fim de dia…

A segunda-feira é aquele dia em que ainda estamos dessincronizados com a semana. Geralmente é sentido como o mais longo e o que desejamos que passe mais depressa…especialmente quando estamos nas quatro décadas de profissão… já existe um cansaço natural….e uma grande vontade que não haja estes dias!

Hoje, de regresso a casa e já mais “liberta” da energia de segunda-feira, ao ver que o céu estava lindo fui até à praia de Algés a fim de apreciar a envolvência e obviamente, registar o momento.

Perante este espetáculo, respirei fundo… bem fundo…e pensei: bendita segunda-feira por me proporcionares este momento e me permitires apaziguar o que sinto por ti!

Regressei a casa feliz e certa que amanhã, terça-feira, já será um bom dia!

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importante

Em véspera de um novo período de confinamento decretado para o meu país em virtude da pandemia e que também me irá abranger, sei que por algum tempo não passarei por este lugar de todos os dias e por estes belíssimos olhares que Lisboa me oferece.

No meu íntimo e perante esta imagem, para além de agradecer mais uma vez esta dádiva matinal, desejei sobretudo que a energia emanada por este tranquilo nascer do dia se reflicta na consciência deste país, seja alimentando a esperança que nos habita, seja na lucidez e na atitude responsável com que devemos cumprir rigorosamente o que nos é pedido a partir de amanhã.

E temos a obrigação de o fazer em prol de uma sociedade que neste momento tem recursos a atingir o limite e muita gente afectada pelo cansaço, pelo sofrimento e pelo desgaste emocional provocado por toda esta situação. Sem esquecer obviamente as graves dificuldades económicas que já atingem uma boa parte da população.

Por tudo isso e pelo todo que formamos como país, façamos o nosso melhor.

inverno

A buganvília que vive em minha casa floresce quando lhe apetece. Este ano o Outono também foi tempo de floração, enchendo de cor o espaço que habita junto a uma janela. Porém, nesta altura do ano essa janela é muitas vezes fechada devido ao frio e à chuva, o que lhe causa certamente alguma tristeza como planta de exterior que é.
Foi esse o sentimento que esta imagem despertou em mim, num dia cinzento, frio, chuvoso… e de janela fechada! Fiz-lhe um afago e pensei “Ok…se floriste no Outono e o crescimento não parou…não pode ser grave! Há dias assim!”.

Novo pensamento:

A chegada do Inverno ao hemisfério norte neste ano totalmente atípico e de menos afectos, levará provavelmente a uma maior interiorização, a mais momentos de melancolia e a uma evidente diminuição da energia.
Apesar da meteorologia ter muita influência nesse processo, creio que este ano será sobretudo a pandemia a funcionar como “algo invisível e frio” que nos afasta do mundo e impede o calor humano.

Recorrendo a uma metáfora e à imagem acima diria que, tal como a minha buganvília, também nós…

…estamos perante uma “barreira invisível” e limitativa que nos separa do mundo
…o cansaço dessa situação leva a momentos de alguma tristeza
…apesar desse cansaço, continuamos a encontrar energia para viver e lutar
…sabemos que no outro lado dessa barreira estará uma saída e a liberdade
…que a esperança é algo poderoso e que a mudança sempre acontece
…e que a “janela”, mais tarde ou mais cedo se abrirá novamente!

E é com esta imagem que mistura tantos sentimentos que vos desejo um Inverno de esperança, de resiliência e apesar de tudo, sempre de gratidão!

Semelhante desejo dirijo aos meus leitores do hemisfério sul que hoje receberam o quente Verão…mas seguramente com alguns sentimentos análogos aos descritos!

sem descanso

 

IMG_6214ab

 

Uma
duas
três
dezenas
centenas
talvez milhares
de seres
e olhares,
de olás
bons dias
boas tardes
ou até já(s)!

Elas vão
e vêm,
rápidas
orientadas
concentradas
e carregadas…

…de tesouros,
talvez de clamores…
talvez de desamores…
talvez apenas do cansaço
de uma vida
dura
sem tempo
nem paragens
e de infinitas viagens.

Será…

…o efémero encontro
no instante de um cruzar
um abraço de amizade?
De afecto e solidariedade?
Cumplicidade?
Felicidade?

Ou apenas um pedido de ajuda…

É a vida
de uma
duas
três
dezenas
centenas
milhares
de estranhas
e incríveis formigas!

 

(Dulce Delgado, Agosto 2019 )

 

 

 

 

tento…

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…é o nome dado ao stick que permite apoiar a mão mais dinâmica no acto de pintar ou retocar. Em inglês tem o nome de “mahl-stick ou maulstick”.

Normalmente é talhado numa madeira leve e tem uma das pontas protegida com uma “boneca” de espuma ou algodão envolta num material suave, sem pêlo e não agressivo para as pinturas, sendo o mais indicado a camurça.

A sua função é a de proporcionar segurança nos gestos, especialmente quando estão em causa movimentos de grande precisão e o uso de pincéis muito finos. Na área profissional que escolhi há perto de quatro décadas, a da conservação e restauro de pintura, este é um objecto importante.

Antes de enveredar por esta actividade, desconhecia-o totalmente. Para mim “tento” significava “juízo”; e “ter tento”, apenas “ter juízo”. E durante muito tempo em nada associei este objecto ao termo que eu conhecia. Eram apenas palavras que se escreviam da mesma forma.

Hoje porém, os termos “tento” e “tento” estão muito próximos. Na verdade, preciso de “tento” (juizo) para aceitar com humildade que as capacidades se vão alterando com o passar dos anos, sendo  “o tento” (objecto)  imprescindível nesse processo. Porque sem ele, o cansaço no braço é uma realidade bem sentida, e os resultados imprecisos e não satisfatórios. Mas com ele na mão esquerda, a direita sente-se apoiada, confortável, segura e ainda capaz de tudo.

Olho para este companheiro de profissão com um carinho especial e como uma extensão do meu corpo. Talvez com o mesmo sentimento de quem utiliza uma bengala como auxiliar de marcha para se sentir mais seguro.

Os anos passam e as circunstâncias mudam. O importante é estarmos atentos a essas mudanças e a aceitar com abertura e lucidez os “tentos” necessários para que a vida se mantenha saudável e equilibrada.

 

 

e por vezes…

 

17a

 

… por muito positivos que sejamos, em certas circunstâncias é fácil que o cansaço se alie à imaginação e nos leve a construir “filmes” com um guião complexo, pesado e sem perspectiva.

Mas sendo a vida uma constante surpresa e perita em dar “voltas”, inesperadamente as circunstâncias podem mudar, as situações difíceis serem resolvidas sem dramas, e tudo ficar mais leve, nítido e clarificado.

Respira-se então com outro fôlego, renasce um novo olhar e, no silêncio da nossa mente, diremos novamente a nós próprios que…
… complicar realmente não ajuda nem resolve…
… da próxima vez a atitude será diferente…
… e que não vale a pena sofrer por antecipação…basta fazê-lo no “agora”!

Um dia…um dia aprenderemos isso!

Talvez.