Têm sempre uma magia muito especial aqueles momentos em que os raios de sol se individualizam ao passar entre nuvens. Num instante sou levada aos meus desenhos de infância e aos raios de sol que cuidadosamente desenhava a partir do seu centro.
Com eles sempre viajo pelos céus…. e com eles sempre regresso “escorregando” em alta velocidade ao longo do seu declive. Gosto desse imaginário e desse vertiginoso “reencontro” com o astro-rei.
Hoje, ao nascer do dia, mais uma vez fui levada nessa viagem pelos céus. Estava bonito e apeteceu-me partilhar.
Um passeio pela natureza é um momento de indescritível alegria. Esqueço problemas, complicações, intranquilidades e até as notícias do mundo. E sinto-me liberta. Apenas estou ali para sentir, observar, fotografar, partilhar…e agradecer a beleza dos lugares que me dão passagem!
Por uma razão ou por outra, sempre me vêm à memória imagens de uma infância que, a par das belas praias algarvias, contemplou igualmente muitos espaços onde a natureza e as plantas silvestres eram presença, áreas que percorríamos na brincadeira ou em passeio.
É nesse contexto que recordo as sementes de uma planta que, após serem separadas de um espigão tinham a capacidade de rodar como se fossem ponteiros de relógio. Geralmente colocávamo-las sobre a roupa para ficarem mais libertas e melhor apreciarmos o movimento. Era uma diversão.
Foi há muito pouco tempo que descobri que se trata de Erodium moschatum vulgarmente conhecida como Erva-relógio ou Agulheira-moscada.
Todos os anos a encontro, mas este ano resolvi olhá-la com um olhar mais fotográfico e partilhar no Discretamente esse detalhe da infância.
Nessa época o tempo não existia e estava bem longe do meu pensar. Ele era o presente, os instantes e a brincadeira. E aqueles ponteiros que rodavam sozinhos durante uns minutos eram magia de um tempo em que o encantamento por isto ou por aquilo acontecia naturalmente.
O tempo passou…a ingenuidade quase voou….mas o gesto recente de separar estas sementes e observar os “ponteiros” foi mais uma vez vivido com alegria, o que me deu vontade de rir porque, objectivamente senti o mesmo e continuo sem saber porque rodam aquelas pontas nem qual será o fenómeno físico que desencadeia o movimento.
E percebi que, definitivamente, não quero saber!
Prefiro continuar a olhar para aquela planta-relógio que guarda “ponteiros mágicos” com uma ignorância que ainda me consegue encantar.
Ideias, histórias e pensamentos descansam no silêncio aconchegante de um livro.
Um respirar de mãos gestos e ar, acordam o livro do seu dormitar.
Despertas, logo as palavras se acomodam em suas páginas e lugar, desejosas de ouvir o som de um folhear e de sentir o calor de um olhar.
Abre-se o livro…
…e uma doce energia abraça-as na magia da leitura, um misto de atenção e ternura que as guiará até à mente, onde serão novamente ideias histórias e sempre pensamento!
(Ao Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor que hoje se celebra….e àquela magia que um livro sempre encerra!)
Um passeio nocturno pela Baixa de Lisboa é um ritual anualmente repetido nesta época festiva.
Gosto de o fazer com o meu companheiro com o espírito de descoberta e sem qualquer compra associada para não desvirtuar os objectivos a que nos propomos: apreciar e registar as iluminações natalícias das principais vias e praças do centro da cidade, e sentir de perto a dinâmica própria da época. Se o primeiro objectivo é sempre gratificante pelo factor surpresa, já o segundo foi um tanto confuso pelo vasto “emolduramento” humano de certas zonas.
Constatei mais uma vez que a dupla “pessoas/ luzes” me leva naturalmente a recuar até à infância e à feira anual que agitava a rotina da cidade onde morava no sul do país. Por um lado pelos muitos visitantes que a procuravam; e por outro, pelo jogos luz/cor que o evento oferecia e que para um olhar infantil de há cinquenta anos tinha uma certa magia.
Mas voltemos ao séc. XXI, a Lisboa e a este passeio sempre algo mágico…
…a chuva entretanto caída espalhou luz, brilho, reflexos…e deixou tudo ainda mais bonito, como revela a primeira imagem obtida no “coração” da cidade, a praça do Terreiro do Paço.
Termino com a fachada de uma das principais ópticas do nosso país, onde constatei que a imaginação e o humor também iluminam a cidade!
Acredito que de uma forma silenciosa controla as nossas acções, reagindo na devida altura para se defender e equilibrar.
Aqui e ali terá os seus observadores capazes de captar com a sua sensibilidade a nossa (in)sensibilidade, dados que lhe chegarão de uma forma que desconhecemos. Na altura devida, decidirá onde, quando e como actuar na tentativa de restabelecer o equilíbrio necessário.
Ao encontrar este olhar no tronco de uma árvore, imaginei estar perante um desses seres silenciosos e mágicos. Só poderia ser um desses seres!
Esta Galeria, a que aconselho vivamente uma visita, ocupa a Casa Andresen, aquela que foi a habitação dos avós da poetiza Sophia de Mello Breyner Andresen e que a acolheu em muitos períodos da sua infância. Quer a casa quer os jardins inspiraram Sophia em muitos dos seus contos e poemas.
Numa altura em que se iniciam as comemorações do centenário do nascimento desta escritora (1919 – 2004), quer a casa quer o jardim serão palco de eventos e referências. A par disso, no espaço temporal que se situa entre a Primavera e o Verão, a Árvore do Fogo irá florir, espalhará novamente a sua beleza e cativará muitos olhares. Mas o seu olhar, este olhar que aqui partilho e nos questiona é intemporal e está ali todos os dias.
Não sei a história nem a idade desta árvore, mas gosto de imaginar que é a guardiã daquele jardim. E acredito que, se existisse desta forma há um século, poderia facilmente tornar-se numa fonte de inspiração para Sophia.
Essa ideia torna-a ainda mais bonita!
A natureza é realmente espantosa em seus detalhes!
Perceber o que é Viver,
este Estar
e este Ser,
é tudo o que queremos saber.
Gosto de sentir a Vida
como um acto de respirar,
como um fôlego que entra em nós,
alimenta
cresce
e vai,
para um dia talvez voltar.
A vida seria então um profundo inspirar …
…de sensações sentidas
entre a dor e o amor,
de saberes e presenças
momentos e experiências,
e da emoção,
talvez longa
talvez efémera
de estar nesta construção.
E seria um expirar…
…de pensamentos viajantes,
palavras ditas no ar
sorrisos ténues ou vibrantes,
e de gestos,
de tantos e tantos gestos que são nossos
sem pensar!
Inspirar… Expirar…RESPIRAR…
E no fluir deste Respirar
somos Vida,
resistência
luta
partilha
afectos,
e solidão também.
Mas mais do que tudo
somos,
uma sublime energia
vivendo a aventura
deste acto de magia!
Seguindo ou não as tendências da moda, uns óculos conectam-nos com o mundo quando os nossos olhos já não cumprem autonomamente a sua função. Adaptados com lentes monofocais ou progressivas permitem-nos ver o que queremos e o que não queremos e, de certa forma, também a controlar algumas “inseguranças” ao percebermos mais claramente todos os detalhes que nos rodeiam.
Sendo totalmente apologista do conforto, há muito que uso lentes progressivas, tecnologia que me agradou desde o primeiro instante e com a qual tenho uma forte relação de cooperação e empatia. Ao focar tudo sem necessidade de mudar de óculos, seja o que está próximo, a média ou a longe distância, esta opção permite-me ainda não os perder pois estão sempre no sítio certo.
Mas todas as relações, mesmo as mais próximas e intimas, não são perfeitas. Aprecio a verdade com que os óculos alimentam o meu olhar sobre o mundo, mas há um momento em que me dá um prazer especial traí-los e não os ter colocados. Acontece durante os momentos de higiene, quando me vejo ao espelho e ele me devolve a imagem de uma pessoa bem mais jovem, sem rugas e sem outros detalhes que não vou aqui especificar.
O espelho torna-se mágico! Faz-me sentir mais bonita e por momentos ficar mais próxima da idade interior, da minha real(idade), daquele modo de ser que permanece e que nos faz sentir sempre jovens. E nesses momentos, recordo muitas vezes uma frase de minha mãe, proferida pouco tempo antes de falecer, aos 71 anos: “Filha, eu não percebo…sinto-me ainda uma criança!”
Depois…
… bem…depois acaba a magia do espelho! Coloco os óculos, começa o dia e continua a vida. Quando volto a olhar para ele, já com óculos, sorrio com toda a ternura para aquela quase sexagenária que está ali, também a sorrir para mim….
Eles não são propriamente discretos como este blog aprecia, mas bastante vistosos, coloridos e algo kitch. Contudo, são umas boas almas que vivem felizes na minha casa no meio de uma colecção de muitos e variados coelhos.
Esta é a sua época de eleição, em que andam por aí numa azáfama a distribuir ovos, amêndoas, desejos e magia. A cenoura não, essa é só deles!
Pedi-lhes para aparecerem no Discretamente e, com alegria, desejarem a todos…
… uma doce Páscoa e uma tranquila vivência deste tempo de passagem e transformação, afinal a ideia que alicerça esta época;
… que essa renovação seja sempre no sentido positivo e para algo de melhor, mesmo que mínima e muito subtil;
E ainda…
… que todos os vossos desejos sejam doces… já bastam os “amargos” que vagueiam pelo mundo!