Era uma vez um bivalve pequenino, com genes de ostra.
Teve a sorte de não ser apanhado por um peixe enquanto andou livre, ao sabor das correntes ou nos fundos arenosos. Depois cresceu um pouco, chegando o momento de parar e talvez de se fixar a algo para as suas conchas desenvolver. Muito perto desse lugar estaria um búzio vazio, sem alma nem gente.
A nossa ostra começou a crescer e, nesse expandir de camadas estava a entrada do búzio. Então…porque não aproveitar e ali depositar algum carbonato de cálcio? Uma casa com anexo, não é privilégio de muitos bivalves!
Aproveitou a oportunidade…cresceu…cresceu um pouco mais…o tempo passou… e um dia, a vida que guardava….morreu!
O tempo não parou, porque o tempo nunca pára.
Naturalmente, o mar e as marés fizeram o resto separando as duas partes da ostra, que se afastaram para sempre. Uma ficou só e só estará neste mundo.
Esta não. Agarrada ao búzio, viajaram pelo mar. Muito…pouco…ninguém saberá!
Num dia do mês de Julho de 2018, as ondas do Atlântico deixaram-nas a descansar durante a maré baixa no vasto areal da ilha de Tavira, na Ria Formosa. E aqui entro eu na história…
…ao passear pela beira-mar, vi este conjunto e fiquei encantada não com a sua beleza mas com tão estranha partilha. Agarrei-a com carinho, logo com o intuito de a oferecer a uma amiga bióloga e coleccionadora de conchas, que a recebeu com muito agrado e me explicou, com mais exemplos, o processo que leva a esta partilha de corpos.
Todas as histórias têm um final. Se este é feliz…eu não sei!
Porque…
…talvez este par tivesse preferido ficar naquela beira-mar e deixar que o tempo, a natureza, um instante ou uma onda quebrasse o elo que o une… ou, quem sabe…
..talvez esteja feliz com esta inesperada longevidade, num conforto partilhada com muitas da sua família.
Seja qual for a verdade, obrigada Lília pelas explicações e…cuida bem deste par!