lagoa de óbidos

Neste Outono irrequieto e variável entre a chuva, o cinzento e o azul, partilho um olhar em tons de luz e liberdade. E sobretudo partilho um magnífico detalhe deste Portugal que tanto aprecio. Aí vamos!

A norte da Área Metropolitana de Lisboa encontra-se a sub-região do Oeste, uma das vinte e cinco entidades intermunicipais em que Portugal se encontra dividido desde 1989. Esta área integra doze concelhos rurais e costeiros, possui lugares de beleza única e é sempre uma boa escolha para uns dias de férias. Foi isso que fizemos recentemente, sendo a Lagoa de Óbidos um dos focos da nossa atenção e uma referência nessa região.

Trata-se de um ecossistema húmido que ocupa cerca de 7 km2 e tem um perímetro de 22km. Faz ligação com o mar num belíssimo areal delimitado a norte pela praia da Foz do Arelho e a sul pela praia do Bom Sucesso.

Recebe as águas de vários rios e ribeiras, sendo os principais os rios Real e Arnóia. Na zona mais interior estende-se para Oeste pelo Braço do Bom Sucesso e para Este pelo Braço da Barrosa. Foi precisamente estas áreas que percorremos acompanhando vários momentos da maré.

Não esqueço as primeiras imagens que a lagoa nos ofereceu, logo bem cedo, numa tranquila e límpida manhã deste mês de Outubro. A maré vazia dava o mote e o azul era a cor. Muito perto, eram imensas as aves que pontuavam a área e que de imediato deliciaram e entusiasmaram os dois olhares ali chegados. O meu e o do meu companheiro. Ambos apreciadores de aves e da sua observação, sendo ele o especialista no assunto e eu ainda uma aprendiza.

Flamingos adultos e jovens (bem menos assustadiços que o habitual), deambulavam ao lado de outras espécies de aves, como garças reais e brancas, patos, galeirões, gaivotas, colhereiros, etc. Foi com eles no olhar e um misto de curiosidade e encanto que percorremos trilhos marcados e não marcados, exploramos recantos e subimos aos observatórios existentes.

No final de um dos percursos realizados, estando a maré bastante mais alta, permitiu-nos outra perspectiva da área. Diferente, mas igualmente bonita.

Por fim, e porque a natureza é muito abrangente, deixo dois detalhes bem diferente dos anteriores. O primeiro, a imagem de um Louva-a-Deus que pousou à nossa frente e que nunca tínhamos visto ao vivo;

E por ultimo, um dos principais ex-libris frutícolas do Oeste, a chamada pêra-rocha. Na verdade, deambular pelas estradas desta região é ver amiúde estes frutos pendurados nas árvores e grandes áreas de produção de legumes e frutas. Ou não seja ela uma das maiores produtoras desses bens a nível nacional.

E assim, em tons de fruta vos deixo!

Uma boa semana para todos!

 
Mapas retirados de:

http://naturlink.pt/article.aspx?menuid=80&cid=17407&bl=1&viewall=true

https://www.google.pt/maps/@39.4272278,-9.1575865,12.37z

 

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texturas e detalhes

 

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Nos primeiros dias de Setembro voltamos à Costa Vicentina para usufruir de umas curtas férias. Esta região de Portugal é um lugar de tranquilidade e de imensos olhares, seja o mais amplo que facilmente se envolve nas neblinas locais ou aquele mais minucioso que encontra magníficos detalhes/texturas resultantes da acção do tempo e dos elementos naturais sobre este solo que pisamos.

Restringimos os dias disponíveis a quatro praias, sendo as imagens aqui publicadas captadas unicamente nas Praias de Odeceixe, Vale dos Homens, Carreagem e Amoreira, um troço de pouco mais de 10 Km da costa oeste do Algarve e uma pequena parte dos 130/140 Km do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

A maré vazia em praias que perderam alguma areia nos últimos anos facilitou o acesso a zonas rochosas de grande personalidade. Geologicamente é uma área muito rica, mas a minha ignorância e a complexidade dessa matéria não me permitem complementar este post com dados mais científicos como gostaria. Será por isso uma apreciação puramente visual, emocional e centrada nas texturas encontradas.

 

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Em toda esta área os veios de quartzo “decoram” as rochas de forma diferenciada e quase incompreensível para a nossa mente limitada no tempo. São milhões de anos de história desenhada que está ali perante o nosso olhar em resultado das movimentações dos solos e dos seus sedimentos, de infiltrações, de compactações e, especialmente, de muita, muita erosão.

 

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A interacção da água do mar com a areia, algo que sempre me fascina, cria verdadeiras obras de arte ao ar livre.

 

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A par desta natureza-artista instalou-se a natureza-vida sob muitas e diferentes formas. Mexilhões, lapas/cracas, ouriços e caracóis do mar, caranguejos, camarões, anémonas, algas, musgos, peixes, etc. assumem um papel importante no equilíbrio do ecossistema e deliciam qualquer olhar, mesmo o mais distraído.

 

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Mas a natureza é mestra nas mensagens que silenciosamente nos revela, mensagens que quer eu quer a minha imaginação apreciamos deveras descobrir.

Seguindo esse pensar, diria que a fotografia que se segue (e última deste post) encerra uma dessas mensagens. De uma forma muito simples a natureza diz-nos que o equilíbrio é possível através da diversidade e que em paz se pode viver lado a lado com a diferença, seja ela a que nível for.

Algo que muitos de nós no geral e alguns em particular, sobretudo alguns “leaders” deste mundo,  ainda não entenderam verdadeiramente.

 

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Termino, assegurando que este é realmente um belo recanto de Portugal, especialmente para os apreciadores de tranquilidade, de texturas e de detalhes!

 

 

 

 

 

ria formosa III

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Voltando a este lugar…

No primeiro post publicado sobre este tema optei por dar informações gerais… no seguinte, o meu olhar percorreu a paisagem a nível do horizonte… e hoje, para concluir, irei centrar-me na beira-mar e nos seus areais, pelo que as imagens serão essencialmente detalhes de uma região que vive do dinamismo das marés.

Entre os extremos destes fluxos passam seis horas e alguns minutos, sendo estes últimos variáveis. É assim neste planeta que habitamos, seja aqui ou em qualquer outro lugar junto ao mar. Em Julho, apesar das marés serem mortas, o facto desta área natural possuir grandes bancos de areia permite sentir bem os seus extremos.

Maré vazia…

Nesse recuo, são variadas as formas que o mar escolhe para se despedir da areia…

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Para além dessas aleatórias marcas, ele aproveita os recursos que tem à mão e naturalmente “desenha” na areia suaves linhas ou manchas de maior densidade e visibilidade.

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Nesse tempo de aparente paragem o mar permite o descanso das formas, seja em silenciosa solidão ou em caos partilhado…

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Algumas horas depois do início da vazante, o calor do sol seca a “pele da areia” fazendo nascer novos grafismos. Por outro lado, aqui e ali, surgem marcas reveladoras da passagem de humanos.

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Um segundo…

Será um segundo o tempo que separa o final de uma maré e o início de outra. No relógio. Talvez exista mesmo um período de quietude e de nada, mas à beira-mar esse momento é imperceptível. Porém, com um pouco de imaginação e pela calmaria das águas, vamos supor que seria o instante da imagem que se segue…

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Algum tempo depois, a subida das águas começa a ser visível de variadas formas, seja através das pequenas ondas e das espécies que vêm embaladas por esse fluxo…

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…seja no efeito de ondas mais activas que fazem surgir bolhas resultantes do ar que entretanto se infiltrara na porosidade da areia.

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Em zonas de ria, em que os fluxos são mais passivos, a subida da maré pode ser acompanhada pelo contínuo arrastamento de finas placas de areia na superfície liquida…como pequenas nuvens em andamento que vão projectando a sua sombra no fundo arenoso…

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E assim, ao ritmo da terra, da lua e do mar, a maré vai tranquilamente enchendo. E depois voltará a baixar, sem cansaço nem atrasos.

Enquanto isto… maré após maré…dia após dia…talvez todos os dias do ano…

…na areia seca, as carochas deambulavam sem parar, de declive em declive, até o meu olhar as perder de vista.

Que procuram?… Para onde vão?… Encontrarão a família?…

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Mas a carocha da imagem seguinte era especial e determinada. Por isso termino o post com a sua companhia.

Subia…e caía…subia e voltava a cair…e subia e caía novamente…

E ali ficou, naquela luta, insistindo, na tentativa de chegar a algo….

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Senti-a tão humana e tão parecida connosco!!

(Dulce Delgado, Outubro 2018)

ria formosa

 

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O seu nome é Ria Formosa, mas não é uma verdadeira ria nascida na foz de um rio. Resultou de movimentações arenosas provocadas pelos ventos e marés ao longo do tempo, de que resultou um vasto cordão dunar com seis aberturas para o mar e que abriga no seu interior uma ampla zona lagunar/sapal que é diariamente exposta à dinâmica das marés.

Apesar de ter vivido os primeiros dezassete anos da minha vida no Algarve, pouco conhecia da geografia desta área. Nos últimos anos percorri alguns trilhos dispersos na região, mas sem o espírito de aprofundar as suas características. Agora, depois de alguns dias de férias e de exploração, posso partilhar um pouco do que aprendi, vi e senti.

A Ria Formosa situa-se na metade mais oriental da província localizada mais a sul de Portugal, estende-se por cinco concelhos (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António), abrange sessenta quilómetros da costa sul e é formada por duas penínsulas nos extremos (Ancão a ocidente e Cacela a oriente), e por cinco ilhas-barreira localizadas entre estas (Barreta ou Deserta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas).

ria                 Imagem retirada de  http://evrest.cvtavira.pt/study-sites/

 

Esta área foi classificada como Parque Natural da Ria Formosa em 1987, com o objectivo de preservar e conservar as suas características e interesse biológico. Nessa altura foi necessário arranjar uma legislação de compromisso e não demasiado restritiva, uma vez que algumas das ilhas são habitadas durante todo o ano. Além disso, no Verão são palco de relevantes fluxos turísticos e a actividade piscatória assim como a cultura de marisco em viveiro são muito importante na economia das populações.

Possui um grande número de habitats, como dunas, areais, salinas, lagoas, sapal, áreas agrícolas, matas, etc., assim como flora e fauna característica, sendo muito procurada pelas aves durante todo o ano e intensamente em tempo de migrações.
Esta última vertente, que muito nos agrada, associada ao facto de possuir vastas zonas de areais e praia, foi mais do que suficiente para nos seduzir a explorá-la nestas férias.

Sendo este primeiro post essencialmente informativo, gostaria de referir que a Sede e o Centro de Interpretação Ambiental do parque se localizam em Marim, perto de Olhão. Ele está integrado num percurso de poucos quilómetros que abrange alguns habitats (mata, lagoas, salinas e sapal) e passa por vários locais de interesse, como observatórios de aves, ruínas romanas, um moinho de maré ou uma antiga barca utilizada na pesca do atum.

Deixo-vos com algumas imagens desse trilho…

 

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…terminando com o olhar frontal (e talvez de saudação!) de um dos imensos exemplares do caranguejo “boca-cava terra” que habitam os sapais da Ria Formosa.

Deixo ainda algumas informações práticas sobre os acessos a cada uma destas ilhas. Assim:

Ilha da Barreta/Deserta – apenas a partir da cidade de Faro

Ilha da Culatra – a partir das cidades de Faro e de Olhão

Ilha da Armona – a partir de Faro e de Olhão para a parte ocidental da ilha, e a partir da vila da Fuseta, para a parte oriental da ilha;

Ilha de Tavira – a partir da cidade de Tavira para a ponta oriental da ilha; da vila de Santa Luzia para a praia da Terra Estreita; da zona de Pedras d’el Rei para a conhecida praia do Barril (através de um pequeno comboio); e da vila da Fuseta para a ponta ocidental da ilha.

Ilha de Cabanas, a partir da vila de Cabanas

São ainda muitos os operadores privados que complementam esta rede oficial de transportes para as ilhas-barreira, seja para deslocações simples ou para a realização de circuitos turísticos.

 

Em breve, voltarei a partilhar convosco outros aspectos deste Parque Natural.

 

 

 

 

pela areia

 

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Percorrer a beira-mar,
é afagar a fronteira entre a terra e o mar.

Caminho
de olhares que se cruzam,
de conversas
perdidas na maresia
e de memórias,
que contornam a maré cheia
e preenchem a vazia.

Deixa cada passo
uma marca na areia,
afagos
de humana energia
que suavemente se unem
sem medo de se tocar.

Marcas efémeras
que as ondas irão apagar,
e com elas levar
a doce energia
que no mar ficará
para sempre a flutuar!

 

 

(Dulce Delgado, Setembro 2017)