abril de liberdade

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Quarenta e quatro anos passaram sobre o 25 de Abril de 1974, uma das datas mais importantes na dinâmica do meu país. Um tempo curto na história de Portugal, mas bem mais amplo no contexto da vida humana, apesar de certamente ser sentido por muitos como um sopro que passou apressado e a correr.

Em Abril de 1974 eu tinha quinze anos, o que significa que três quartos da minha existência foram vividos respirando a liberdade conquistada nesse dia. Até essa data, não era minimamente politizada para perceber o que se passava no país. Sabia apenas que havia a guerra do Ultramar, algo que acontecia muito longe e que não afectou directamente a família porque as mulheres sempre predominaram.

Posso afirmar que a falta de liberdade que então existiria não afectou a liberdade que eu apreciava e que se baseava no silêncio, na calma e numa criativa solidão. E quando precisava de sociabilizar, o que me era permitido era mais do que suficiente, não sendo gerador de conflito nem de nenhum desejo inconsciente de liberdade. Diria que a vida simplesmente fluía nas paisagens a sul do meu país, entre a vida escolar, a leitura, a escrita, o mar, a praia e os seus areais, espaços que eram usufruídos com prazer durante grande parte do ano.

Só a partir desse Abril é que me apercebi, progressivamente, da “ignorância” em que vivia, seja quanto à conjuntura política, seja sobre o sofrimento de tantos resistentes que lutaram por esse dia. Esse abrir de olhos foi mais marcante quando, um ano mais tarde vim residir para Lisboa e, com a democracia ao rubro, compreendi através da cultura, da informação então disponível e no dia-a-dia, a real importância da vivência em liberdade.

Nesses idos quinze anos da minha adolescência, apenas o acto de pensar no futuro e nos quarenta de idade ou no enigmático ano 2000 era algo estranho e facilmente associado à velhice. Nunca imaginei que chegaria a este longínquo 2018 e aos sessenta que espero ele me ofereça em breve. E muito menos pensei que a liberdade dada por esse 25 de Abril de 1974 me permitiria “alimentar” com toda a autonomia um espaço como este, discreta ou indiscretamente, cujos limites são apenas impostos por mim e pelo meu senso.

Olho com muita ternura para a ignorância que tinha nesses tempos, ou melhor, para algo que fica entre a ignorância e a inocência. Assim como olho com um profundo respeito para todos os que activa e conscientemente lutaram, sofreram e morreram durante décadas para que aquele dia de Abril fosse uma realidade. E para que hoje, as palavras sejam naturalmente possíveis.

Não tendo a imagem de um cravo vermelho, a flor-símbolo deste dia para iniciar o post, inseri a de outra espécie, cujo nome desconheço mas que me faz companhia na janela.

Chama-se a isto… “liberdade” criativa…ou “liberdade” de escolha!

 

 

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ética

 

A candidatura tardia da búlgara Kristalina Georgieva a Secretário-Geral das Nações Unidas mostrou duas perspectivas (des)interessantes do mundo em que nos movemos.

Por um lado, os jogos de poder e as manobras políticas levadas a cabo para chegar a determinados objectivos; e por outro, a falta de integridade que prolifera por aí, especialmente nas pessoas que deveriam dar o exemplo.

Se esse primeiro detalhe já não nos choca demasiado porque infelizmente faz parte da realidade de todos os dias, o segundo incomoda, porque não se entende como alguém é capaz de entrar para a disputa de um alto cargo mundial no final das provas de selecção, sem passar por nenhuma das fases preparatórias que todos os outros cumpriram. Em português chama-se a isto oportunismo…ou uma boa cunha!

Como pode esta senhora sentir-se confortável nesta situação, quando o cargo em causa defende a união, a ética, a solidariedade e, teoricamente, os bons princípios? Na verdade tudo isto é muito estranho e nada transparente.

Se fosse eticamente correcta, Kristalina Georgieva não teria cedido a pressões fosse de quem fosse, inclusive da chanceler Merkel, a grande impulsionadora da sua candidatura. Recusaria peremptoriamente fazê-lo nesta fase da eleição, por respeito a si própria e a todos os candidatos que seguiram as fases de selecção estabelecidas.

Mas ética… é algo que raramente existe em política!

 

 

brasil

 

O que se passa com o Brasil?

O que é que está a acontecer no país da alegria, da boa disposição natural e de uma certa tranquilidade? Até há pouco tempo, o que de pior acontecia no Brasil era associado ao tráfico de droga, aos gangs das favelas, etc., ou seja, à classe com menos poder e provavelmente menos educação. Apesar disso, parecia relativamente saudável e a crescer, o que justificou o retorno de milhares de emigrantes ao país a fim de aí reconstruírem as suas vidas.

Porém, em relativo pouco tempo, tudo parece ter mudado. Hoje o Brasil parece um país doente. Neste momento, quando penso nele, associo a um daqueles jardins que estava relativamente bonito, mas que em pouco tempo deixou de o ser porque as ervas ruins cresceram sem controlo. Com o desabrochar dessa nova espécie, foram-se os princípios, foi-se o bom senso e entrou-se no ”vale tudo” para se chegar onde se quer. É como se tivesse ocorrido uma estranha epidemia naqueles que deviam ter mais juízo como representantes de um país, ou seja, os políticos, os partidos políticos, os detentores do poder, a justiça, etc. supostamente as pessoas com melhor nível de educação e das quais se esperaria uma postura correcta.

Honestamente, o que incomoda, não é saber em que lado ou partido está a razão, se à direita ou esquerda, e ainda menos se a presidente deveria ou não ter sido destituída. O que me incomoda mesmo no actual Brasil, é ter a sensação que o país está à nora e perdeu a razão. Tornou-se estranho, desunido, extremado e quase absurdo, na medida em que as instituições se desdizem/anulam, e os partidos querem à força manter ou ganhar o poder. É certo que isso acontece um pouco em todos os países, mas não desta forma tão rude e sem princípios.

Deste lado do Atlântico, sou certamente uma ignorante da verdadeira realidade do país. O que escrevi é apenas um sentir resultante das informações diárias e eventualmente limitadas e/ou tendenciosas dos meios de comunicação. Mas, o que gostaria mesmo, era que o Brasil rapidamente se reencontrasse e saísse deste filme, porque este filme triste não faz parte do seu ADN. Estou certa que o povo brasileiro é bem melhor do que aquilo que estamos a ver diariamente através dos seus representantes. O mundo precisa de um Brasil decente, com bom senso e com boa energia.

Além disso, sendo palco em breve de uma Olimpíada, seria bom que se equilibrasse e conseguisse integrar e transmitir o espírito de paz, de respeito pelas diferenças e de união que caracterizam esse evento.