Uma aula de ioga é, em primeiro lugar, uma viagem orientada e atenta pelo corpo.
Nessa viagem somos levados a focar-nos em cada uma das suas partes, sentindo-as com uma atenção que não damos no dia-a-dia. A dinâmica da vida não permite que cada movimento seja realizado conscientemente e percebendo o estado das estruturas envolvidas, a não ser quando surge alguma dor. Aí, a tendência geral é a queixa e a irritação com essa parte do corpo que, seguramente, apenas nos está a chamar a atenção e a dizer para termos alguma paciência.
De um extremo ao outro, essa viagem é lenta e visualizada pelo “olhar interior” que todos possuímos. Mesmo que pouco se saiba de anatomia e da forma exacta como determinada articulação funciona, esse olhar “sente e ouve” essas importantes estruturas e tenta perceber como estão, se existem ruídos, atritos ou se o movimento é doloroso. Este “ouvir o corpo” é fundamental para lhe darmos a resposta adequada e percebermos quais são os seus limites.
Na maioria dos exercícios praticados, a nossa respiração é a música, acompanhando a inspiração as contracções e a expiração o movimento oposto e que leva ao relaxamento muscular. As respirações deverão ser profundas, ligeiramente sonoras e realizadas pelo nariz, o verdadeiro órgão externo adequado a essa função. Esse afluxo de ar e de oxigénio aos pulmões é um importante meio de limpeza e contribui para o bom funcionamento dos canais energéticos que possuímos. Como a professora de ioga nos diz, “o corpo é um templo” e a respiração a “alma do ioga”.
Para além da mobilidade articular e de um fortalecimento geral de todos os grupos musculares a partir de posturas variadas e executadas segundo as capacidades e limites de cada um, a aula contempla ainda uma série de exercícios para determinados fins: favorecer o equilíbrio, aumentar o ritmo cardíaco, auxiliar o afluxo de sangue ao cérebro e energizar pelo movimento e respiração certas zonas do nosso corpo, órgãos ou sentidos, fundamentais ao nosso bem-estar. Inclui igualmente respirações mais ou menos dinâmicas para fins específicos.
Neste processo trabalham todas as estruturas do corpo, mas também a mente e a concentração, quer na percepção dos exercícios quer na capacidade de auto-corrigir as posturas, o que acontece frequentemente. Obviamente que as distracções são reais e acontecem a todos. Mas o facto de percebermos que estamos distraídos é bom, pois significa que não estamos assim tão fora dali. E aí, é só dar o salto e voltar!
Terminada a viagem pelo corpo e “limpos” os canais energéticos, é tempo de o deixar descansar, o que acontece através do tão desejado relaxamento. Nesse período a mente também descansa, apesar de estar atenta a outro tipo de estímulos como é o caso da música ambiente, no geral calma e sempre bem seleccionada. Por vezes, esses sons são acompanhados por pequenos textos ou frases calmamente lidas pela professora, a fim de nos fazer pensar sobre nós próprios, sobre a nossa relação com os outros ou, ainda, sobre a magnitude da vida e do universo.
A aula finaliza com uma saudação conjunta pela unidade e pela paz universal, sendo ainda com essa energia bem presente que saímos da sala, ou que a professora partilha connosco formas alternativas de lidar com o corpo, alimentação, etc.
Lá fora, espera-nos o mundo. Mas sobre isso falarei num outro post.