
instantes #15

A minha vertente mais céptica não põe minimamente em causa as descobertas e as certezas científicas sobre a presença de dinossauros neste planeta, mas creio que a imaginação humana tem uma significativa quota parte no que se refere a certos detalhes morfológicos como o aspecto e a cor que esses curiosos animais teriam. Contudo, essa minha dúvida não obsta a que aconselhe vivamente um passeio à zona da Lourinhã, vila localizada no extremo NW do distrito de Lisboa e ao Dino Parque que se situa na periferia daquela localidade.
Muito recentemente, junta-mo-nos sete adultos da família, sendo a presença infantil limitada à parcela de criança que todos guardamos dentro de nós e que em determinadas situações rapidamente vem ao de cima e se manifesta. Éramos portanto sete adultos-crianças que naquele dia primaveril aprenderam alguma coisa mais, partilharam um piquenique e tiveram um dia bem passado pelos meandros da história deste nosso planeta.
Este parque temático possui cinco percursos que abrangem vários períodos geológicos da terra e as espécies que neles habitaram: o primeiro percorre o Paleozóico, que ocorreu há uns “meros” 500 e tal milhões de anos (Ma); o segundo, terceiro e quarto percorrem as três eras do Mesozóico, respectivamente o Triásico (250 a 210 Ma), o nosso conhecido Jurássico (210 a 140 Ma) e o Cretácico (140 a 65 Ma); e o quinto percurso, inaugurado recentemente, é dedicado unicamente aos monstros marinhos.
A maioria dos trajectos está muito bem conseguida pela simbiose entre os dez hectares de pinhal que o parque ocupa e os animais presentes. Possui detalhes engraçados e muito bem conseguidos, assim como uma sinalética perfeita e rica em informação. Os modelos, construídos à escala real a partir dos dados existentes, estão no geral bem concebidos e todos revelam expressividade suficiente para nos levarem àqueles remotos tempos e até a sentirmos a sua vibração.
Por tudo isto, se têm crianças na família ou se ainda guardam a vossa curiosidade de criança, aconselho uma visita a este espaço, pois estou certa que o irão apreciar.
Como imagens, partilho apenas a inicial que mostra um aspecto do portal de acesso ao recinto e este detalhe que se segue, bem mais humano e emocional.
As surpresas estão lá dentro e revelar mais imagens seria quebrar esse efeito.
Saliento ainda que a Lourinhã, para além de ser a área de Portugal onde existem mais vestígios de dinossauros, está inserida numa região com muitos locais de interesse e que merecem uma visita.
Por tudo isto, vale a pena o passeio!
Há memórias de infância que ficam bem guardadas, talvez pela ingenuidade a que estão associadas. Recordo pensar que, se fosse caminhando sempre em frente, chegaria a um ponto em que o chão acabava e haveria um enooooorme precipício para o qual poderia espreitar. Essa ideia era assustadora, mas simultâneamente fascinante.
Depois, quando percebi que a terra era redonda, surgiu outra dúvida e esta talvez ainda maior: como é que as pessoas que estavam no outro lado da bola não caíam?
A ida para a escola esclareceu naturalmente estas interrogações silenciosas que me habitavam. Também o aparecimento em casa de um globo terrestre onde o meu país quase não se via contribuiu para a ideia ainda em formação sobre a real dimensão do planeta.
Contudo, creio que a grande tomada de consciência aconteceu já em adulta quando saí de Portugal pela primeira vez e levei duas horas e pouco para percorrer de avião os 2000 kms que separam Lisboa de Paris…ou seja, percebi que precisaria de 20 viagens iguais para dar a volta aos 40 mil quilómetros do perímetro da terra. Esta constatação, sentida na pele e acompanhada pelo olhar que não saía da janela do avião, foi algo de magnífico e inesquecível.
O tempo passou…
Apesar de ainda não ter viajado para além das fronteiras da Europa, a dimensão, características e beleza do nosso planeta fascinam-me totalmente e geram em mim um enorme respeito. Mas igualmente dor e tristeza pela forma como nós, simples convidados, temos maltratado este nosso anfitrião.
Hoje é o Dia Mundial do Planeta Terra.
O dia daquele planeta azul que nos acolheu neste infinito Universo…. e que as tecnologias como o Google Maps ou o Google Earth permitem “controlar” com um cursor e percorrer de lés a lés apenas com um click. Maravilhoso, sem duvida.
Mas também é o dia daquele pedaço de terra que eu imaginei “terminar num precipício”….uma imagem-metáfora que ninguém deseja, mas que já esteve bem mais longe de se tornar realidade.
Em criança, a brincadeira em liberdade fazia parte do meu dia-a-dia. Havia espaço, uma certa autonomia e muita actividade. Depois da escola, a tarde era passada a brincar com amigos, especialmente na rua, onde as corridas e o movimento eram uma constante e as energias saudavelmente gastas a jogar ao manecas, às escondidas, ao badminton, ao jogo do mata ou a saltar à corda. O nosso mundo era restrito… mas era tão salutar!
Duas gerações depois, as diferenças são enormes. O controle pelos pais passou a ser proporcional ao perigo que estes sentem como latente (rapto, abuso, etc.), porque a sociedade ficou “doente” e a liberdade das crianças doente ficou. Porém, mais grave do que isso, é a falta de movimento/actividade que implicou para as crianças o rápido aparecimento de tantos meios tecnológicos e de comunicação, que ocupam desde cedo demasiado espaço nas suas vidas.
As energias são essencialmente gastas com o olhar, com os dedos, com a cabeça, mas não com o corpo. Sentados na sala de aula, o computador está presente; a um canto do recreio está o ecran do telemóvel, do smartphone ou do tablet; e em casa, no sofá, têm isso tudo e ainda a televisão e os jogos de vídeo. E porque os hábitos se enraízam sem darmos por isso, facilmente se acomodam a tal inércia, surgindo desajustes e desequilíbrios, quer a nível do corpo e da mente, quer do comportamento. Então a sociedade “adoptou” a natação e outras actividades extra-curriculares, para tentar colmatar a inactividade em que as crianças vivem. Obviamente que ajuda, mas não é o mesmo.
A culpa não será apenas dos pais nem da escola, porque estou certa que a maioria fará o melhor que pode dadas as suas condicionantes. Mas, a sociedade que somos e que construímos tendo por base a liberdade e a modernização tem muita culpa, pois conseguiu em pouco tempo trocar determinados valores que a orientavam por outros bem menos saudáveis: trocou a liberdade da minha infância pelo controle e pelo medo; trocou o movimento e a actividade pelo sedentarismo; trocou a imaginação e a criatividade pela dependência tecnológica; trocou a valorização das coisas simples, pelo valor da marca e pelo poder do marketing; trocou o respeito, por uma irreverência que por vezes roça a má criação; e trocou principalmente uma série de princípios de igualdade e de partilha que as crianças tinham por um espírito competitivo, de posse e de querer mais.
Obviamente que não quero generalizar, que isso fique bem claro, mas sinto que é o que se passa numa grande parte da nossa sociedade.
O mais curioso é o facto de, em Portugal, estas transformações decorrerem nas últimas décadas tendo por base a liberdade conquistada com o 25 de Abril de 1974, um marco indiscutível e importantíssimo na história do nosso país e do nosso povo. A liberdade adquirida permitiu a escolha, permitiu abrirmo-nos para o mundo, acompanhar o boom tecnológico e todas as mudanças que nele foram sucedendo, as boas e as más. Porém, muitas das escolhas do mundo e da sociedade não foram as melhores nem as mais saudáveis. Para perceber isso, basta estar atento às crianças de hoje, que vivem rodeadas de paredes, reais e virtuais, em vez de céu e de ar livre.
Em tempo de internet com e sem fios, de plataformas digitais com tecnologias de última geração, de transmissões por cabo, satélite e de tantas outras inovações… vou dedicar este post à rádio, no dia que lhe é dedicado em todo o mundo.
Este meio de difusão leva-me a algumas memórias emocionais, todas associadas a um aparelho de rádio Nordmende, que ainda guardo e ouço com muita ternura. No início dos anos sessenta, teria eu quatro ou cinco anos de idade, não havia televisão em casa mas havia esse rádio que tocava todo o dia e nos colocava em contacto com o mundo. Nele se ouvia música, notícias, reportagens e as célebres radionovelas. Nessa época, este aparelho estava colocado a uma certa altura e longe do meu alcance, sentindo-o como algo estranho e que não entendia.
Uma mudança de residência aos seis anos, colocou-o num lugar de fácil acesso. Finalmente podia vê-lo de perto e mexer-lhe nos botões. Um deles fazia movimentar um cursor de sintonização e o outro regulava o volume. À esquerda, uma misteriosa coluna verde e preta (que eu julgava ser um olho que nos via …), diminuía ou aumentava de tamanho consoante o som era melhor ou pior. Tinha ainda muitas teclas mas isso era secundário, porque o que me cativava era o seu mistério. Na verdade, adorava aproximar-me para ouvir o som que dele saía e, especialmente, de espreitar para dentro da zona iluminada do visor. E então pensar que só poderiam ser pessoas muito pequeninas que estavam lá dentro a fazer aqueles sons, ou seja, a falar, a cantar e a tocar música. Mas onde estariam, se eu só conseguia ver umas coisas em vidro e uns fios? Só poderiam ser muito pequeninos e estar bem escondidos….
Santa ingenuidade a minha!
Não sei durante quanto tempo vivi nesse mundo liliputiano, mas esses pensamentos foram tão marcantes que quase consigo senti-los tantas décadas depois.
No final dos anos sessenta esse rádio foi “destronado” com a compra de uma televisão. Entretanto muitos anos passaram e eu fiquei com ele, tratando-o com toda a estima. Hoje, o seu cursor aprecia especialmente as frequências da Smooth FM e da Antena 1, mas recordo com emoção as muitas noites que com ele naveguei por imensos Oceanos Pacíficos, programa que muito apreciava na RFM e que actualmente só existe em versão online.
Neste início do século XXI, não consigo imaginar os meus dias sem a companhia de um rádio. Porque me actualiza, distraí, ensina e faz rir!
A maioria de nós teve um triciclo quando era criança. Pessoalmente, recordo bem o quanto gostava desse brinquedo e as corridas que nele fazia ao longo de um corredor exterior que existia na casa onde vivia, numa distância que, naquela época, me parecia enorme e exigia muitas pedaladas.
Mas outros não tiveram esse privilégio. Além disso, bem cedo deixaram de ser crianças e começaram a trabalhar para ajudar a família, como foi o caso de Jorge Rodrigues. Mas essas circunstâncias não mataram o sonho de um dia ter um triciclo, o que veio a acontecer quando tinha 22 anos…certamente já longe da ideia de nele poder andar!
E depois comprou outro… e mais outro… e muitos mais, tendo hoje uma colecção com mais de seiscentos triciclos, datando o mais antigo do séc. XVIII. Agora decidiu juntar todos os seus “sonhos” e, trabalhando muito para o conseguir, vai abrir o Museu do Triciclo em Mesão Frio, no distrito de Vila Real.
Se acho uma delícia a ideia de existir um museu baseado no triciclo, talvez um dos brinquedos mais apreciados pelas crianças, acho ainda mais interessante a vida do seu criador e a forma como ele lutou para o conseguir.
A sua abertura está prevista para o próximo mês de Setembro. Espero um dia visitá-lo, não só pelo espaço que o triciclo ocupa na minha memória, mas também pelo que este museu significa de trabalho, esforço, empenhamento… e de sonho!
Deixo-vos uma interessante reportagem transmitida no último domingo, dia 28, pela SIC Notícias, sobre este futuro museu e sobre o seu proprietário.