experimentações #17

E as experiências continuaram orientadas pelo acaso, seja dos materiais seja dos gestos. Muita coisa foi parar ao lixo porque passava aquele ponto chamado “possibilidade” e virava borrão. Digamos que sabia quando isso acontecia…mas não sabia minimamente o que procurava.

Hoje, ao olhar para a maioria destes desenhos encontro pontos comuns entre eles. Encontro a vontade de “guardar algo” versus a vontade de dar/partilhar… encontro um desejo de exteriorização que se manifesta por vezes de uma forma um tanto explosiva…e encontro sempre um lado mais luminoso que contrasta com outro mais sombrio. Como sempre acontece na vida, aliás.

Ao elaborar este post e com um pouco de imaginação, achei muito engraçado o facto de percepcionar no canto inferior direito do último desenho duas figuras semi-ajoelhadas e com as mãos no chão… à semelhança de dois atletas que esperam o tiro de saída numa qualquer pista de atletismo para uma suposta corrida.

Uma espera que levou trinta e três anos a chegar ao meu olhar!

(Dulce Delgado, aguarela e tinta da China sobre papel, 1988)
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superação

 

paraol2

 

 

 

 

Nadar apenas com um braço…
Saltar em altura com uma única perna…
Correr ou nadar sem visualizar a pista…
Jogar voleibol sentado…

 

Ao percepcionar este tipo de imagens nos Jogos Paraolímpicos que estão a terminar, sinto-me estranha. Ou melhor, sinto-me incapacitada de compreender o trabalho, o esforço, a força de vontade, a resistência e a persistência necessária a estes atletas para praticarem certas modalidades, tendo em conta as suas limitações. E ainda chegarem a este evento!

O facilitismo que a nossa integridade física nos concede, deixa-nos a milhas de distância de outras realidades. Nós, que somos os primeiros a ser facilmente invadidos por aquela preguiça que nos impede de ir uma ou duas vezes por semana fazer uma actividade física, apesar de não termos qualquer impedimento nem precisarmos de ajuda para tal. É tudo tão fácil para nós comparativamente com estes atletas!

Olhar para certas imagens dos Jogos Paraolímpicos é uma lição de vida, uma emoção que se instala e que nos faz sentir “pequenos” perante tamanha força de vontade.

Admiro todos os atletas em geral pelo esforço e exigência do seu trabalho, mas admiro profundamente os atletas paraolímpicos pelas dificuldades que enfrentam, pela capacidade de as superar e por persistirem em cumprir os seus sonhos. A seu lado, estarão os treinadores e todos os envolvidos em questões logisticas, num trabalho único de empenhamento que não pode nem deve ser esquecido.