Gosto de pensar que o vento que empurra aquele barco está repleto de pensamentos e sentimentos de diversas formas, de sonhos e vontades, tristezas e desejos, alegrias e ternuras, e de muitas das energias que constroem ou destroem cada momento das nossas vidas.
A algumas dessas energias damos toda a liberdade, permitindo que o vento as leve para bem longe; outras porém, ficarão para sempre connosco, ajudando ou impedindo o nosso barco de andar.
…fascinou-me a vastidão, o silêncio húmido e o cheiro a mar dos areais durante a baixa-mar, assim como os passeios sem tempo nem objectivo percorridos naquele ínfimo e simultaneamente tão amplo ponto do planeta.
Nesse deambular, com o corpo seguiam o pensamento e o olhar, por vezes muito perto e íntimos, ou naturalmente seguindo rumos diferentes. A liberdade era total.
Praia da Barra da Fuseta, ilha da Armona
Praia da Terra Estreita, ilha de Tavira
Península do Ancão e ilha da Barreta/Deserta ao fundo
Nesses passeios, deliciaram-nos as aves que vagueavam pelo ar, mar, terra ou beira-mar. Gostamos dos seus sons, movimentos, tácticas, e do tempo que exigem ao nosso sentir para não as perturbar.
Afinal, aquele espaço é mais seu do que nosso e por isso, há que o respeitar.
Flamingos na zona do Ludo, Faro
Garça branca no percurso do Ludo, Faro
Gaivotas na ilha da Barreta ou Deserta
Pernilongo no percurso do Ludo, Faro
Chilreta na Península do Ancão
Tranquilamente permanecemos em praias silenciosas onde as palavras dos outros estavam longe e não chegavam ao nosso entender. No ar, apenas o chilrear das aves, o som das pequenas ondas ou, pontualmente, o ruído de um barco que passava.
E no corpo, banhos de sol e de mar!
Praia do Barril, Ilha de Tavira
Ilha de Tavira
Ilha da Barreta ou Deserta
Retenho ainda a diversidade de trajectos realizados a pé, as distâncias percorridas em barcos de dimensões variadas consoante o destino escolhido, ou os locais em que a componente cultural e de aprendizagem esteve sempre ao lado da paisagística.
Visita guiada pela ria, com saída da cidade de Faro
Passadiço da Ilha da Barreta/Deserta
Salinas no trilho do Ludo, Faro
Cemitério de âncoras na Praia do Barril, Ilha de Tavira
Igreja Matriz de Olhão, séc XVII/XVIII
E por fim, quando a noite chegava, ali estavam as estrelas bem visíveis e sem as luzes citadinas para as ofuscarem, desejando-nos naturalmente uma boa noite de descanso.
A Ursa Maior e a Estrela Polar
Na generalidade, foi isto o que a Ria Formosa nos ofereceu: muito espaço… muito céu… muitas estrelas… muita natureza… muito mar…e muito, muito ar para respirar!
E outros pormenores captados pelo olhar, que integrarão outro post a publicar!
O nevoeiro
apareceu em onda gigante
a partir do horizonte.
Em breve engoliu
o farol do Bugio,
e de cinzento vestiu
o céu
o mar
e o meu olhar.
Na praia,
procurei no céu
o azul que se escondia,
e no mar,
as velas do barco
que o olhar já não via.
Figuras esbatidas
percorriam a beira mar,
visão invulgar
que o olhar absorvia,
pela magia
e beleza sem par.
Muitas ondas
depois
recuou o nevoeiro,
deixando um azul
ténue e rasteiro.
Sem pressa,
retomou a praia o seu lugar,
envolta agora
num manto
quente,
abafado,
mudo e sem ar.
E eu afastei-me
sem pena
nem dor.
Aquele Verão incolor,
fora lindo
refrescante
profundamente envolvente
e bem mais inspirador!