coisas pequeninas

Luisa Sobral é uma cantautora portuguesa que se rege pela simplicidade e onde se sente um bater de coração em tudo o que faz. Para além de ter sido a autora do tema cantado pelo seu irmão Salvador Sobral e que permitiu a Portugal em 2017 vencer o Festival da Eurovisão, tem vários álbuns editados com temas carregados de emoções, alguns com dedicatória aos seus filhos e direccionados para um publico mais infantil.

Ao seu estilo, sempre nos alerta para aquilo que vale realmente a pena enquanto seres humanos, para o valor das emoções, o amor que a vida merece, o respeito, mas também para aquele gesto de nada que pode ser tanto no nosso dia-a-dia. É nessa linha que no final de 2021 editou um tema intitulado

Terça-feira (coisas pequeninas)

que já ouvi várias vezes no rádio e que integra o álbum Camomila composto de sete canções de embalar, cada uma dedicada a um dia da semana.

Neste desvario dos dias, das emoções pessoais, das notícias do mundo ou de uma guerra que tanto nos doi… deixemo-nos embalar por algumas das imensas “coisas pequeninas” que animam a vida, a ternura dos dias e que, sem darmos por isso, esquecemos amiúde de apreciar devidamente.

Este post associado a um momento de embalar está um pouco relacionado com a circunstância do meu neto Vasco ficar connosco quatro dias /três noites, uma estadia com uma duração bem acima da média. É nosso desejo que corra bem, mas não deixa de ser uma experiência diferente e um novo sentir para nós, para ele e especialmente para os pais, bastante necessitados de um descanso.

Entre instantes de deleite e outros eventualmente menos simples, vou vivenciar de coração aberto os momentos, os passeios, as brincadeiras, a ternura, os abraços…mas também alguma birra que possa surgir ou as três noites pior dormidas que provavelmente me esperam.

Tudo faz parte das emoções da Vida…sejam elas mais doces e “pequeninas”, sejam elas mais intensas, dolorosas ou exigentes!

Bom fim-de-semana!🌞

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amália

Contrariamente à maioria, não sou a típica portuguesa apreciadora de fado. Gosto apenas de alguns fados e de algumas vozes. Nessa linha, existe um fado que sempre me “arrepia” quando o ouço na voz de Amália Rodrigues, por muitos considerada a melhor fadista de sempre.

Neste ano em que se comemora o centenário do nascimento desta mulher com um percurso de vida incrível e cuja voz e talento levou o nome de Portugal a todo o mundo, não posso deixar de, discretamente, fazer aqui uma referência.

Como? Partilhando o lindíssimo tema Barco Negro na sua voz, canção que tem uma história curiosa.

Na verdade ele é uma parceria luso-brasileira. A versão original data da década de 1930, intitulava-se Mãe Preta e fazia uma alusão à escravatura, como bem revela a letra que partilho abaixo. Quem lhe deu alma foram os compositores brasileiros Piratini &Caco Velho (António Amábile e Mateus Nunes).

Pele encarquilhada carapinha branca
Gandôla de renda caindo na anca
Embalando o berço do filho do sinhô
Que há pouco tempo a sinhá ganhou
Era assim que mãe preta fazia
Criava todo o branco com muita alegria
Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava
Mãe preta mais uma lágrima enxugava
Mãe preta, mãe preta
Enquanto a chibata batia no seu amor
Mãe preta embalava o filho branco do sinhô

 

O tema foi censurado e proibido em Portugal pelo Estado Novo. Então o poeta David Mourão-Ferreira escreveu um poema, tendo o mar e o amor por tema, para adaptar a essa belíssima composição musical. Foi assim que nasceu Barco Negro, título a que Amália Rodrigues deu voz, gravou e levou a todo o mundo.

Esta versão por Amália é apenas uma das muitas existentes e já cantadas quer em Portugal, quer no Brasil, quer noutros países. É sempre um momento musical fascinante e, sem qualquer dúvida, uma bela parceria luso-brasileira!

(Amália Rodrigues  23 Julho 1920 – 6 Outubro 1999)
(Video retirado do You Tube)

harmonias

 

 

Harmonizar continentes, países, raças, sexos, ideias e sentimentos faz parte do imaginário de muitos de nós. Porém, neste mundo um tanto “cor-de-rosa” em que habito, isso é simples através da música e de algumas vozes que se harmonizam em duetos, como as que hoje partilho.

– No video inicial, Robert Plant, ex- Led Zeppelin e Alison Krauss, cantora country e violinista, juntaram o Reino Unido e os EUA no álbum Raising Sand (2007). Umas das faixas intitula-se Your long journey, um tema antigo e já cantado por outros artistas. Mas as suas vozes harmonizam na perfeição!

 

– Também Vanesa Martín, espanhola, se aliou no final de 2017 ao angolano Matias Damásio e em conjunto cantaram Porque queramos vernos, um dos temas que integra o álbum Munay, editado por esta cantora em 2016.

 

 

– E por último, sugiro o tema Naturalmente Naturalmente incluído no álbum Já É (2015) do artista brasileiro Arnaldo Antunes, aqui cantado em parceria com a portuguesa Manuela Azevedo, um dos elementos do grupo Clã.

 

 

E assim, discretamente, talvez o mundo tenha ficado um pouco mais harmonioso neste domingo à tarde….

 

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No início deste blog, em 2016, partilhei um post com alguns temas igualmente cantados em dueto. De certa forma, o post de hoje complementa esse, pelo que seria interessante passarem por ele e ouvirem as parcerias aí incluídas e que também aprecio bastante.

 

 

 

 

quatro mãos

 

mãos

 

Falar deste maravilhoso instrumento que são as nossas mãos, é falar de precisão, coordenação, harmonia, perícia, elegância, expressão, sentimento, habilidade e muito, muito mais. Também poderia referir o lado sombra das mãos, mas tal não é relevante para hoje.

Por fazerem parte do nosso corpo são uma forma de nos relacionarmos, de partilhar sensações, de sentir o que nos rodeia, de expressar sentimentos e de materializar as capacidades que nasceram connosco (e com elas!), desde que estejamos dispostos a fazer essa exploração ao longo da vida.

Se uma parte da nossa sensibilidade depende da relação que estabelecemos com os nossos sentidos – relação que pode ser mais ou menos íntima – de certa forma as mãos/tacto são a vertente mais dinâmica dessa relação. Mas todos os sentidos “brincam” e cooperam entre si, em diálogos vividos de uma forma activa e relativamente consciente.

Num músico instrumental, a audição brinca com os sons através das mãos. E estas dançam sobre as teclas de um piano, nas cordas de uma guitarra ou na sensibilidade de qualquer outro instrumento. Hoje, porém, escolho o piano e a guitarra portuguesa, e as mãos da pianista Maria João Pires e do guitarrista Carlos Paredes. Porque neste dia 23 de Julho, a primeira completa setenta e quatro anos de vida e o segundo catorze anos que deixou de estar entre nós.

Dois artistas incríveis, dois lutadores, e quatro fabulosas mãos que encantam os nossos sentidos e a nossa alma.

 

 

 

Como portuguesa, lamento que Maria João Pires desiludida com Portugal e com as suas instituições, tenha saído do país há cerca de uma década, vivendo actualmente no Brasil. Mas a minha admiração por ela não diminuiu.

 

 

 

uma música

 

 

Ontem partilhei um filme…e hoje partilho uma música!

Aprecio o “altruísmo” de um tema unicamente instrumental porque, pela ausência da palavra, ele oferece mais do que me pede. A atenção concentra-se apenas nos sons, que são percepcionados de uma forma mais emotiva e sensorial, sendo que o pensamento simplesmente fica ausente.

Diria que com os ouvidos…prefiro sentir a pensar!

É esse envolvimento que esta faixa que integra o álbum Les arracades de cirera / Cherry earrings, da autoria do catalão Toni Xuclà me proporciona. Este trabalho foi produzido em 1996 pela Nazca Music, e permitiu ao autor o início de uma carreira internacional, apesar de ter começado o seu percurso musical aos 15 anos, compondo para teatro.

Espero que sejam uns agradáveis minutos de música, trazidos neste final de tarde de domingo por uma tranquila brisa vinda de Espanha!

 

 

cantando violeta parra

 

isa + tit

 

No início de Abril, publiquei um post sobre a cantora chilena Violeta Parra, no âmbito das comemorações do centenário do seu nascimento (1917-1967).

Volto hoje ao assunto, uma vez que na próxima terça-feira dia 12 de Setembro, a filha e a neta de Violeta Parra, respectivamente Isabel e Tita Parra, estarão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para dar um concerto integrado na programação de Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017.

Serão cantados os temas mais emblemáticos de Violeta Parra e outros da autoria das suas descendentes, num espectáculo que irá certamente aliar a música popular, tradicional e de intervenção chilena com uma forte componente emocional, tendo em conta os laços familiares e afectivos que estarão sobre o palco. Este espectáculo é organizado pela Secretaria de Cultura do Governo do Chile.

Ainda no âmbito deste centenário, a 4 de Outubro, dia em que a cantora completaria cem anos, haverá na Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário, sediada em Lisboa, um outro espectáculo musical, este produzido pelo grupo el Sur.

Serão momentos com características diferentes, mas estou certa que ambos terão como lema a partilha, a força e a paixão que orientaram a vida desta mulher.

 

 

 

para sempre

Todas as crianças têm um pai e uma mãe, seja qual for posteriormente o seu contexto familiar. Todas necessitam de afecto, que deve ser genuíno e facilitador do diálogo e da aproximação. No fundo, que parta de um coração e chegue a outro coração!

Dengaz, é um cantautor português que se enquadra nos ritmos rap /hip-hop, estilo que não aprecio especialmente, apesar de considerar que as palavras e as mensagens a eles associadas são bastante interessantes. Porém, Dengaz compôs um tema musical dedicado às filhas e que, sempre que o ouço, me emociona um pouco.

Para sempre é o nome dessa canção e foi inicialmente editada no álbum homónimo editado em 2015. Porém, a versão que mais aprecio, integra uma reedição de 2016 e inclui a belíssima voz do cantor brasileiro Seu Jorge, na sua primeira parceria com um cantor português.

Não sei o que os levou a cantar este tema em conjunto. Gosto de pensar que foi o facto de ambos serem pais e de ambos terem filhas, sendo por isso semelhantes os sentimentos e os afectos sentidos. Certo é que as suas vozes encaixam bem e o tema ficou muito valorizado.

Muitos já o conhecerão, pois ouve-se amiúde nas emissões de rádio portuguesas. Mas isso não me impede de o partilhar aqui, não apenas porque aprecio a mensagem e a simplicidade da música, mas porque gosto do sentimento que está na sua origem, o amor e o afecto que todas as crianças necessitam. Especialmente dos pais. Todos os dias e não apenas neste dia dedicado às crianças.

uma simples canção

 

 

Na minha infância e juventude, o dia em que ocorria o Festival da Eurovisão da Canção era um dia especial porque, naquela época, era um evento que se destacava talvez pela ausência de outros. Ainda recordo a maioria das canções que nos anos 60/70 representaram Portugal nesse festival, melodias que eu sempre achava especiais e que na minha perspectiva, mereciam sempre ganhar. Mas isso nunca aconteceu e em cada ano a frustração sentida transformava-se em esperança no ano seguinte.

Entretanto…a vida tomou outros rumos e interesses, e apenas muito pontualmente voltei a dar alguma atenção a esse evento. E quando o fazia era apenas para ver o nosso representante cantar, o que, diga-se na verdade, muito raramente me agradava. O festival cansava-me, porque tudo parecia igual, confuso, muito barulhento e com demasiados estímulos associados. Sem espaço para respirar. Por isso, se me perguntarem quem representou o nosso país nos últimos anos… sinceramente, não sei! Talvez seja triste, mas é a verdade.

Porém, depois de muitas décadas, ontem sentei-me no sofá a ver uma boa parte desse festival e, obviamente, também a nossa belíssima canção. E senti um pouco aquela sensação da infância, de achar que as nossa canção era muito bonita e que merecia ganhar. Naturalmente recuei no tempo, no entusiasmo e na esperança.

Esperança que começou a ser alimentada ao comparar a simplicidade da composição e da interpretação resultante da parceria dos irmãos Luísa e Salvador Sobral, com a confusão e o artificialismo dos restantes temas e performances a concurso. E especialmente, aquando dos primeiro doze pontos que recebemos logo no início da votação. E os doze seguintes e ainda os outros todos!

No final, Portugal ganhou! Fiquei tão contente! E que sensação estranha, porque inesperadamente se cumpriu aquele desejo de infância que tinha ficado latente, quase adormecido. Estou certa que muitos portugueses terão sentido algo de semelhante, pelo menos aqueles que nasceram entre os anos cinquenta e sessenta do século passado e que, tal como eu, viviam com grande sentimento este evento.

Cantada de uma forma muito peculiar e genuína, a canção fala de amor. Simplesmente de amor. E será a forma como este sentimento foi partilhado que convenceu as emoções de milhões de pessoas, os que percebem e os que não percebem de música. Como eu, que encaro esta arte de uma forma muito emocional, com o coração e nada por conhecimento teórico.

Estou quase certa que  esta canção marcará um ponto de viragem na qualidade deste evento. Deu para perceber de uma forma muito clara o que as pessoas querem e desejam. Talvez a partir daqui prevaleça o que marca a diferença pela qualidade e não pela quantidade de estímulos, pela confusão e aparato tecnológico e visual.

Mais uma vez podemos ser pioneiros neste mundo. Povo de um pequeno país, mas cheio de força e de garra. Que gosta de descobrir novos caminhos e mostrar novos horizontes como aconteceu à cinco séculos atrás, seja agora, quiçá, no campo da música de uma Europa que perdeu a sua personalidade, pelo menos neste tipo de eventos.

Gosto de alimentar esta ideia, mesmo que daqui a uns anos chegue à conclusão que me enganei e desista novamente de me sentar no sofá. Mas enquanto há vida há esperança, e esperança é algo que nunca me falta.

Por fim… é muito bom perceber que hoje todo o país está feliz com uma canção que fala de amor!

 

 

violeta parra

Capturarviol parra

Ultimamente tem sido divulgado um espectáculo de entrada gratuita, que se irá realizar no próximo dia 8 de Abril no teatro Capitólio em Lisboa, em homenagem a Violeta Parra pelo centenário do seu nascimento.
Conhecia um dos seus temas mais populares, como é Gracias a la vida, mas relativamente pouco do seu percurso. A curiosidade levou-me a procurar um pouco mais e não resisti a escrever este post

…Violeta del Carmen Parra Sandoval (1917-1967) foi compositora, cantora, artista plástica e activista política, sendo considerada a fundadora da música popular chilena, gosto que herdou dos pais. Bem cedo começou a tocar e a compor, optando logo na juventude por se dedicar à vida artística.

Teve uma vida emocional algo complexa, com três casamentos e vários filhos, alguns que se dedicaram também à música, cantando com eles durante um certo período da sua vida. Foi igualmente a grande precursora da música de intervenção, produzindo letras revolucionárias que incidiam maioritariamente na injustiça social e nas condições de vida dos pobres.

Na sua curta mas intensa vida, em que intercalaram os momentos bons e os muito difíceis, como o da morte de uma filha, foi sempre uma mulher de grande energia e força, lutadora pelos direitos dos mais desfavorecidos, mas também irreverente e que sabia o que queria.

No final dos anos 50, num período em que esteve doente e mais inactiva devido a uma hepatite, explora as artes visuais, dedicando-se a criar as arpilleras, curiosas tapeçarias bordadas que, mais tarde, foram associadas à resistência das mulheres chilenas no período da ditadura do General Pinochet. Através da figuração que nelas inseriam, iam transmitindo o que estavam a viver e a sentir enquanto os maridos estavam presos. Mas foram igualmente uma forma de sobrevivência material.

As arpilleras, assim como a pintura, o papier maché ou as esculturas em arame, foram as técnicas artísticas que Violeta Parra escolheu para expor, juntamente com as letras e canções que escrevia, tudo o que sentia, os princípios em que acreditava e pelos quais lutou toda a vida.

Estranhamente, suicidou-se aos 49 anos, não muito tempo depois de ter composto Gracias a la vida, o que de certa forma é um pouco paradoxal. Mas, a separação dramática do seu terceiro companheiro e ainda um projecto que não terá corrido bem, poderão ter contribuído para tão drástica decisão.

Pelo facto de ter deixado um grande legado, em Novembro de 2014 foi criada a Fundação Museu Violeta Parra, a fim de preservar e difundir a obra desta mulher que teve um papel tão importante na sociedade chilena.

Não poderia terminar este post sem a sua  belíssima voz. Escolhi dois temas já compostos na década de sessenta, Gracias a la vida e Run run se fue pa’l norte, criados sob emoções bastante opostas. O primeiro surgiu na sequência do grande amor que sentiu pelo seu último companheiro, o antropólogo e músico suiço Gilbert Favre; e o segundo, depois de ele a ter deixado, separação que teve fortes repercussões na sua vida.

Foi uma mulher de força e de paixões. Mas foram também essas atitudes que a levaram ao suicídio.

Foto retirada de http://www.nosgustaelvino.cl/museo-violetaparra/?age-verified=50f5b1d0a0

nuvens brancas

 

Os sons do compositor e pianista italiano Ludovico Einaudi proporcionam sempre um agradável e tranquilo momento.

Porque estamos a meio da semana, uns minutos de paragem são salutares. Sugiro a audição do tema Nuvole Bianche (Nuvens Brancas), que integra o álbum Una mattina, datado de 2004.

E porque os olhos também ouvem, acompanhem o som com as excelentes imagens deste vídeo, onde as nuvens e as neblinas que envolvem e acariciam este nosso planeta mostram todo o seu dinamismo e beleza.

Nestes seis minutos, o tempo acontece, simplesmente.  Um tempo que é do universo, do planeta, da natureza e de cada um de nós.