
instantes #25

Nos últimos dias a zona ribeirinha de Lisboa não viu o sol matinal. Cobria-a um denso e cinzento banco de nevoeiro que apenas deixava visíveis os topos da Ponte 25 de Abril e do Cristo-Rei.
Sempre que tal sucede, de caminho para o trabalho penetro nessa massa que aí se adensa. Hoje mais uma vez isso aconteceu…. e eu mais uma vez levei o corpo e os pensamentos a passear pelo nevoeiro…
Individualmente ou como parte da sociedade, na vida de todos nós surgem momentos complexos, seja porque nos “enganamos” no caminho, seja porque as circunstâncias exteriores se alteraram bruscamente e nos afectam. Como por exemplo, a crise pandémica que estamos a viver. Naturalmente surge a indefinição, a confusão, o receio e amiúde a falta de perspectivas, por vezes o mais difícil de lidar.
Perante o nosso olhar esbatem-se os caminhos, as ligações, pontes e soluções. Tudo é neutro, de uma “beleza” neutra que nem sempre conseguimos compreender.
Na verdade, o que era dado como certo e quase inquestionável pode, de um momento para o outro desaparecer, alterar-se, entrar em rotura, esfumar-se. Tal como desapareceu no denso nevoeiro, metaforicamente falando, a Ponte 25 de Abril, o ex-libris desta zona ribeirinha de Lisboa e que num dia normal estaria presente na maioria das imagens que se seguem.
Como resposta, é fundamental não perder as referências interiores e algumas exteriores, porque elas sempre existem, mesmo que perdidas nos meandros dos imprevistos e dos “nevoeiros”.
Há que acreditar, continuar a caminhar, fixar objectivos, rever perspectivas e, se necessário, “correr” um pouco mais, mesmo que mais devagar. Eventualmente ter a humildade de pedir ajuda se o cansaço e a desorientação for demais. E ter fé, seja em que tom for essa fé.
Este nevoeiro, tal como os nevoeiros da Vida sempre se dissipam. Porque o sol está lá e aparecerá. Assim como surgirão as respostas, os caminhos e até as pontes, seja as que ligam margens de rios, que nos ligam a nós próprios ou as que nos mantêm ligados ao mundo.
Assim é a Vida, entre margens e em nós. Tal e qual.
Branca
é a luz
que ofusca
o olhar…
…são os raios
de sol
e o nevoeiro
a brincar!
Não sou apreciadora de nevoeiro, talvez pelo desconforto e humidade penetrantes que silenciosamente nos oferece. Prefiro realmente o sol, o céu azul e as detalhes limpos de cada estação.
Reconheço contudo a beleza de um lugar quando se envolve com as nuvens e se aconchega nos nevoeiros, especialmente se esse lugar for um recanto de emoções como é para o meu sentir a Serra de Sintra.
Percorrer os seus caminhos em dias brancos permite perceber de uma forma mais marcante o contorno e a expressividade de cada árvore ou ramo, estejam estes íntegros, quebrados ou procurando o afago de outros.
Neste branco respirar apenas o verde ressalta. Aqui, ali ou além. Ele é dono deste lugar e de imensos detalhes de vida que a água alimenta perante o nosso olhar.
…que está prestes a terminar, assim nasceu na zona de Lisboa.
Por um lado apareceu com uma luz forte, profunda e um tanto mística; e por outro, com uma evidente componente de intranquilidade, transmitida pelas irrequietas nuvens.
Uma hora depois, o rio Tejo e as áreas da cidade a ele adjacentes estavam cobertos de um nevoeiro denso e de um frio penetrante, húmido e muito desagradável.
Esse sentir enevoado manteve-se uma boa parte do dia, talvez para nos preparar para a chuva prevista para amanhã, depois de muitos dias de céu azul, limpo e de um sol vivificante.
Esta alternância e sequência de estados e de humores é nossa também. É minha. É tua. É de todos e de tudo.
É a Natureza, tal e qual!
Numa recente incursão pela Serra de Sintra, esta recebeu-nos da forma que mais aprecia: envolta em nevoeiro!
Apesar de eu não ser uma forte adepta da humidade e do frio associados a esse estado meteorológico, nesta serra tão próxima das minhas emoções ele transforma-se em magia para o olhar e preenche-o de tal forma que se torna belo, envolvente e acolhedor.
Ao atenuar os detalhes e as cores, o nevoeiro valoriza as formas e a sua expressividade…
Mas os detalhes estão ali, agarrados aos troncos das árvores, na textura dos blocos graníticos ou no coberto vegetal do solo. Basta olhar…
E na base de toda esta vida está a água, sempre o elemento água, que de uma forma mais ou menos visível está bem presente nesta altura do ano.
Estas poucas imagens, das imensas que aqui poderiam estar, foram obtidas na periferia do Santuário da Peninha, local que fica relativamente perto do cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa Continental.
Espero que as apreciem!
O primeiro olhar que a janela de minha casa hoje me ofereceu foi um rio Tejo transformado num mar de nuvens e de ondas.
No horizonte estendia-se o perfil da serra da Arrábida, e à esquerda, o Cristo-Rei e o pilar sul da ponte 25 de Abril saíam do denso nevoeiro para procurar o céu azul e assistir ao nascer do sol.
Apesar do ar frio que entrava pela janela aberta, esta imagem aqueceu a intranquilidade com que, por esta ou aquela razão, por vezes acordamos para o dia.
Respirei fundo e pensei: “Tal como o nevoeiro se dissipará dentro de algumas horas, tudo passa na nossa vida!”
Essa é a grande verdade!
Por isso… que seja um belo dia!
Seiscentos anos depois, o Infante D. Henrique, de cognome O Navegador e o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses, enfrentou impávido e sereno um “monstro” disforme chamado nevoeiro, que esta manhã se formou no rio Tejo antes do nascer do dia.
Não resisti a captar esta imagem, não apenas pelo simbolismo, mas pelo profundo respeito e admiração que tenho pelos portugueses daquela época. Nas piores condições, eles enfrentaram os “monstros”, interiores e exteriores, para seguir o sonho de descobrir o que estava para além da linha do horizonte.
Algumas horas depois, já apaziguado, este “monstro” dissipou-se, continuando o Infante a sua eterna tarefa de perscrutar o além.
Deste modo, e em tons de nevoeiro e de descobertas…desejo a todos um excelente fim-de-semana!
O dia de hoje nasceu húmido e colorido na região de Lisboa, como revela esta imagem que a janela de minha casa permitiu ao primeiro olhar da manhã.
Bancos de nevoeiro descansavam nos vales e uma nuvem horizontal, com vontade de ser diferente das restantes, pontuava o espaço e fazia nascer uma nova paisagem e uma nova linha do horizonte.
Respirei fundo e agradeci. Certamente que com este prelúdio, será um dia bom!
De elemento a elemento se faz uma construção… e de tábua a tábua se constrói um passadiço em madeira, aqueles belos caminhos suspensos, ou não, que permitem apreciar a beleza de certos locais sem colidir com a sua sustentabilidade e preservação.
Apreciando as potencialidades desses equipamentos de engenharia mais ou menos complexa, já lhes dediquei um post no início deste blog. Hoje volto ao tema porque um recente período de férias permitiu-nos explorar e percorrer duas dessas estruturas, muito diferentes na construção, mas igualmente no esforço que exigem, na paisagem que as envolve e nos estímulos que oferecem aos nossos sentidos. Refiro-me aos passadiços do Paiva e aos passadiços da Barrinha de Esmoriz, ambos localizados a norte de Portugal.
Os primeiros “adaptaram-se” às encostas do rio Paiva, um rio de montanha afluente do Douro e um dos menos poluídos da Europa. É um percurso exigente pelo declive, mas que revela uma beleza muito própria que será certamente maior noutra altura do ano (na Primavera, por exemplo), em que o verde estará mais presente assim como o caudal do rio mais forte.
Neste trajecto é fundamental que a atenção seja dividida entre a paisagem e o nosso andamento porque, não obstante ser seguro e estar bem construído, nem sempre a linearidade do passadiço coincide com o grande recorte e heterogeneidade das encostas onde se adapta. Apesar da(s) protecção(ões) lateral(ais), esconde perigos para adultos mais distraídos… e para crianças, sendo da responsabilidade de quem as acompanha estar muitíssimo atento.
No total, este equipamento acompanha 8,7 quilómetros do percurso do rio. Nos extremos do passadiço existe um serviço de táxis com um preço fixo, que permite um cómodo voltar ao local de partida a todos os que não pretendem percorrê-lo novamente. Neste site, encontram toda a informação e podem efectuar a reserva de bilhetes, adquiridos pelo valor simbólico de 1 euro!
Já a linearidade do passadiço da Barrinha de Esmoriz/Lagoa de Paramos, permite um passeio em total tranquilidade. Fácil para o corpo e suave para o olhar, estende-se por mais de oito quilómetros de sapal, canavial e dunas, e integra várias derivações que permitem o acesso a praias existentes na área. Atravessa o esteiro por uma elegante ponte, único local em que esse equipamento é um pouco mais elevado, destacando-se por isso na paisagem.
Possui um observatório de aves, mas tem vários locais propícios à visualização de uma grande variedade de passeriformes, o que nos deu um prazer redobrado.
Se os primeiros foram transpostos num dia cheio de luz e com um belo céu azul, este último foi percorrido sob um céu cinzento e algum nevoeiro. Mas vimos nesse facto uma complementaridade interessante pela diversidade de sentires e olhares que ambos nos permitiram. Porque em tempo de férias, especialmente… “se nada podes fazer a um dia cinzento…então aproveita-o simplesmente!” E foi isso que fizemos com alegria!
Termino com uma sugestão: explorem estes espaços, pois ambos proporcionam excelentes passeios!