vontade de primavera

E eis que ela chega, sempre a tempo e horas no calendário cósmico mas nem sempre de forma equilibrada. Por vezes chega até bastante fora do tempo. Este ano, por exemplo, uma sua sósia passeou por Portugal em pleno Inverno. Foi um período tão primaveril que algumas árvores foram enganadas e mostraram os seus rebentos. Umas semanas depois, essas inocentes e frágeis ramificações ficaram queimadas com a vaga de frio que se seguiu. Até doeu ver isso.

A verdadeira Primavera chegará ao princípio da noite a este hemisfério onde resido (21h 24m). Virá amena e com algumas nuvens, depois de um dia de excelente temperatura que nos deixa uma imensa vontade de Primavera.

Chega certamente vibrante em energia e Vida, algo que espalhará de uma forma mais intensa nos próximos meses seja através do vital desejo de procriação…da cor que dará a árvores, campos e prados… ou, ainda na energia motivadora com que afagará a nossa alma e sentidos.

Aproveitemos essa dádiva gratuita e sem contra-indicações, agora que ela começará a vibrar no timing certo. Que venha equilibrada e com vontade de harmonizar alguns desconfortos do mundo!

Boa Primavera!🤗

(e um bom Outono para quem vive na metade sul deste planeta!)
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entre praias

Se há passeios que me preenchem são os que se desenrolam à beira-mar em tempo de maré vazia.

Adoro aquele transpirar salgado e húmido da areia molhada… as linhas de água que escorrem para o mar esculpindo a área de vazante… as rochas, pedras e conchas… as marcas deixadas na areia pelas aves…mas igualmente o som das ondas ou as ténues neblinas que nos envolvem. E adoro o cheiro que tudo emana e que tem o dom de me transportar para uma infância/juventude bem recheada de momentos semelhantes…mas em que a natureza, nomeadamente a flora e a fauna marinha, era então bem mais efusiva e rica em detalhes. Objectivamente, gosto de tudo o que a baixa-mar nos oferece!

Sempre com o Atlântico no olhar, recentemente realizamos um agradável passeio entre a Praia do Magoito e a da Aguda, ambas localizadas no concelho de Sintra. Este passeio ocorreu no dia do equinócio de Outono, mais precisamente a 22 de Setembro último, sendo uma belíssima forma de dizer adeus ao Verão e de dar as boas-vindas ao Outono.

Partilho hoje algumas imagens mais gerais desse percurso, ficando para outro post que publicarei em breve os pormenores que tanto aprecio.

Percorrido o areal até à praia da Aguda, subimos a grande escadaria que permite chegar ao topo da arriba, sendo o regresso ao ponto de partida realizado num trilho aí existente.

O passeio terminou com a chegada ao ponto de partida. Adoramos o percurso e ficamos com vontade de explorar outras zonas costeiras da região.

Antes de concluir porém, gostaria de partilhar alguns dados sobre a geologia desta área.

Enquanto que a arriba da zona percorrida é essencialmente formada por “uma sucessão de camadas quase horizontais de calcários argilosos e margas”, na praia do Magoito a arriba é uma duna consolidada, ou seja, “uma duna costeira formada pela acumulação de areia por acção conjugada do mar e do vento. Esta duna fóssil corresponde a um estádio do processo de evolução da areia solta para a rocha arenito, processo que dura milhões de anos. A duna consolidada do Magoito foi formada há cerca de 10 mil anos.

A imagem que se segue e última deste post mostra relativamente bem essas características geológicas. Na verdade “podem observar-se laminações oblíquas, que permitem determinar qual a direcção em que sopravam os ventos aquando da formação da duna.»*

Também aqui a natureza nos mostra os seus dotes de escultora!

Boa semana!

 

 
* Informação retirada da Wikipédia 

outono aqui…primavera além…

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Entre nós e a natureza existem paralelismos, mas igualmente formas muito diferenciadas de adaptação. Diria que a energia-vida que nos alimenta é a mesma, mas a sua elasticidade permite manifestações por vezes opostas. Isto vem a propósito do equinócio de hoje no calendário astronómico e das alterações que entretanto ocorrem.

No hemisfério norte, onde resido, inicia-se o Outono. Os dias mais frescos começam a tocar a nossa pele e a provocar aquele primeiro arrepio que sempre nos surpreende. Os seguintes levam-nos a ir buscar um agasalho e, com o avançar dos dias, progressivamente a roupa mais quente irá proteger-nos e substituir o calor do sol. Isto significa que, para retermos e pouparmos energia, tapamos o nosso corpo, sendo com mais ou menos camadas de roupa que enfrentaremos o frio que o Outono e o Inverno nos irão oferecer.

Mas na natureza o processo pode ser oposto, como se constata em muitas espécies do reino vegetal. Vejamos as árvores, nomeadamente as de folha caduca, que enfrentam o frio e os rigores do Inverno perdendo as suas folhas, ou seja despindo-se, num processo assaz interessante e bem diferente do nosso.

Nesse grupo de árvores, à medida que os dias começam a ficar mais curtos e com menos horas de sol, reduz-se a produção de clorofila, o pigmento verde existente nas folhas e responsável pela captação da luz e produção da energia que a planta necessita. Com menos energia, as folhas começam a ficar amarelas e a adquirir aqueles tons outonais que alimentam e deliciam o nosso olhar. Entretanto, a própria planta produz uma substância que se vai acumular na base das hastes de cada folha, que tem como função destruir as células dessa zona e assim impedir a passagem da água. Sem ela, a folha seca, cai, o que acontece progressivamente com toda a folhagem.

Despida e sem folhas, o objectivo de “poupar” está cumprido, porque a área que permitiria perder os elementos vitais foi drasticamente reduzida. Ficam os troncos, bem mais resistentes ao frio e ao gelo, e capazes de guardar o potencial energético da árvore até à próxima Primavera.

Em suma, a natureza despe-se…e nós adicionamos roupa…duas estratégias de sobrevivência opostas e algo incongruentes, se considerarmos que o mecanismo adoptado pela natureza parece muito mais inteligente e genuíno do que o nosso.

Tendo em conta o descrito, perante o colorido que o Outono irá espalhar na paisagem e oferecer ao nosso olhar, pensemos um pouco na importância e na beleza do processo escondido que está a acontecer em cada árvore e em cada folha. Simultâneamente, porque não sentir alguma gratidão no gesto banal de ir buscar um agasalho mais quente e confortável, uma vez que isso significa que, também nós, estamos a iniciar um novo Outono nas nossas vidas?

Entretanto…na metade sul do planeta, o equinócio dará lugar à Primavera e os agasalhos voltarão progressivamente ao roupeiro. Na natureza reaparecerão as folhas nos troncos das árvores… folhas que irão captar a luz e produzir a energia necessária ao ciclo de reprodução que se aproxima e que naturalmente será cumprido.

Aqui…ou além… é constante e activa a adaptação da natureza a este planeta que vagueia pelo universo e onde nós somos apenas convidados. Recordando isso…desejo a todos uma vivência consciente e tranquila do Outono…ou da Primavera!