
– Conservar/recuperar determinadas capacidades do ser humano (motoras, sensoriais ou mentais)
– Conservar/ recuperar aspectos e valores originais de certos objectos ou de obras de arte
São vários os campos da vida em que esta parceria “conservar/ recuperar” pode ser aplicada, como são muitas as situações em que o descuramos. Porque cuidar, manter e/ou melhorar exige esforço e… muitas vezes o esforço cansa! Além disso, o facilitismo, a pressa e até um certo egoísmo que nos rege, não se coadunam com o trabalho e a paciência exigidos na recuperação de determinados valores ou capacidades entretanto perdidas. Mas obviamente existem excepções e são muitos os que o fazem no seu dia-a-dia, seja pessoal ou profissionalmente.
Por um lado, temos todos os agentes de saúde, em particular os terapeutas, que se dedicam com profissionalismo, empenhamento e muita paciência aos deficientes físicos, aos deficientes mentais ou aos idosos, numa atitude que visa a manutenção das suas capacidades, mas igualmente à reaquisição total ou parcial de outras que lhes poderão proporcionar autonomia, bem estar e uma melhor integração na sociedade.
Por outro, e num campo totalmente oposto na medida em que não lidam directamente com o corpo, os sentidos ou a mente mas sim com princípios e materiais, encontramos os conservadores-restauradores de arte, que mais não são do que terapeutas que recuperam valores patrimoniais. Também eles zelam preventivamente para que a deterioração não se instale e actuam no sentido de recuperar os aspectos materiais e/ou estéticos danificados por descuido ou acidente, tendo sempre em mente o respeito total pelos valores originais da obra de arte.
Curiosamente, a minha formação profissional abrangeu estes dois campos de acção: primeiro como terapeuta ocupacional, área em que me formei na juventude e trabalhei por um curto período de tempo; e posteriormente, como conservadora-restauradora de pintura, actividade a que me dedico há muitos anos. As semelhanças que apresentam são tão grandes, como são enormes as diferenças que as separam, basta o facto de estar em causa lidar com pessoas ou o lidar com objectos.
Porém, na base de ambas as profissões está a mesma essência, o mesmo tipo de olhar, a mesma filosofia, o mesmo cuidado e, de certa forma, o mesmo tipo de sensibilidade e atenção. Talvez por isso, ambas foram importantes na minha formação como pessoa e têm sido tão complementares ao longo da vida.
Contudo, alargando o campo de abrangência dos termos que dão título a este post, verifica-se que o conceito que lhes está subjacente é, seguramente, a base de toda a dinâmica da vida.
Na realidade, a parceria “conservar/restaurar” representa por um lado, a “luta” que todos necessitamos de empreender para nos conservarmos saudáveis e genuínos; e por outro, o “trabalho de recuperação” e o esforço que nos é exigido quando surgem desequilíbrios provocados por interferências, imprevistos, desvios ou abanões.
Por fim, é interessante perceber que este processo que se passa com cada um de nós é comparável ao que se passa na própria natureza e neste planeta que nos recebe. Também eles têm mecanismos que lhes permite “conservar uma certa estabilidade” e, noutros momentos, reagir com forças mais activas e dinâmicas capazes de contrabalançar e recuperar o equilíbrio…quantas vezes posto em causa por nós, os humanos, a mais inteligente raça que deles depende!