Com a Primavera que hoje se iniciou às 9h 37m (a.m.), hora de Portugal, chegam os dias maiores e mais luminosos, uma natureza vestida de cor e, em cada detalhe, muita vida em latência brotando para um novo ciclo.
Todavia, apesar de tudo isso sempre me encantar, associo muito esta Primavera a uma “Esperança de Equilíbrio”…a um tempo-força que nos deixará mais próximo de uma estabilidade que acredito será possível nos próximos meses com o controle da pandemia pela vacinação.
E na sequência disso…
…a possibilidade de retornar, mesmo que lenta e progressivamente aos ritmos e gestos conhecidos
… aos afectos sentidos na pele
…à emoção das palavras e gestos sem máscaras
…à espontaneidade social
…aos passeios que não se fizeram
…às rotinas que deixaram saudades
…etc.
Para os que perderam o emprego, a habitação ou algum familiar/amigo durante a pandemia, ou para os que adoeceram e ainda não recuperaram totalmente, talvez os detalhes acima sejam um pouco secundários. Para eles, o equilíbrio estará em arranjar um novo emprego que lhes assegure o que tinham antes, no restabelecimento da saúde, ou no tempo interior necessário ao luto e à aceitação da perda.
Caberá a cada um perceber o que deverá colocar nos “pratos da balança da sua Vida”, para que a estabilidade se instale e seja real. Se for necessário ir à luta, mas sempre tentando envolver essa procura de esperança e de energias construtivas…
…como a boa energia que a Primavera gratuita e silenciosamente nos oferece todos os anos.
Boa Primavera!
(Que esta “esperança de equilíbrio” seja imensa e se estenda igualmente aos meus leitores do hemisfério sul que hoje abraçam o Outono! )
A buganvília que vive em minha casa floresce quando lhe apetece. Este ano o Outono também foi tempo de floração, enchendo de cor o espaço que habita junto a uma janela. Porém, nesta altura do ano essa janela é muitas vezes fechada devido ao frio e à chuva, o que lhe causa certamente alguma tristeza como planta de exterior que é. Foi esse o sentimento que esta imagem despertou em mim, num dia cinzento, frio, chuvoso… e de janela fechada! Fiz-lhe um afago e pensei “Ok…se floriste no Outono e o crescimento não parou…não pode ser grave! Há dias assim!”.
Novo pensamento:
A chegada do Inverno ao hemisfério norte neste ano totalmente atípico e de menos afectos, levará provavelmente a uma maior interiorização, a mais momentos de melancolia e a uma evidente diminuição da energia. Apesar da meteorologia ter muita influência nesse processo, creio que este ano será sobretudo a pandemia a funcionar como “algo invisível e frio” que nos afasta do mundo e impede o calor humano.
Recorrendo a uma metáfora e à imagem acima diria que, tal como a minha buganvília, também nós…
…estamos perante uma “barreira invisível” e limitativa que nos separa do mundo …o cansaço dessa situação leva a momentos de alguma tristeza …apesar desse cansaço, continuamos a encontrar energia para viver e lutar …sabemos que no outro lado dessa barreira estará uma saída e a liberdade …que a esperança é algo poderoso e que a mudança sempre acontece …e que a “janela”, mais tarde ou mais cedo se abrirá novamente!
E é com esta imagem que mistura tantos sentimentos que vos desejo um Inverno de esperança, de resiliência e apesar de tudo, sempre de gratidão!
Semelhante desejo dirijo aos meus leitores do hemisfério sul que hoje receberam o quente Verão…mas seguramente com alguns sentimentos análogos aos descritos!
… nascidas do espírito conciliador, de proximidade e de partilha que estes dias sempre propiciam, ajudem a melhorar os desequilíbrios e a intolerância que circula pelo mundo.
Um Feliz Natal para todos e não deixemos que a esperança se apague!
Depois de um mês literalmente a marcar passo e cansados de estar em cima dos respectivos camelos com as oferendas nas mãos, Gaspar, Baltazar e Belchior chegaram finalmente junto do Menino para o saudar e oferecer os presentes. Isto aconteceu no meu presépio… e em todos aqueles que cumprem e prezam esta tradição do Dia de Reis.
Para os estudiosos fica a investigação sobre a veracidade deste episódio contado nos evangelhos e o seu real significado. Abstraindo-me de todos esses aspectos, o que quero aqui partilhar é apenas o prazer do ritual meio mágico e infantil associado a este tempo que hoje termina no calendário festivo, mas materializado em certos gestos, por vezes sem sentido apesar de sentidos, que se repetem ano a ano, tais como…
…o alterar a localização de algumas figuras do presépio, nomeadamente das ovelhas, imaginando que a “erva” que as alimenta pode estar mais saborosa e fresca noutro sítio …
…pegar de vez em quando nos Reis Magos e “ajudá-los” a avançar dois ou três centímetros no caminho que os levará à gruta onde está o Menino…
…regar a searinha de trigo (outra tradição de família), que na altura do Natal cresce verdejante no meio do musgo…
…recolocar a estrela que orienta os Reis Magos no lugar, porque teima sempre em cair e, sem ela, os Reis Magos podem perder a orientação e não chegar ao objectivo…
…acender uma vela no presépio, apenas porque fica tudo muito mais bonito e mágico, imaginando que o seu calor consegue aquecer a gruta e o menino meio despido…
…ou, finalmente, como sucedeu hoje quando coloquei os Reis Magos junto do Menino, consciencializar-me que se fechou mais uma vez este ciclo que mistura a Vida, a minha e a da minha família, com a tradição, o imaginário, o maravilhoso, a brincadeira, a ternura, o aconchego e a esperança…
…a esperança que estes gestos se repitam muitas vezes, talvez um dia também partilhados com netos, num jogo dinâmico, envolvente e, nessa circunstância, certamente ainda mais lúdico!
Na minha infância e juventude, o dia em que ocorria o Festival da Eurovisão da Canção era um dia especial porque, naquela época, era um evento que se destacava talvez pela ausência de outros. Ainda recordo a maioria das canções que nos anos 60/70 representaram Portugal nesse festival, melodias que eu sempre achava especiais e que na minha perspectiva, mereciam sempre ganhar. Mas isso nunca aconteceu e em cada ano a frustração sentida transformava-se em esperança no ano seguinte.
Entretanto…a vida tomou outros rumos e interesses, e apenas muito pontualmente voltei a dar alguma atenção a esse evento. E quando o fazia era apenas para ver o nosso representante cantar, o que, diga-se na verdade, muito raramente me agradava. O festival cansava-me, porque tudo parecia igual, confuso, muito barulhento e com demasiados estímulos associados. Sem espaço para respirar. Por isso, se me perguntarem quem representou o nosso país nos últimos anos… sinceramente, não sei! Talvez seja triste, mas é a verdade.
Porém, depois de muitas décadas, ontem sentei-me no sofá a ver uma boa parte desse festival e, obviamente, também a nossa belíssima canção. E senti um pouco aquela sensação da infância, de achar que as nossa canção era muito bonita e que merecia ganhar. Naturalmente recuei no tempo, no entusiasmo e na esperança.
Esperança que começou a ser alimentada ao comparar a simplicidade da composição e da interpretação resultante da parceria dos irmãos Luísa e Salvador Sobral, com a confusão e o artificialismo dos restantes temas e performances a concurso. E especialmente, aquando dos primeiro doze pontos que recebemos logo no início da votação. E os doze seguintes e ainda os outros todos!
No final, Portugal ganhou! Fiquei tão contente! E que sensação estranha, porque inesperadamente se cumpriu aquele desejo de infância que tinha ficado latente, quase adormecido. Estou certa que muitos portugueses terão sentido algo de semelhante, pelo menos aqueles que nasceram entre os anos cinquenta e sessenta do século passado e que, tal como eu, viviam com grande sentimento este evento.
Cantada de uma forma muito peculiar e genuína, a canção fala de amor. Simplesmente de amor. E será a forma como este sentimento foi partilhado que convenceu as emoções de milhões de pessoas, os que percebem e os que não percebem de música. Como eu, que encaro esta arte de uma forma muito emocional, com o coração e nada por conhecimento teórico.
Estou quase certa que esta canção marcará um ponto de viragem na qualidade deste evento. Deu para perceber de uma forma muito clara o que as pessoas querem e desejam. Talvez a partir daqui prevaleça o que marca a diferença pela qualidade e não pela quantidade de estímulos, pela confusão e aparato tecnológico e visual.
Mais uma vez podemos ser pioneiros neste mundo. Povo de um pequeno país, mas cheio de força e de garra. Que gosta de descobrir novos caminhos e mostrar novos horizontes como aconteceu à cinco séculos atrás, seja agora, quiçá, no campo da música de uma Europa que perdeu a sua personalidade, pelo menos neste tipo de eventos.
Gosto de alimentar esta ideia, mesmo que daqui a uns anos chegue à conclusão que me enganei e desista novamente de me sentar no sofá. Mas enquanto há vida há esperança, e esperança é algo que nunca me falta.
Por fim… é muito bom perceber que hoje todo o país está feliz com uma canção que fala de amor!