a chuva e a janela

Lá fora, uma chuva persistente continuava a cair e a alimentar a sede da terra.

Entre o meu olhar e o exterior um vidro transparente recebia as gotas que caíam…que aí permaneciam… ou que deslizavam sem rumo definido. Centrei o meu olhar nessa “janela-cenário” e tentei perceber que caminho seguiria a próxima gota…

Impossível, totalmente impossível de determinar. Num ápice senti-me no “jogo da vida”, igualmente imprevisível, aleatório e quantas vezes até desonesto.

Metaforicamente… somos como as gotas de água numa janela em dia de chuva….

…de um momento para o outro podemos ser tocados ou “apanhados” por um qualquer acontecimento, pessoa, sentimento, etc e tudo ficar alterado;

…podemos ser uma gota mais activa, aquela que não pára e avança, que muda de direcção e segue, solitariamente ou depois de “abraçar” outras pelo caminho

…ou ser apenas a gota que foi ficando, sem nada acontecer, acabando mais tarde ou mais cedo por evaporar…

Cada instante pode ser determinante, seja quanto ao passado seja no desenhar do futuro. Diria mesmo potencialmente determinante, como cada uma das gotas de chuva que aleatoriamente tocava no vidro e me fez lembrar a vida de todos nós…com os seus encontros e desencontros, abraços, mudanças de rumo, quedas abruptas, períodos de inércia, indiferença, energia ou actividade intensa, paragens, etc,.

Uma verdadeira “dança da Vida”!

Respirei fundo e de certa forma agradeci por ainda continuar atenta a estes momentos. Resolvi ir buscar a máquina e fazer um pequeno video…que agora verifico que a versão gratuita do WordPress não me permite publicar.

Paciência. Ficam dois detalhes dele retirados e…na próxima vez que a chuva abraçar a vossa janela, observem o “filme”, pois ele será bastante semelhante ao que hoje não consigo partilhar.

Com chuva ou sem ela, desejo a todos um bom final de Outubro!

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sopro

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Intenso,
o vento sopra
na profundidade do meu ouvir,
na pele da minha face
e na frescura desse sentir.

E ecoa na mente…

…entre pensamentos soltos
deste viver,
energias livres
de história
ou raízes.

O que lhes diz?

Nada…
…apenas os afaga
e com eles dança feliz!

 

(Dulce Delgado, Março 2019)

 

 

 

…60!

 

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Dançam as nuvens
as árvores
e um bando de pássaros…

O ar é o palco
A música é o vento
A valsa, o movimento
E o meu olhar, um abraço!

 

Este pequeno poema que escrevi algures na década de noventa, é um dos que mais aprecio.

De certa forma é um poema sem tempo, pois reencontro-me sempre que o leio, o que me leva a sentir que ele foi passado, é presente e será futuro. Essa intemporal-idade que me transmite é uma boa razão para o partilhar neste dia em que cumpro 60 anos de vida, seis décadas de imensos olhares e sentires, de dificuldades e vitórias, de muitas alegrias, mas igualmente da estranha sensação de que tudo passou rápido demais.

Sei que o tempo que me será oferecido será seguramente bem menor que o já vivido. Seja ele qual for, enquanto o puder fazer em consciência será para abraçar, para envolver com o olhar e partilhar em palavras, imagens ou desenhos, não só com os que estão fisicamente mais perto, mas igualmente com os outros que, através deste blog ou não, vão acompanhando o meu sentir nesta aventura que é a Vida.

Fá-lo-ei da melhor forma possível e sempre tentando descobrir/aprender algo de novo todos os dias, seja em mim, seja nos outros, seja no mundo onde me situo ou na natureza que me envolve. E depois partilhar isso. Porque a vida, mesmo com todas as dificuldades com que nos presenteia, não merece outra forma de estar.

Obrigada por estarem presentes nesta simbólica data da minha vida!

 

 

(Dulce Delgado, 7 Maio 2018)

 

 

 

pela cidade

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Num calmo caminhar,
sigo a sombra
do meu andar.

Mas para trás
a sombra rodou,
porque uma luz
se aproximou…

…por pouco tempo…

…ao passar o candeeiro
sorrateira,
para a frente ela voltou.

E assim
neste dançar,
percorremos de luz em luz
aquela rua da cidade,
num jogo de partilha
e de alegre
cumplicidade.

No ar…

… o som do meu caminhar
… a luz da noite
e o silêncio de um par
que nunca me irá deixar!

 

 

(Dulce Delgado, Abril 2018)