Como peões ou como condutores, as faixas de atravessamento são locais a que associamos um maior cuidado e atenção, tendo sempre como base um número bastante restrito de acções: olhar, parar, atravessar e prosseguir.
Nelas se cruzam peões entre si, condutores com condutores e peões com condutores, numa troca mais ou menos silenciosa de energias e de humores. Basta estar um pouco mais atento para nos apercebermos de:
– variados graus de distracção
– olhares de apreciação e de sensualidade
– indiferença
– paciência ou impaciência
– acenos de agradecimento
– olhares e sorrisos que iluminam quem os recebe
– olhares de recriminação ou de condenação
– surpresa
– falta de respeito
– irritação
– cansaço
– pressa
– gestos de provocação
– impropérios mais ou menos desagradáveis
– situações de embaraço
– situações caricatas e que fazem rir
– pedidos de desculpa
– etc.
Tendo isto em conta e ainda que gosto de encarar os pensamentos como formas vivas, animadas, humanizadas, energéticas, moldáveis e mais ou menos coloridas…
…um dia destes, ao olhar com mais atenção para a dinâmica dos poucos metros quadrados de uma passagem de peões, imaginei todos esses humores, pensamentos e energias a “flutuar” e disputando entre si uma entrada em cena:
…que condutor tão cuidadoso! Merece um belo sorriso!
…tens que pedir desculpa!
…aquele condutor está num dia difícil…vai sair asneira!
…vou fazer com que aqueles peões “choquem”… e se olhem nos olhos…
…hum…que visão interessante!…
…vai, vai ter com aquela senhora idosa, ela precisa de ajuda…
…não me apetece parar o carro…vou fazer que não vejo…e passar à frente daquele peão!
…doí-me a perna…não consigo atravessar mais depressa…tenham paciência…
…mais peões? Já chega de paragens por hoje! Quero-me despachar!
…estás com pressa…agora esperas!
…por favor, agradece-lhe com um aceno, não custa nada e é simpático!
…etc, etc.
Sim…eu sei que este é um post sem sentido… nem finalidade… quase absurdo…mas por vezes apetece escrever as coisas absurdas que nos passam pela cabeça!
Imagem retirada de:
http://rr.sapo.pt/noticia/59669/o_vermelho_nao_e_uma_ordem_para_muitos_peoes