instantes #58

Soure, Coimbra, Portugal, Janeiro 2015
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de volta!

Em dia de regresso…

…começo por agradecer os muitos comentários deixados no ultimo post desejando-me boas férias e a que não dei resposta. O compromisso que fiz de me afastar duas semanas deste espaço foi literalmente cumprido, sendo certo que é importante distanciarmo-nos um pouco do que nos “prende” pois sempre voltamos com um olhar mais atento e renovado.

Agradecer faz parte dos meus dias, muitas das vezes em silêncio e centrada em pequenos detalhes. Hoje porém, para além do agradecimento inicial, também em palavras escritas eu gostaria de…

…agradecer o facto de tudo ter corrido sem precalços nestas duas ultimas semanas;

…agradecer os belíssimos dias de praia e de sol que aqueceram o corpo e aquietaram a alma;

…agradecer ao vento pelos dias em que decidiu soprar sem exagero do quadrante sueste e assim aquecer a água do mar algarvio como tão bem sabe fazer;

…agradecer ao mar não ter exagerado nas ondas e permitido deliciosos banhos entre o tranquilo e o activo;

…agradecer ao céu o seu belíssimo azul…e às nuvens, por não terem aparecido durante toda a semana de praia…mas apenas após esse período!

…agradecer à natureza alguns agradáveis passeios, assim como a possibilidade de observar e fotografar bastantes aves… apesar de Julho e Agosto serem os piores meses do ano para o fazer!

E por último…

…agradecer o facto de ter saúde e condições para poder desfrutar destes períodos fora de casa e das rotinas habituais… e em que os relógios, as notícias e a pandemia quase foram esquecidos!

…e por ter a meu lado um companheiro em doce sintonia na partilha de todos estes agradáveis momentos!

(E já agora agradeço o estarem a ler isto… e a me acompanharem novamente!🙂)

lagoa de óbidos

Neste Outono irrequieto e variável entre a chuva, o cinzento e o azul, partilho um olhar em tons de luz e liberdade. E sobretudo partilho um magnífico detalhe deste Portugal que tanto aprecio. Aí vamos!

A norte da Área Metropolitana de Lisboa encontra-se a sub-região do Oeste, uma das vinte e cinco entidades intermunicipais em que Portugal se encontra dividido desde 1989. Esta área integra doze concelhos rurais e costeiros, possui lugares de beleza única e é sempre uma boa escolha para uns dias de férias. Foi isso que fizemos recentemente, sendo a Lagoa de Óbidos um dos focos da nossa atenção e uma referência nessa região.

Trata-se de um ecossistema húmido que ocupa cerca de 7 km2 e tem um perímetro de 22km. Faz ligação com o mar num belíssimo areal delimitado a norte pela praia da Foz do Arelho e a sul pela praia do Bom Sucesso.

Recebe as águas de vários rios e ribeiras, sendo os principais os rios Real e Arnóia. Na zona mais interior estende-se para Oeste pelo Braço do Bom Sucesso e para Este pelo Braço da Barrosa. Foi precisamente estas áreas que percorremos acompanhando vários momentos da maré.

Não esqueço as primeiras imagens que a lagoa nos ofereceu, logo bem cedo, numa tranquila e límpida manhã deste mês de Outubro. A maré vazia dava o mote e o azul era a cor. Muito perto, eram imensas as aves que pontuavam a área e que de imediato deliciaram e entusiasmaram os dois olhares ali chegados. O meu e o do meu companheiro. Ambos apreciadores de aves e da sua observação, sendo ele o especialista no assunto e eu ainda uma aprendiza.

Flamingos adultos e jovens (bem menos assustadiços que o habitual), deambulavam ao lado de outras espécies de aves, como garças reais e brancas, patos, galeirões, gaivotas, colhereiros, etc. Foi com eles no olhar e um misto de curiosidade e encanto que percorremos trilhos marcados e não marcados, exploramos recantos e subimos aos observatórios existentes.

No final de um dos percursos realizados, estando a maré bastante mais alta, permitiu-nos outra perspectiva da área. Diferente, mas igualmente bonita.

Por fim, e porque a natureza é muito abrangente, deixo dois detalhes bem diferente dos anteriores. O primeiro, a imagem de um Louva-a-Deus que pousou à nossa frente e que nunca tínhamos visto ao vivo;

E por ultimo, um dos principais ex-libris frutícolas do Oeste, a chamada pêra-rocha. Na verdade, deambular pelas estradas desta região é ver amiúde estes frutos pendurados nas árvores e grandes áreas de produção de legumes e frutas. Ou não seja ela uma das maiores produtoras desses bens a nível nacional.

E assim, em tons de fruta vos deixo!

Uma boa semana para todos!

 
Mapas retirados de:

http://naturlink.pt/article.aspx?menuid=80&cid=17407&bl=1&viewall=true

https://www.google.pt/maps/@39.4272278,-9.1575865,12.37z

 

ria formosa II

 

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Voltando à Ria Formosa e aos dias aí partilhados…

…fascinou-me a vastidão, o silêncio húmido e o cheiro a mar dos areais durante a baixa-mar, assim como os passeios sem tempo nem objectivo percorridos naquele ínfimo e simultaneamente tão amplo ponto do planeta.

Nesse deambular, com o corpo seguiam o pensamento e o olhar, por vezes muito perto e íntimos, ou naturalmente seguindo rumos diferentes. A liberdade era total.

 

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Praia da Barra da Fuseta, ilha da Armona

 

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Praia da Terra Estreita, ilha de Tavira

 

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Península do Ancão e ilha da Barreta/Deserta ao fundo

 

Nesses passeios, deliciaram-nos as aves que vagueavam pelo ar, mar, terra ou beira-mar. Gostamos dos seus sons, movimentos, tácticas, e do tempo que exigem ao nosso sentir para não as perturbar.

Afinal, aquele espaço é mais seu do que nosso e por isso, há que o respeitar.

 

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Flamingos na zona do Ludo, Faro

 

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Garça branca no percurso do Ludo, Faro

 

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Gaivotas na ilha da Barreta ou Deserta

 

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Pernilongo no percurso do Ludo, Faro

 

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Chilreta na Península do Ancão

 

Tranquilamente permanecemos em praias silenciosas onde as palavras dos outros estavam longe e não chegavam ao nosso entender. No ar, apenas o chilrear das aves, o som das pequenas ondas ou, pontualmente, o ruído de um barco que passava.

E no corpo, banhos de sol e de mar!

 

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Praia do Barril, Ilha de Tavira

 

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Ilha de Tavira

 

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Ilha da Barreta ou Deserta

 

Retenho ainda a diversidade de trajectos realizados a pé, as distâncias percorridas em barcos de dimensões variadas consoante o destino escolhido, ou os locais em que a componente cultural e de aprendizagem esteve sempre ao lado da paisagística.

 

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Visita guiada pela ria, com saída da cidade de Faro

 

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Passadiço da Ilha da Barreta/Deserta

 

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Salinas no trilho do Ludo, Faro

 

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Cemitério de âncoras na Praia do Barril, Ilha de Tavira

 

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Igreja Matriz de Olhão, séc XVII/XVIII

 

E por fim, quando a noite chegava, ali estavam as estrelas bem visíveis e sem as luzes citadinas para as ofuscarem, desejando-nos naturalmente uma boa noite de descanso.

 

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A Ursa Maior e a Estrela Polar

 

Na generalidade, foi isto o que a Ria Formosa nos ofereceu: muito espaço… muito céu… muitas estrelas… muita natureza… muito mar…e muito, muito ar para respirar!

E outros pormenores captados pelo olhar, que integrarão outro post a publicar!

 

 

 

 

ria formosa

 

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O seu nome é Ria Formosa, mas não é uma verdadeira ria nascida na foz de um rio. Resultou de movimentações arenosas provocadas pelos ventos e marés ao longo do tempo, de que resultou um vasto cordão dunar com seis aberturas para o mar e que abriga no seu interior uma ampla zona lagunar/sapal que é diariamente exposta à dinâmica das marés.

Apesar de ter vivido os primeiros dezassete anos da minha vida no Algarve, pouco conhecia da geografia desta área. Nos últimos anos percorri alguns trilhos dispersos na região, mas sem o espírito de aprofundar as suas características. Agora, depois de alguns dias de férias e de exploração, posso partilhar um pouco do que aprendi, vi e senti.

A Ria Formosa situa-se na metade mais oriental da província localizada mais a sul de Portugal, estende-se por cinco concelhos (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António), abrange sessenta quilómetros da costa sul e é formada por duas penínsulas nos extremos (Ancão a ocidente e Cacela a oriente), e por cinco ilhas-barreira localizadas entre estas (Barreta ou Deserta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas).

ria                 Imagem retirada de  http://evrest.cvtavira.pt/study-sites/

 

Esta área foi classificada como Parque Natural da Ria Formosa em 1987, com o objectivo de preservar e conservar as suas características e interesse biológico. Nessa altura foi necessário arranjar uma legislação de compromisso e não demasiado restritiva, uma vez que algumas das ilhas são habitadas durante todo o ano. Além disso, no Verão são palco de relevantes fluxos turísticos e a actividade piscatória assim como a cultura de marisco em viveiro são muito importante na economia das populações.

Possui um grande número de habitats, como dunas, areais, salinas, lagoas, sapal, áreas agrícolas, matas, etc., assim como flora e fauna característica, sendo muito procurada pelas aves durante todo o ano e intensamente em tempo de migrações.
Esta última vertente, que muito nos agrada, associada ao facto de possuir vastas zonas de areais e praia, foi mais do que suficiente para nos seduzir a explorá-la nestas férias.

Sendo este primeiro post essencialmente informativo, gostaria de referir que a Sede e o Centro de Interpretação Ambiental do parque se localizam em Marim, perto de Olhão. Ele está integrado num percurso de poucos quilómetros que abrange alguns habitats (mata, lagoas, salinas e sapal) e passa por vários locais de interesse, como observatórios de aves, ruínas romanas, um moinho de maré ou uma antiga barca utilizada na pesca do atum.

Deixo-vos com algumas imagens desse trilho…

 

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…terminando com o olhar frontal (e talvez de saudação!) de um dos imensos exemplares do caranguejo “boca-cava terra” que habitam os sapais da Ria Formosa.

Deixo ainda algumas informações práticas sobre os acessos a cada uma destas ilhas. Assim:

Ilha da Barreta/Deserta – apenas a partir da cidade de Faro

Ilha da Culatra – a partir das cidades de Faro e de Olhão

Ilha da Armona – a partir de Faro e de Olhão para a parte ocidental da ilha, e a partir da vila da Fuseta, para a parte oriental da ilha;

Ilha de Tavira – a partir da cidade de Tavira para a ponta oriental da ilha; da vila de Santa Luzia para a praia da Terra Estreita; da zona de Pedras d’el Rei para a conhecida praia do Barril (através de um pequeno comboio); e da vila da Fuseta para a ponta ocidental da ilha.

Ilha de Cabanas, a partir da vila de Cabanas

São ainda muitos os operadores privados que complementam esta rede oficial de transportes para as ilhas-barreira, seja para deslocações simples ou para a realização de circuitos turísticos.

 

Em breve, voltarei a partilhar convosco outros aspectos deste Parque Natural.

 

 

 

 

momentos especiais

 

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Tranquilidade, é o adjectivo mais adequado para caracterizar a costa alentejana, sentimento que se inspira nas suas vastas praias mas igualmente em áreas adjacentes, sendo sempre um prazer ali voltar para rever ou conhecer novos lugares.

Por vezes, as circunstâncias levam-nos a visitar determinados locais na hora perfeita, sendo a luz existente uma mais-valia na percepção das suas potencialidades. Foi o que sucedeu no dia em que fizemos o Percurso da Casa do Peixe, inserido na área da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, uma zona húmida localizada a norte de Sines.

A luminosidade da tarde espalhou sobre a paisagem um tom laranja-prateado que aqueceu o nosso olhar e criou contrastes perfeitos. Apesar de curto, este percurso misturou a ruralidade da zona com a dinâmica da vida da lagoa e das imensas aves que a habitam, nomeadamente uma colónia de flamingos e de muitos galeirões.

Porque as palavras são limitadas, deixo algumas imagens reveladoras do passeio, do nosso sentir e daquele fim de dia. Brevemente voltaremos àquele lugar. Disso estamos certos.

 

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Desejo a todos uma luminosa semana!

 

a nespereira

 

Tenho o privilégio de trabalhar diariamente numa sala com muita luz natural, luminosidade que entra por uma grande janela de onde se desfruta uma razoável vista sobre Lisboa. Para um lado, o olhar pousa na belíssima ponte 25 de Abril e no seu inseparável companheiro Cristo-Rei e, no lado oposto, sobre as cúpulas de alguns edifícios da Baixa da cidade. Mas permite igualmente um olhar mais humanizado, uma vez que esta janela se enquadra nas traseiras de alguns edifícios de habitação.

Naquela “ilha” vive a intimidade de um pedaço da cidade, por vezes nua, por vezes crua, mas muitas vezes doce e soalheira. Há trinta e seis anos que acompanho o tempo a passar por ali, seja nos apartamentos que se foram renovando, seja nos edifícios que perderam a corrida do tempo a favor da degradação e das ervas daninhas, seja no envelhecimento natural dos seus habitantes ou, ainda, através da renovação de gerações, reveladas ao nosso olhar pelo minúsculo vestuário que de vez em quando aparece nos estendais.

E o tempo passou também por uma árvore de fruto, por uma nespereira, a razão de ser deste post. Vimo-la crescer, mas julgo que com os anos se tornou meio selvagem, uma vez que grande parte da copa está sobre telhados de difícil acesso. Talvez por isso, a maioria dos seus frutos secam e morrem na árvore.

Apesar de aparentemente abandonada, estou certa que é uma nespereira feliz, pois está enorme, apanha muito sol, produz imensos frutos e cumpre com rigor o seu ciclo anual de vida. Quando se inicia a Primavera algumas nêsperas já estão amarelas e maduras, começando a servir de alimento a várias espécies de aves que, em divertidas acrobacias, as saboreiam em vários momentos do dia.

Delicia-me assistir a este processo que se repete ano a ano. Por isso, num dia desta Primavera decidi tirar algumas fotografias através do vidro da referida janela, uma vez que todas as tentativas de a abrir resultaram em voos para parte incerta.

Em pouco tempo vi um periquito-de-colar…

 

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…e toutinegras-de-barrete jovens e adultas, cuja diferenciação reside, respectivamente, na mancha castanha ou preta que possuem na cabeça.

 

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Este adulto era um belíssimo cantor!

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Fotografei ainda um pardal…

 

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….e uma rola!

 

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Em momentos não registados em imagens, vi igualmente melros de bico amarelo, pombos e outros pássaros que não identifiquei. Mas estas fotografias permitem ter uma pequena ideia da actividade que se gera em torno daquela árvore de fruto nesta altura do ano. Estou certa que, para além da cor que empresta a este recanto escondido, esta solitária nespereira é um parceiro importante no ciclo de vida das aves que habitam esta área da cidade.

O futuro levará seguramente à repetição deste ciclo. E se a vida o permitir, serei espectadora e cúmplice por mais alguns anos.

Há rotinas que sabem bem!

 

 

 

renovação

 

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A Primavera acordou instável. Talvez por ter chegado a uma segunda-feira, o dia mais difícil da semana… veio com um certo mau humor, fresca, enevoada e até chuvosa.

As perspectivas meteorológicas dizem que esta instabilidade se irá manter por mais algum tempo. Seja qual for a sua duração não vamos dar-lhe importância, porque a energia que a nova estação tem em latência é real e já bem visível.

Essa vida está em todo o lado. Encontra-mo-la nos novos rebentos que brotam em cada árvore, nas plantas que temos em nossa casa, nas flores e na vegetação espontânea que cresce em qualquer pedaço de terra, nas ervas que decoram as fendas dos muros que ladeiam as estradas ou que naturalmente nasce nos interstícios da calçada de pedra que pisamos todos os dias.

Também para a maioria das espécies animais, o apelo da Primavera já é uma realidade. Chegaram as andorinhas para mais uma estadia e, na generalidade das aves, os rituais de acasalamento começam a surgir com os voos e cantos de chamamento. Aliás, bem no centro das nossas cidades, basta ver os movimentos de sedução dos muitos pombos que as habitam. Os instintos de procriação vão atingir o seu auge e a descendência aparecerá nos próximos meses.

O objectivo único de todo este processo será a renovação de gerações. Na espécie humana, a inteligência e a consciência puseram um controle a esses instintos de procriação. Felizmente, acrescente-se. Resta-nos o prazer, e a possibilidade de não nascerem filhos todos os anos, mas apenas quando o desejamos.

Cingindo-me aos aspectos mais físicos que nos suportam, essa necessidade de exteriorização, de movimento, de respirar profundamente, de expor e partilhar a pele seja com o outro, com o o ar ou com o sol, é real e sentida por todos nós.

Essa é a nossa Primavera! Por isso aprecie-mo-la com ternura e alegria à medida que ela se for manifestando com mais intensidade. Afinal, é a Vida em estado puro. Tudo o resto que nos possa incomodar será certamente importante mas, de certa forma, são derivações do facto de estarmos vivos. E isso, é o mais relevante!