entre libélulas

 

3 lib

 

Em voos rápidos
e aleatórios pelo ar,
elas voam sobre a água
ao som
do fresco murmurejar.

A seu lado
voa o meu olhar,
atraído pelas cores metalizadas
e transparência fluída
das suas asas.

Com  libélulas
no ar,
é tão leve
e fácil
voar neste lugar!

 

 

(Dulce Delgado, Outubro 2019)

 

 

 

 

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instante

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De instantes se faz o tempo…

Será o instante um fragmento,
um tijolo no muro do tempo…
…ou o cimento que o agrega?

Tudo é instante…

Ele é sopro e respirar
sorriso e olhar
dor
palavra
gesto
pensar…
…e o sim ou o não
que saem sem hesitação!

É o sentir que se foi
o som ouvido silêncio
o pensamento que se desvaneceu
a palavra que calamos
o gesto que recuou
o tempo que ao lado passou
o presente…

…o agora…

 

…já foi!

 

 

(Dulce Delgado, Setembro 2019)

 

 

 

 

cinema atlântida-cine

 

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Entrar no cinema Atlântida-Cine em Carcavelos, é realizar uma viagem no tempo e recuar algumas dezenas de anos. Sugiro uma incursão na Sala 1, a de maior dimensão e personalidade.

Ultrapassada a entrada, o nosso olhar é imediatamente levado para um enorme cortinado claro, transparente e iluminado por luzes difusas e coloridas, que cobre literalmente toda a parede do écran, revelando uma imagem que associamos ao teatro e que há muito se afastou das salas de cinema.

Um olhar mais detalhado por este espaço um tanto austero mas cuidado, leva-nos forçosamente a um piano colocado à esquerda do palco, um objecto invulgar num cinema do séc. XXI. Ele ficou parado no tempo e certamente no lugar, mas não é difícil imaginar o seu som a pairar na sala.

Sentamo-nos.

Aproximando-se a hora do início da sessão, começa o verdadeiro espectáculo. Somos alertados para esse momento através das badaladas que ressoam na sala. Num ápice, voltamos à nossa infância e ao tempo em que os cinemas tinham aquela sonoridade tão característica, formada por quatro tons em crescendo seguidos por outros tantos em decrescendo. Segue-se o lento movimento do cortinado de palco a abrir, como se uns actores se retirassem para dar lugar a outros. Persiste em nós o tal som, porque a viagem ao passado foi longínqua e precisamos de tempo para regressar…

Entretanto começam as primeiras imagens…alguns trailers dos filmes em cartaz ou a estrear brevemente… e finalmente o filme que nos levou ali. Tudo isto sem publicidade!
No intervalo, volta ao palco o cortinado-actor …que sairá novamente ao som de mais badaladas antes do início da segunda parte. Terminado o filme e o genérico, abrem-se as luzes e tudo regressa ao ponto inicial…até à próxima sessão.

Gosto de ir a este cinema. Não apenas porque oferece uma programação cuidada e centrada no cinema independente, mas especialmente porque cheira a cinema… e não cheira a pipocas! Esta “solidão” e este não alinhamento com o mercado só sobrevive com bilhetes ligeiramente mais caros que a média. Mas sendo uma experiência única, vale a pena visitá-lo com carinho e contribuir para este projecto. Dadas as suas características, é óbvio que é maioritariamente frequentado por espectadores acima dos cinquenta anos, os que melhor apreciam a tranquilidade que ele proporciona.

O Alântida-Cine possui duas salas e está localizado na cave de um centro comercial que tem actualmente muitas lojas vazias. Ele é a pérola daquele espaço. E se resistiu até aqui, gosto de acreditar que tem futuro, porque o proprietário merece-o, pelo facto de ser um resistente e um verdadeiro amante de cinema.

Este post, é o meu pequeno contributo para um projecto que admiro.