Neste eterno voar o tempo é um sopro que passa em nossos interstícios…
…ele toca afaga dói envelhece enriquece esquece, é instante e memória derrota e vitória prazer e partilha solidão desilusão sonho e Amor, porque sempre o tempo tem para nós um qualquer Amor!
Em cada respirar habilmente o tempo voa e a vida vai…
…para depois parar numa esquina do tempo que passou e dizer-nos simplesmente…
…mas numa maior e inesperada
sou enrolada,
esbracejo
e num salgado respirar
sou arrastada para a beira-mar!
Em terra firme
um pensamento fugaz…
…nas ondas da Vida
como nas ondas do mar,
há sempre uma surpresa
que nos confronta
dá luta
incomoda
e ensina sem palavras,
que a atenção não pode faltar!
Ontem adormeci
com o Inverno no ar,
sabendo de antemão
que a Primavera estaria
a meu lado ao acordar.
Foi no escuro da noite
em silêncio
e no tempo de um respirar,
que o Inverno e a Primavera
trocaram de lugar.
Nada ouvi,
pressenti
ou em sonhos percebi,
mas de manhã ao espreguiçar
na minha pele senti
um doce afago no ar.
As boas-vindas
eu dei
a esta nova Primavera,
e com doce emoção
humildemente lhe pedi
força
luz
e serenidade
capaz de neutralizar
este momento tão ímpar
vivido pela humanidade.
A Primavera
nada disse
a esta mente sonhadora…
…mas eu suponho…
…que em breve
irá ao sul
com o Outono conversar,
para em conjunto combinar
o que farão para ajudar!
A melhor Primavera (e Outono) para todos nós!
(Dulce Delgado, 20 Março 2020…no primeiro dia de Primavera!)
A vida é uma luta e um constante desafio ao tempo, onde amiúde as energias que nos movem são “esquecidas” pelo pouco espaço que os dias nos permitem.
Porém, de vez em quando, essa força/energia precisa de respirar, de se manifestar, de dizer ao nosso consciente que existe e está bem viva. Talvez para nos fazer pensar se assim devemos permanecer ou, pelo contrário, se algo poderemos mudar.
Como se manifesta?
… no desejo de fuga nascido no corpo
… rasgando um olhar porque outro teima em entrar
… esquecendo aquilo que não queremos guardar
… murmurando no silêncio do nosso sentir
… através de um pensamento não convidado
… intuindo o que o pensar não está a entender
… vibrando com a diferença…
… e, acima de tudo, quando nos diz calmamente: tu não queres isto!
…fascinou-me a vastidão, o silêncio húmido e o cheiro a mar dos areais durante a baixa-mar, assim como os passeios sem tempo nem objectivo percorridos naquele ínfimo e simultaneamente tão amplo ponto do planeta.
Nesse deambular, com o corpo seguiam o pensamento e o olhar, por vezes muito perto e íntimos, ou naturalmente seguindo rumos diferentes. A liberdade era total.
Praia da Barra da Fuseta, ilha da Armona
Praia da Terra Estreita, ilha de Tavira
Península do Ancão e ilha da Barreta/Deserta ao fundo
Nesses passeios, deliciaram-nos as aves que vagueavam pelo ar, mar, terra ou beira-mar. Gostamos dos seus sons, movimentos, tácticas, e do tempo que exigem ao nosso sentir para não as perturbar.
Afinal, aquele espaço é mais seu do que nosso e por isso, há que o respeitar.
Flamingos na zona do Ludo, Faro
Garça branca no percurso do Ludo, Faro
Gaivotas na ilha da Barreta ou Deserta
Pernilongo no percurso do Ludo, Faro
Chilreta na Península do Ancão
Tranquilamente permanecemos em praias silenciosas onde as palavras dos outros estavam longe e não chegavam ao nosso entender. No ar, apenas o chilrear das aves, o som das pequenas ondas ou, pontualmente, o ruído de um barco que passava.
E no corpo, banhos de sol e de mar!
Praia do Barril, Ilha de Tavira
Ilha de Tavira
Ilha da Barreta ou Deserta
Retenho ainda a diversidade de trajectos realizados a pé, as distâncias percorridas em barcos de dimensões variadas consoante o destino escolhido, ou os locais em que a componente cultural e de aprendizagem esteve sempre ao lado da paisagística.
Visita guiada pela ria, com saída da cidade de Faro
Passadiço da Ilha da Barreta/Deserta
Salinas no trilho do Ludo, Faro
Cemitério de âncoras na Praia do Barril, Ilha de Tavira
Igreja Matriz de Olhão, séc XVII/XVIII
E por fim, quando a noite chegava, ali estavam as estrelas bem visíveis e sem as luzes citadinas para as ofuscarem, desejando-nos naturalmente uma boa noite de descanso.
A Ursa Maior e a Estrela Polar
Na generalidade, foi isto o que a Ria Formosa nos ofereceu: muito espaço… muito céu… muitas estrelas… muita natureza… muito mar…e muito, muito ar para respirar!
E outros pormenores captados pelo olhar, que integrarão outro post a publicar!