dia de reis

 

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Depois de um mês literalmente a marcar passo e cansados de estar em cima dos respectivos camelos com as oferendas nas mãos, Gaspar, Baltazar e Belchior chegaram finalmente junto do Menino para o saudar e oferecer os presentes. Isto aconteceu no meu presépio… e em todos aqueles que cumprem e prezam esta tradição do Dia de Reis.

Para os estudiosos fica a investigação sobre a veracidade deste episódio contado nos evangelhos e o seu real significado. Abstraindo-me de todos esses aspectos, o que quero aqui partilhar é apenas o prazer do ritual meio mágico e infantil associado a este tempo que hoje termina no calendário festivo, mas materializado em certos gestos, por vezes sem sentido apesar de sentidos, que se repetem ano a ano, tais como…

…o alterar a localização de algumas figuras do presépio, nomeadamente das ovelhas, imaginando que a “erva” que as alimenta pode estar mais saborosa e fresca noutro sítio …

…pegar de vez em quando nos Reis Magos e “ajudá-los” a avançar dois ou três centímetros no caminho que os levará à gruta onde está o Menino…

…regar a searinha de trigo (outra tradição de família), que na altura do Natal cresce verdejante no meio do musgo…

…recolocar a estrela que orienta os Reis Magos no lugar, porque teima sempre em cair e, sem ela, os Reis Magos podem perder a orientação e não chegar ao objectivo…

…acender uma vela no presépio, apenas porque fica tudo muito mais bonito e mágico, imaginando que o seu calor consegue aquecer a gruta e o menino meio despido…

…ou, finalmente, como sucedeu hoje quando coloquei os Reis Magos junto do Menino, consciencializar-me que se fechou mais uma vez este ciclo que mistura a Vida, a minha e a da minha família, com a tradição, o imaginário, o maravilhoso, a brincadeira, a ternura, o aconchego e a esperança…

 

…a esperança que estes gestos se repitam muitas vezes, talvez um dia também partilhados com netos, num jogo dinâmico, envolvente e, nessa circunstância, certamente ainda mais lúdico!

 

 

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presépio de emoções

 

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Regressou o presépio à luz do dia, numa espécie de ritual anual de preservação de memórias. As diferenças surgidas durante a sua montagem estarão certamente associadas a questões estéticas, porque a carga emocional presente renova-se em cada ano nos dias 1 ou 8 de Dezembro. Porém, muito mais do que o significado religioso de um presépio, na minha vida ele é essencialmente um recordar de pessoas e momentos…

…com ele regressa a minha avó materna através das figuras de barro que ofereceu há cinquenta e muitos anos;

…regressa a minha mãe da sua viagem pelo tempo sem tempo, para me recordar a  genuína aptidão que tinha para presépio, construções que sempre fazia com musgo, montes, cavernas e um lago. O meu, é apenas uma versão muitíssimo simplificada dos seus!

…voltam os meus filhos-crianças, quando se divertiam a complementá-lo com bonecos que colocavam no meio das figuras tradicionais. Hoje, ainda mantenho uma ovelha em plástico dessa época;

…e regressamos nós, eu e o meu companheiro, a um dia de gestos que se repetem com alegria há mais de vinte anos….

Primeiro, fazendo um passeio matinal à Serra de Sintra em busca de musgo, incursão este ano envolta em frio, chuviscos e num denso manto de nevoeiro que deu uma magia especial ao momento; depois, passando a tarde a erigi-lo, começando por construir um monte e uma gruta que permita proteger aquele eterno recém-nascido do frio ou a encontrar a localização adequada para cada figura…porque as ovelhas , por exemplo, não se podem perder do seu pastor, e seria um triste Natal para o anjo se desse uma queda e partisse uma asa ou uma perna! Também a estrela, já meio desfeita, continua ano a ano a emanar uns ténues raios de luz sólida que orientam os Reis Magos…

Por fim, uma vela …

…a luz que ilumina e aquece aquele lugar, que aquece o nosso olhar e todas estas memórias e, principalmente, que agradece mais um ano de vida e de saúde concedido a esta família!

 

 

em início de natal…

 

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Com o retorno do feriado de 8 de Dezembro, o país teve novamente disponibilidade de renovar a tradição e de, neste dia, dar verdadeiramente “início” à época natalícia. Em muitos lares é nesta data que se montam as árvores de Natal e/ou os presépios, duas tradições sem nada em comum, mas que cohabitam em várias regiões do planeta e no seio de algumas religiões… ou até no lar daqueles que não são adeptos de nenhuma!

É neste último caso que me “encaixo”…o que não implica que todos os anos a árvore de Natal e o presépio não sejam “religiosamente” montados. Vejo esse ritual como uma tradição que ficou nos meus “genes da memória”…e que gosto e quero manter, mesmo que o significado seja apenas a sua existência e as recordações que me trazem.!

Em criança…
…todos os anos se repetia o ritual de ir com uns amigos à serra de Monchique, cortar um pinheiro e apanhar musgo. Depois seguia-se a decoração da árvore e, principalmente, a montagem do presépio sempre realizada pela minha mãe, o que acontecia ao fundo de um corredor da casa, sobre uma estrutura de bancos, caixas e papel de jornal, com declives, grutas e um lago. Era lindo o que ela conseguia fazer! Decorava-o com figuras de barro, as mesmas que fizeram as delícias de um remoto natal dos meus 3 ou 4 anos…quando acreditava que era o Menino Jesus que trazia as prendas. Essas peças, ainda em bom estado, continuam a estar presentes no meu presépio, quase seis décadas depois. Têm uma carga emocional muito forte e que não esqueço.

Por outro lado, elas ainda são da época em que cada elemento da família colocava um sapato junto à chaminé depois da ceia de Natal… em que as prendas eram abertas apenas de manhã… e igualmente do tempo em que o Menino Jesus, por chegar cheio de fome, deixava sempre sobre a mesa várias nozes abertas pela ranhura, perfeitissimas…maravilha que apenas ele conseguia fazer!!! Adoro estas recordações!

Creio que a imagem dos presépios que a minha mãe construía foi integrada de tal forma, que todos os anos tento humildemente reproduzir, em pequena escala, o que recordo e adorava. Continuo a utilizar musgo… e tem sempre uma cabana tipo gruta…um caminho… um monte…
Em criança, os meus filhos adoravam a montagem do presépio…e de nele colocarem bonecos “Pin y Pons” e da “Playmobil”. Cresceram, sairam de casa e apenas pontualmente participam nesse ritual, que partilho agora com o meu companheiro.

Quanto ao pinheiro, há muitos anos que é artificial. Não tem aquele cheiro único que recordo…mas a Natureza é um bem mais precioso. Em tempos, ofereceram-me um spray com cheiro de pinheiro….acho a ideia “curiosa”…mas era tão falso!!!

No passado dia 8 de Dezembro, segui a tradição, montando o presépio e a árvore de Natal. Que o possa fazer e partilhar, com alegria e prazer, ainda por muitos anos!