instantes #55

Um instante em tons de azul…

….para equilibrar o cinzento e a chuva dos últimos dias. E que felizmente vão continuar!👍

Bom fim-de-semana!🤗

(Praia da Lagoa de Albufeira, Portugal, Setembro 2021)
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mar do meu olhar

Enormes,
as ondas envolviam-se sobre si
num aconchego ao espaço
e olhar para o interior.

Crescendo em tamanho e força
libertavam um véu
que se desfazia no tempo
no vento
no mar
e no espanto do meu olhar!

Por fim,

a explosão
e a festa do branco,
um campo de espuma
como um campo de neve,
sem desaparecer
sem nunca deixar de ser!

Apetece tocar…
Apetece fugir…

Estranho o mar
e as suas formas…
…estranhos os sentimentos que me provoca!

Sempre presente na minha vida,
querendo o meu sentir
agarrando o meu fugir,
não me permitindo deixar de olhar.

Porque é mar
de amar…

…e porque eu tenho medo!

Para este Dia Mundial do Mar (26 Setembro)…
…partilho mais um poema antigo, não datado, mas sempre actual no meu sentir…e a acompanhá-lo uma imagem obtida em 2017 na Praia da Costa Norte (ou Guia), em Sines.
Estavam umas ondas belas, assustadoras e inesquecíveis!  

mar emoção

Mar
emoção
pleno de vida
grávido de ondas e energia
reflexo do meu coração.

Ondas crescentes
acariciam o mar azul
invadem o meu corpo
penetram os meus sentimentos.

Depois de tanta ternura
a alegria da explosão,
na pele do mar vivi
o gosto da aventura!

Numa fusão entre águas
dilui-se a espuma no azul sereno,
alimentando o sonho eterno
dos amores que não deixem mágoas.

(Dulce Delgado, poema antigo, não datado)

continuidade

Terminou o Verão e diluem-se no Outono os últimos instantes com sabor a praia. São momentos maravilhosos pela luz apaziguadora desta época do ano, pela tranquilidade que transmitem ao corpo e pelo amplo espaço que os areais com poucos visitantes permitem ao olhar. Tudo é paz. Ali não entram as incongruências do mundo.

É possível que ainda retorne à praia neste Outono, mas a despedida formal, aquele ultimo banho de agradecimento está em mim. Frio e intenso. Faz parte de um silencioso e íntimo ritual que acontece anualmente, como o ponto final de uma frase….cujo tema reaparece todos os anos a fim de escrever mais um parágrafo.

Entretanto, a vida seguirá pelos nossos dias. É esse o maior desejo. E na natureza também. Sempre.

Nesta praia da despedida e em todas as praias, a areia será movida pelo mar e pelos ventos.. e as ondas voluntariosas e artistas continuarão a desenhar na beira-mar as suas emoções. Todos os dias, sem falhar.

Em linhas simples e belíssimos caminhos de nada!

a arte do mar

 

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Como um gesto
de mão
e de mar,
as ondas desenham
nuvens
montes
vales
e efémeras paisagens
sem par.

Onda vem…
onda vai…
e outra a abraça no seu recuar!

Cada onda tem um traçar,
desenhos que o meu olhar
aprecia
mas que os corpos,
indiferentes,
pisam sem reparar…

Como é bela a arte do mar!

 

(Dulce Delgado, Agosto 2019)

 

 

 

ondas

 

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Uma onda…
outra…
e outra mais…
muitas ondas…

Linhas deslizantes
que se cruzam
neutralizam
e ultrapassam
no tempo de um olhar.

Desejos fluidos
do mar
nascidos em cada instante,
seja ao longe
na linha do horizonte,
ou aqui,
na beira deste lugar
tão fácil de eu amar!

Uma onda…
outra onda…

Serão as ondas
as mãos do mar
que acariciam a beira-mar?

 

 

(Dulce Delgado, Outubro 2018)

 

 

ria formosa III

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Voltando a este lugar…

No primeiro post publicado sobre este tema optei por dar informações gerais… no seguinte, o meu olhar percorreu a paisagem a nível do horizonte… e hoje, para concluir, irei centrar-me na beira-mar e nos seus areais, pelo que as imagens serão essencialmente detalhes de uma região que vive do dinamismo das marés.

Entre os extremos destes fluxos passam seis horas e alguns minutos, sendo estes últimos variáveis. É assim neste planeta que habitamos, seja aqui ou em qualquer outro lugar junto ao mar. Em Julho, apesar das marés serem mortas, o facto desta área natural possuir grandes bancos de areia permite sentir bem os seus extremos.

Maré vazia…

Nesse recuo, são variadas as formas que o mar escolhe para se despedir da areia…

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Para além dessas aleatórias marcas, ele aproveita os recursos que tem à mão e naturalmente “desenha” na areia suaves linhas ou manchas de maior densidade e visibilidade.

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Nesse tempo de aparente paragem o mar permite o descanso das formas, seja em silenciosa solidão ou em caos partilhado…

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Algumas horas depois do início da vazante, o calor do sol seca a “pele da areia” fazendo nascer novos grafismos. Por outro lado, aqui e ali, surgem marcas reveladoras da passagem de humanos.

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Um segundo…

Será um segundo o tempo que separa o final de uma maré e o início de outra. No relógio. Talvez exista mesmo um período de quietude e de nada, mas à beira-mar esse momento é imperceptível. Porém, com um pouco de imaginação e pela calmaria das águas, vamos supor que seria o instante da imagem que se segue…

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Algum tempo depois, a subida das águas começa a ser visível de variadas formas, seja através das pequenas ondas e das espécies que vêm embaladas por esse fluxo…

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…seja no efeito de ondas mais activas que fazem surgir bolhas resultantes do ar que entretanto se infiltrara na porosidade da areia.

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Em zonas de ria, em que os fluxos são mais passivos, a subida da maré pode ser acompanhada pelo contínuo arrastamento de finas placas de areia na superfície liquida…como pequenas nuvens em andamento que vão projectando a sua sombra no fundo arenoso…

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E assim, ao ritmo da terra, da lua e do mar, a maré vai tranquilamente enchendo. E depois voltará a baixar, sem cansaço nem atrasos.

Enquanto isto… maré após maré…dia após dia…talvez todos os dias do ano…

…na areia seca, as carochas deambulavam sem parar, de declive em declive, até o meu olhar as perder de vista.

Que procuram?… Para onde vão?… Encontrarão a família?…

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Mas a carocha da imagem seguinte era especial e determinada. Por isso termino o post com a sua companhia.

Subia…e caía…subia e voltava a cair…e subia e caía novamente…

E ali ficou, naquela luta, insistindo, na tentativa de chegar a algo….

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Senti-a tão humana e tão parecida connosco!!

(Dulce Delgado, Outubro 2018)

carícias ondulantes

 

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Rasga o barco a superfície do rio…

Na água, um arrepio
branco
de espuma
penetrante
e frio.

Mas em breve
surgirá novo sentir…

…porque as ondas
divergentes e ondulantes
nascidas desse frio,
são carícias que percorrem
a pele do rio…

…doce
e lentamente…

…até desaparecerem
no azul,
no meu olhar
e no vazio!

 

 

(Dulce Delgado, Agosto 2018)