ciclo de vida

Apesar de passar há muitos anos pela escadaria que une o Jardim 9 de Abril à Avenida 24 de Julho em Lisboa, nunca me tinha deparado com a imagem acima.

Estando a uma certa distância, o primeiro pensamento foi: “Que estranho, um monte de troncos com pequenas flores? Não pode ser! Nunca vi isto aqui!” Além disso estávamos em Dezembro…

Aproximei-me e de imediato percebi que se tratava de restos de tinta da parede que ficaram agarrados às gavinhas da vinha-virgem seca e recentemente arrancada. Entretanto olho para a parede em frente e encontro estes detalhes maravilhosos, que a máquina fotográfica que sempre me acompanha logo registou.

Achei estas imagens tão bonitas que, apesar de significarem o final de um ciclo, resolvi que iria estar atenta e registar o renascimento da trepadeira que sempre cobre uma boa parte da parede que suporta aquela escadaria.

Passou algum tempo até os novos rebentos aparecerem. Depois foi galopante o seu desenvolvimento, até a parede ficar parcialmente coberta.

A vinha-virgem é uma planta extremamente curiosa, característica que sempre a orienta para novos lugares e novas aventuras. Essa vontade de progredir levou-a a abraçar a grade que protege a escadaria e através desta atingir o patamar superior, cobrindo parcialmente os degraus dessa área mais elevada.

Esse enérgico avançar implicou uma verdadeira “dança-exploração” através das ferragens do corrimão sendo assim, replecta de vitalidade, que viveu todo o Verão.

Há poucos meses, com a chegada do Outono começou tranquilamente a alterar o seu aspecto e a adaptar-se às cores dessa nova estação.

Em pouco tempo todas as folhas secaram e caíram, apresentando-se assim neste início de ano….

…precisamente antes de ser arrancada e do momento que antecedeu a imagem inicial deste post, aquela que captou a minha atenção.

Em breve todos os troncos serão retirados da parede e a planta podada, para que na próxima Primavera volte a rebentar cheia de força e pronta a iniciar um novo ciclo.

Entre a primeira e a ultima imagem que hoje partilho passou-se basicamente um ano. Com ele fluiram as quatro estações e passaram doze meses no mundo e também na vida desta vossa interlocutora. Nada estará igual porque um ano é tempo bastante neste Viver.

Ainda guardo aquela espécie de encantamento que deu origem a este post, agora mais completo ao sentir que cumpri a “missão” de ser presença no ciclo de vida desta curiosa planta.

Presença que fui e serei…pois sempre que passar por este recanto de Lisboa, ela terá o meu olhar!

Boa semana!🤗

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reencontro

Ao iniciar mais um período de amadurecimento dos seus frutos, esta nespereira informa silenciosamente os que habitam ou trabalham por perto que passou mais um ano na Vida de todos nós.

Esse cíclico frutificar atrai muitas aves, sendo presença certa os barulhentos e assustadiços Periquitos-de-colar (Psittacula krameri) que diariamente a visitam em busca de nêsperas “prontas-a-comer”…não sei se como prato principal ou apenas como uma deliciosa sobremesa.

Na maioria das vezes o simples e cuidadoso gesto de abrir a janela para os fotografar é suficiente para logo fugirem. Aliás, creio que há alguns anos eram bem mais tranquilos e menos assustadiços, o que facilitava esse objectivo. Quem sabe…talvez o constante stress da vida citadina os tenha levado a reagir com mais medo e maior nervosismo…

Este exemplar, apesar de desconfiado, permitiu-me fazer os registos que hoje partilho. E eu agradeci-lhe no final, com o desejo sincero que nos possamos rever e reencontrar no próximo ano!

Entretanto mudou de ramo…

Olhou para a janela desconfiado…ou talvez a se despedir…

…e depois fugiu!

Foi simpático!👍

2022

A proximidade de um novo ano enche-nos de esperança e de futuro, mas é igualmente a altura em que surge o maior pensamento-incógnita de todos, ou seja, irá a Vida permitir-nos usufruir dos próximos…

… doze meses

… cinquenta e duas semanas

… trezentos e sessenta e cinco dias?

Pessoalmente e em seu seguimento, logo outros pensamentos surgem na minha mente…“Se assim for, como evidentemente gostaria, ficarei muito grata, tal como estou grata por este ano que agora termina; mas se tal não se concretizar, será certamente porque terei outro caminho a percorrer. E aí, onde quer que esteja, gosto de imaginar que também estarei grata pela Vida que tive e pelo que nela partilhei…”

……..

O futuro…

… o futuro está neste bater de coração que a minha mão sente quando a encosto ao peito. Muito objectivamente são, em média…

… 72 batimentos por minuto

… 4320 numa hora

… 102 680 num dia

Perante esta evidência tão orgânica como maravilhosa, SIM, prefiro ir vivendo e saboreando um dia de cada vez. Prefiro ir vivendo as imensas 102 680 batidas diárias do meu coração e apreciando o facto de me manterem viva, activa e até aqui saudável.

Mesmo que nestes dias de transição de ano vagueemos pelo futuro, pela esperança, pelos sonhos, desejos e por toda essa panóplia que a mente adora envolver-nos, agarremos com as nossas mãos cada momento que nos é oferecido por este coração que bate dentro de nós. Com apreço, ternura e gratidão.

Seja qual for o significado desta passagem para cada um de vós, que seja um bom 2022 para todos!

a sul

Sempre que possível, eu e o meu companheiro tentamos fazer umas mini-férias antes do final de cada ano, seja como agradecimento por termos chegado até ali, seja desejando que o novo ano se revele um tempo de bons momentos, de olhares amplos e de possibilidades em aberto.

No final de 2020, devido à pandemia e às restrições de circulação previstas, tivemos apenas três dias para esse respirar, sendo o sul de Portugal a região escolhida. No plano, apenas lugares “fora da civilização” e que nos permitissem estar tranquilamente sem máscara e sem pensar no distanciamento físico, algo que se tornou uma preocupação permanente no ultimo ano. Ou seja, lugares longe de pessoas! Também a escolha de um pequeno apartamento nos permitiu não ter que ir para locais mais frequentados e, sem preocupações, usufruir das refeições já confecionadas que levamos.

As nossas explorações centraram-se em áreas de salinas e sapal localizadas entre a Fuseta e Tavira, lugares amplos, de olhar vasto e propícios à observação de aves. Este é um gosto que ambos partilhamos, o meu companheiro com mais técnica e profissionalismo, e eu de uma forma muito mais amadora, versátil e abrangente, encarando as aves como parte de uma natureza imensa e que sempre me encanta.

As imagens que se seguem revelam um pouco da paisagem que nos envolveu e, sobretudo, a beleza que os nossos olhos respiraram nesse hiato de liberdade e de pura natureza.

Termino com uma foto de várias Pegas-rabudas (Pica pica) pousadas ao amanhecer no topo de uma árvore. Quando as vi, instintivamente transportei esta imagem para a situação de grande instabilidade e insegurança que todos vivenciamos e pensei…como seria bom que nos conseguíssemos equilibrar – individualmente e como sociedade – desta forma tão tranquila e harmoniosa!

dois dias, duas imagens

 

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Se o nascer do sol é um instante que a orientação da minha casa sempre permite  acompanhar, já o seu ocaso apenas é visível nos dias mais curtos do ano.

Nos restantes, a presença de um alto edifício impede tal visão, pelo que a imaginação tem um papel importante no seu entendimento, que se baseia apenas na forma como o céu e as nuvens ficam iluminados.

Ontem, dia 11 de Abril, ao ir à janela ao fim do dia, senti que estava num filme de ficção científica ao me deparar com a imagem acima. Imediatamente visualizei uns seres gigantes e alongados olhando para a terra e aparentemente “congeminando” um forma de aproximação ao nosso planeta….

Fiquei encantada com a visão….e rindo de mim própria pela forma como a imaginação pode ser prolifera a criar cenários e histórias.

A máquina fotográfica registou de imediato o momento, bem diferente do observado no dia anterior, como poderão verificar no final deste post.

A diferença entre estas duas imagens é abismal e revela bem a diversidade de olhares que nos são oferecidos pela natureza quando estamos disponíveis para os encontrar.

Além disso, as rotinas de todos os dias ficam mais leves com estes detalhes a intervalar!

 

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Desejo que o fim-de-semana seja doce e vos proporcione bons momentos e muitas surpresas no olhar!

 

 

 

 

olá verão!

 

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A repetição dos ciclos da natureza marca o tempo da nossa vida. Entre um solstício e outro passam seis meses…até ao seguinte outros seis….o que na prática significa um ano que fluiu em nós como um vento, por vezes brisa, por vezes vendaval.

Hoje, no hemisfério norte, damos as boas vindas a um novo Verão e ao dia com mais horas de luz do ano. Para outros será o oposto. E para os que vivem nos extremos norte e sul desta belíssima esfera viajante do espaço, haverá respectivamente 24 horas de sol ou 24 horas de sombra.

Nesse instante que acontece precisamente às 11h 07m de hoje, os sensores da pele e da retina de quem habita nos quatro “cantos do mundo” estarão a receber informações totalmente diferentes. A relatividade da vida está aqui bem expressa: todos estamos certos, sentindo sensações diferentes ou até opostas!
Que bom seria que esta constatação fosse bem mais ampla e abrangesse outros campos que separam a humanidade! Ou que a diversidade fosse tão naturalmente aceite!

Voltando ao tema de hoje, e ao Verão…

…nos últimos dias, uma irrequieta e instável Primavera foi surpreendida por um calor repentino, abafado, tropical e que deixou o ar quase irrespirável. O corpo não apreciou tão brusca mudança e relaxou. O cérebro, pelo contrário, activou as sinapses e os processos do pensamento mas, curiosamente, orientando-os apenas numa direcção: vontade de férias e de descanso!

Sendo o Verão um tempo de energias positivas, simbolicamente um tempo em que a luz supera as trevas, que essa imagem seja nossa mentora mesmo quando cansados e precisando urgentemente de parar e de descansar. Que se reflicta nas pequenas coisas, no detalhe, na vontade de sentir, de estar, de partilhar. De dar algo.

É esse o desejo que me acompanha hoje…aqui… neste cantinho europeu… neste recanto do mundo…neste Universo infinito em que somos apenas um ínfimo ponto….

…e neste dia em que o Verão decidiu nascer cinzento, ventoso e chuvoso em Portugal!

 

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A vida é sempre uma surpresa!

Para uns, que seja um bom Verão…e para outros um Inverno de aconchego!

 

 

 

 

a agenda…

agenda

No primeiro dia de Janeiro de 2018, vivi mais uma vez o ritual da nova agenda. Em papel, como gosto. Agenda escolhida com cuidado, com espaço suficiente para registar o que o futuro gostará de saber, seja algo emocionante ou inquietante…

…há dados que se mantêm todos os anos, como aniversários e outras datas que a memória poderia esquecer. Mas outros existem que a agenda recebe, com surpresa, e curiosa de entender;

…uma agenda do passado tem sempre razão porque, quando era presente, recebeu verdades neutras ou cheias de emoção;

…aconchegada entre agendas guardo numa gaveta uma boa parte da minha vida. Um recanto de memórias que não voaram com o tempo, muitas vezes úteis, por vezes inúteis, mas sempre uma fonte de histórias;

…estranho… é não saber se uma agenda chegará ao fim… ou se haverá uma próxima esperando por mim!

 

Voltando a esse dia e a esse ritual que aprecio …

…diria que preparar uma agenda para um novo ano é um momento solitário vivido num dia essencialmente de alegria e de convívio. É um tempo partilhado com algo que receberá diariamente a minha atenção e o meu olhar, passará pelas minhas mãos e guardará alguma da minha energia. Tranquilamente e sem contestar;

…é uma forma objectiva e peculiar de dar as boas-vindas ao “tempo novo” e “em branco” que me é oferecido, mesmo sem ser pedido;

…revela-se como um dos momentos interessantes de olharmos a nossa Vida como algo especial e bem mais abrangente que os 365 dias que supostamente temos pela frente. Porque, sendo cada um de nós um pequeno microcosmos e um pouquinho da energia que forma este Todo, material e imaterial, temos o dever e a obrigação de tentar o mais possível estar em sintonia com as energias e com a “agenda” deste tão amplo Universo.

 

Que outro sentido e objectivo poderiam ter o Tempo, e a nossa Vida, senão esse?

 

 

 

primeiro ano

 

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Faz hoje precisamente um ano que publiquei o primeiro post neste espaço, facto que me merece alguma atenção.

Discretamente tenho tentado “alimentá-lo” de forma variada, de acordo com o que observo, penso e sinto, mas não só, porque ao estar inserida numa sociedade em constante transformação e pródiga em acontecimentos, de uma forma ou de outra alguns detalhes do mundo acabam por estar presentes.

Mais importante do que o número de seguidores ou de posts publicados, de visualizações, número de likes ou de comentários partilhados, é o que ele tem significado para mim, tendo em conta a forma como então justifiquei a sua criação. Nessa altura escrevi …”Talvez porque os anos estão a passar tão rápido quanto os dias, senti necessidade de estruturar o que me caracteriza. Não tenho planos a cumprir...”

É essa palavra “estruturar” que sintetiza o que se passou neste último ano, porque encaro agora este espaço como o meio que me faltava para dar forma e organizar o que estava latente mas não conseguia “agarrar” coerentemente. Ele está a permiti-lo, porque me “obrigou” a objectivar aqueles pensamentos que surgiam e que no momento seguinte se perdiam, a materializar a imaginação que me constrói ou, ainda, a partilhar algumas das emoções que sinto ou lugares a que a curiosidade me leva. Hoje, há textos, poemas, desenhos ou fotografias que não vão para a gaveta e naturalmente são partilhados. E isso tem sido muito bom!

Reaprendi a estar mais atenta, atitude que ficara parcialmente esquecida com o passar dos anos e das rotinas a que somos obrigados e que sempre criam raízes em nós. Tenho hoje a sensação que aquele “olhar” interior e exterior que a todos alimenta, não apenas é mais abrangente como está mais focado e é melhor aproveitado.

Este período permitiu-me ainda organizar os dias de uma forma mais racional porque, apesar das solicitações serem semelhantes, o tempo necessário para publicar 174 posts apareceu…não sei bem como! Obviamente que muitas horas de sono não foram cumpridas, mas sinto que conquistei muito tempo à vida.

Por último, proporcionou-me uma gratificante viagem pela blogosfera, ao facilitar o acesso a páginas de áreas e conteúdos muito variados, algumas literáriamente excelentes. Estou certa que todas serão fruto do empenhamento de pessoas que, como eu e dando o seu melhor, encontraram uma forma de se expressar e de partilha.

Estou grata a todos aqueles que, de uma forma mais ou menos activa e através do blog ou fora dele, me têm incentivado ao longo deste ultimo ano. Será por mim e por eles, que espero continuar. Assim  a vida o permita.

 

 

 

borda d’água

 

Equinócio de Outono a 22 de Setembro às 15h 21m….
Lua cheia às 20h 05m….
Eclipse penumbral da lua a 16 de Setembro….
Dia Internacional dos Assistentes Virtuais…
Dia de S.Crescêncio e de Sta Anastácia….
Tempo instável….tempo variado…
Enxertar damasqueiros, cidreiras…..no jardim, semear amores-perfeitos…

 

Capturar

São estas e outras informações de um leque bem mais vasto, que o almanaque Borda d’Água disponibiliza há oitenta e sete anos. Sou fã desse folheto porque, de certa forma, ele simboliza o outro lado desta nossa sociedade em que o virtual e o electrónico tem o primado.

Compreendo que para esta nova geração ele não tenha sentido. Talvez o possa ter apenas pelo seu estilo retro, na medida em que é uma publicação de hoje com características e design do passado. No geral, já não lhes interessa saber em que fase está a lua ou qual é a altura ideal para plantar a salsa ou as batatas. A lua não lhes dá nada de objectivo e a salsa ou as batatas compram-se no supermercado. Aliás, para uma grande maioria (porque felizmente há sempre excepções!) o seu olhar apenas é cativado para o conteúdo dos pequenos écrans dos iphones e smartfhones, e já não perdem tempo a olhar para o céu. Muito menos lhes interessará saber que é dia de S. João Nepomoceno, de S. Atanásio ou de Sta Eufrosina, ou ainda que é Dia Nacional dos Moinhos, dia Mundial do Olá ou Dia Internacional da Voz. Também é certo que a previsão meteorológica dada pela app do meteo será bem mais fiável do que o “tempo variado ou instável” do Borda d’Água.

Eu também não planto batatas nem salsa e vou ao site do IPMA ver o tempo, mas aprecio especialmente a “poesia” do Borda d’Água!

Logo nos primeiros dias de Janeiro, começo por gostar de lhe cortar as páginas que vêm unidas, numa espécie de ritual de saudação ao novo ano que está a começar; gosto dos sons das palavras que emprega, tantas já fora do nosso vocabulário; gosto dos estranhos nomes dos santos atribuídos a cada dia do ano, ou quando ele indica que o tempo vai estar chuvoso e eu olho para a janela e o dia está lindo; gosto da linguagem deliciosa das suas previsões astrológicas para o ano a que se refere, ou ainda, no oráculo de cada mês, a forma como descreve cada signo e diz, por exemplo, que as mulheres de Maio, “são formosas e bem proporcionadas, meigas e sensíveis….”, ou que os homens de Julho são “…altivos, orgulhosos e valentes, generosos, boas maneiras e boa figura”; gosto de saber que existem dias mundiais de tudo e mais alguma coisa, que aquela figura histórica, poeta ou artista nasceu ou faleceu naquele dia (muitas vezes, o Google também os recorda na sua página inicial); gosto de saber que as pessoas que não conheço e que vivem nos recantos deste pequeno país, como por exemplo, no concelho das Lajes das Flores ou em Amares, têm feriado em determinado dia e que, por isso, estão cheias de sorte e não vão trabalhar; e gosto ainda de muitas outras coisas que ele nos conta por apenas 2,10 euros/ano!

Mas gosto especialmente de o ter no meu placard e de lhe dar uma olhadela pela manhã antes de sair de casa ou sempre que me apetece. Porque todos os dias tem algo para me dizer ou fazer sorrir!