivamente a todos os que passaram pelo post que publiquei no passado dia 23 de Dezembro 2022 e nele deixaram simpáticas mensagens e/ou votos de Boas Festas, palavras a que não respondi atempadamente pois, estando em férias, sempre tento afastar-me das rotinas inclusive do blog.
… e dizer ainda que é meu desejo continuar discretamente por este novíssimo ano de 2023 a partilhar, com vontade e sinceridade, o que genuinamente me habita.
Com o enorme “abraço” que a imagem acima também simboliza, o meu obrigado e o desejo de um Bom Ano para todos! 🍀🥂
Penetra corpos corações gestos e emoções desejosos de dar mas incapazes de o mostrar.
Num momento será dor atrito peso um respirar sem sentido, um nada valer um ponto perdido…
…e noutro pode ser um simples e estranho prazer difícil de entender.
Solidão…
…aquela amiga inquieta que sem cobrar nem pedir nos deixa ser quem somos a chorar ou a sorrir!
Entre a solidão que degrada e a que faz crescer, existe um leque de emoções e possibilidades.
Felizmente não conheço o sentir da solidão profunda, daquela que nasce do abandono, da incapacidade de lutar ou da desistência. Momentos difíceis e em que nos sentimos sós todos temos na Vida, mas nenhum me levou a esse extremo. Ir à luta sempre foi o caminho.
Já a outra, aquela solidão que ajuda a crescer, tem sido companheira de Vida. Sempre nos procuramos mutuamente e sem ela, não seria a pessoa que sou hoje.
Este poema revela um pouco dessa ambiguidade de sentires que fazem parte da Vida. Em graus e formas diferentes e mais nuns do que noutros. Certo é que são sentires capazes de nos construir mas também de nos destruir.
Em 2011, no âmbito da quarta visita ao arquipélago dos Açores e à ilha das Flores nasceu o álbum de férias que hoje partilho e um dos que me é mais querido.
As circunstâncias desta viagem foram muito diferentes das anteriores, seja pelo contexto familiar seja porque a disponibilidade era maior e permitiu conhecer a ilha de uma forma mais profunda e exploratória através de percursos pedestres. Foram por isso umas férias de muitos quilómetros andados, de amplas vistas, de imensos detalhes e de momentos inesquecíveis.
A viagem incluiu inda uma ida à menor ilha dos Açores – a do Corvo – ilha que juntamente com a das Flores, formam o grupo ocidental do arquipélago
Seguindo a linha dos anteriores, este álbum foi idealizado e planeado in loco à medida que os dias iam acontecendo. Alguns desenhos foram realizados no momento e possui também colagens, fotografias, elementos da flora, areia, etc.
Contem ainda um CD com os estranhos e inesquecíveis sons das cagarras (Calonectris borealis), aves que nidificam nestas ilhas e que se ouvem especialmente à noite.
Tal como noutros registos já partilhados, este é também um verdadeiro “guardador de memórias e de emoções”. E cada vez lhe dou mais valor porque, muito honestamente, creio que já não teria paciência para elaborar algo semelhante. Se a Vida e a idade nos alteram as prioridades… também nos alteram a forma de viver e de sentir as férias.
Mas como sempre gosto de acrescentar: nunca digas nunca!
Enormes, as ondas envolviam-se sobre si num aconchego ao espaço e olhar para o interior.
Crescendo em tamanho e força libertavam um véu que se desfazia no tempo no vento no mar e no espanto do meu olhar!
Por fim,
a explosão e a festa do branco, um campo de espuma como um campo de neve, sem desaparecer sem nunca deixar de ser!
Apetece tocar… Apetece fugir…
Estranho o mar e as suas formas… …estranhos os sentimentos que me provoca!
Sempre presente na minha vida, querendo o meu sentir agarrando o meu fugir, não me permitindo deixar de olhar.
Porque é mar de amar…
…e porque eu tenho medo!
Para este Dia Mundial do Mar (26 Setembro)…
…partilho mais um poema antigo, não datado, mas sempre actual no meu sentir…e a acompanhá-lo uma imagem obtida em 2017 na Praia da Costa Norte (ou Guia), em Sines.
Estavam umas ondas belas, assustadoras e inesquecíveis!
Dois anos e um mês depois do Vasco ter nascido e de eu adquirir o estatuto de avó, posso agora partilhar convosco que, se tudo correr como previsto, na próxima Primavera serei duplamente avó.
A notícia foi divulgada de uma forma extremamente criativa como bem mostra o grafismo da t-shirt que o meu neto vestiu nesse dia.
Dou os meus parabéns aos papás designers pela engraçada ideia que tiveram e ao meu neto por desempenhar tão bem o papel que lhe foi atribuído neste futuro evento familiar.
Entretanto….se a alegria e a ternura que este tipo de notícia sempre envolve são uma realidade nas minhas emoções, quando a minha parte mais racional prevalece incomoda-me muito o estado do mundo onde esse bebé irá nascer e os meus netos irão crescer.
Diria que aquele optimismo “genético” que sempre me habitou está em fase de reflexão perante tanta insensatez, ganância, guerras absurdas, despotismo, etc., e pelo mais que evidente desequilíbrio ambiental que nos envolve.
Não é agradável pressentir um futuro que não gosto para os meus netos. É certo que eles aprenderão a viver nele, criarão defesas e espero que tudo façam para o melhorar.
Pela minha parte e enquanto a vida me permitir, tentarei ser aquela avó que prefere a paz e a sensatez, que respeita muito o outro e ainda mais a natureza e, especialmente, que sempre valoriza o imenso que temos e que nos rodeia.
Para já, o único e mais profundo desejo é que tudo corra bem com a futura mamã e seu rebento!
…um a um, eles vão encaixando como um puzzle e formando uma realidade paralela que complementa a paisagem. São pequenos mosaicos de uma grande construção e um verdadeiro privilégio da natureza, seja nesta ilha seja em qualquer lugar do mundo.
Olhando para o solo…
…ele é o grande receptáculo da água/humidade existente. Por ele correm rios, ribeiros, canais e levadas… repousa a água das chuvas e dos nevoeiros…. assim como toda a que se condensa na vegetação em quantidades inconcebíveis.
Esse solo é por isso o cerne da vida e útero de uma imensa rede de raízes de uma flora característica e muito diversificada. Mais recentes ou centenárias, formam um verdadeiro mundo subterrâneo que espreita à superfície.
O nosso caminhar afaga-as e talvez as perturbe. Ou talvez não. Certo é que nos oferecem beleza e expressividade, mas em troca requerem atenção pois, sendo muitas vezes escorregadias… facilmente passam uma “rasteira” à nossa desatenção.
As bermas das levadas mostram uma vegetação de beleza única composta por fetos, musgos e muitas outras espécies. Deliciam o olhar dos mais atentos e estão ali para ser apreciadas.
Alguns caminhantes porém, percorrem os trilhos com tamanha velocidade que me pareceu nada verem….
Os fetos têm nesta ilha um dos seus paraísos. Abrindo-se em folhas gigantes ou de pequena dimensão, a sua presença é realmente marcante. E o seu desabrochar é e será sempre um detalhe que nos encanta.
É aqui, neste mundo dos fetos que encaixa a fotografia inicial deste post, uma imagem simbólica e onde encontro uma belíssima e solidária parceria visual entre um tronco queimado/cortado e o feto que a seu lado cresceu empaticamente. Gosto de imaginar que a solidão e tristeza deste tronco assim ficou menor…
É importante referir que a Madeira sofreu grandes incêndios na ultima década, creio que em 2010 e 2016, eventos que deixaram feridas ainda bem visíveis em vários locais.
Erguendo um pouco o olhar….
…tão ou mais expressivos que as raízes são os troncos, solo e abrigo de muitas espécies e onde naturalmente a vida ganhou novas formas. Também aqui, fungos, musgos e líquenes são uma presença que o olhar não consegue ignorar.
A beleza está na vida mas também a encontramos na morte, especialmente no reino vegetal. A expressividade das árvores e troncos secos, são puros gritos de beleza para as nossas emoções.
Diversificando o olhar é tempo de reparar nas flores, um verdadeiro ex-libris desta ilha que lhes dedica inclusivamente uma festa em cada Primavera. Pela minha parte lamento que tantas sejam plantadas e depois cortadas para decoração desse evento. Pessoalmente isso dói-me.
Neste post apenas me interessam as flores que decoravam os caminhos por onde andamos. Foram muitas, variadas e sempre belas, na sua simplicidade ou sofisticação.
Destaco o massaroco da Madeira, uma planta endémica que marca presença em muitos lugares, especialmente de média altitude. Formam feixes de flores cónicas de tom azul-lilás e são sempre um encontro agradável sejam quais forem as condições atmosféricas envolventes.
Detalhe maior relacionado com esta ilha e que não pode realmente ser esquecido são as bananas, um fruto com características um pouco diferentes das que consumimos normalmente, uma vez que são mais pequenas e o seu gosto ligeiramente diferente.
São cultivadas em grande escala a baixas altitudes, especialmente nas vertentes e fajãs do lado sul.
Das muitas fotografias que tirei na Madeira, o foco esteve essencialmente na paisagem e na flora, mas também na fauna, temática que estará presente no próximo post desta série e que será o ultimo sobre as férias de 2022.
Mas outros detalhes despertaram a minha atenção, nomeadamente a nível da geologia, sendo com dois deles que termino este post. Fazem parte de um lote de imagens captado na Ponta de S. Lourenço, no último dia e antes de nos dirigirmos para o aeroporto.
Escolhi-os por serem curiosos e por transmitirem um dinamismo que é real e constante neste planeta que nos recebe. Certo é que, ao observá-los, quase consigo ver o movimento daqueles núcleos a virem à superfícies e a serem “paridos” pela terra. Mas escolhi-os, especialmente, porque foram os últimos detalhes fotografados antes do regresso.
Num silêncio pétreo, estes “filhos” daquela terra despediram-se do nosso olhar. E nós simplesmente agradecemos!
…e porque sempre consegue encontrar no aparentemente banal aquela linha de força, energia ou estética que pode tornar algo mais belo…
…ofereço-te neste dia uma fotografia que tirei no início deste ano e que muito aprecio. Na sua subtileza encontro uma certa transcendência, seja na nudez dos troncos que revelam o essencial, seja nas névoas que temos que ultrapassar para chegar à clareza, à luz e a um “céu mais azul”.
Gosto da sua harmonia, mensagem e por este pouco me dizer-me tanto. E hoje gosto especialmente porque sei que também a irás apreciar.
A par destas palavras é o que te quero oferecer neste mundo virtual. No real terás muito mais. Haverá presenças, partilha e sentirás aquele abraço especial e aquela ternura que só uma mãe sabe dar. E que tu como mãe, já sabes bem como é profundo, intenso e tudo preenche.