lisboa… entre margens

 

2016-11-21 10.35.00

 

Inaugurada há precisamente 54 anos (1966), a sua elegância une margens e suspende sobre o rio uma belíssima obra de engenharia. Como via estruturante, a Ponte 25 de Abril é um elo de ligação e um detalhe fundamental da capital.

Diariamente, a partir da margem norte do Tejo, o meu olhar percorre-a sem se cansar…..leva-me ao cimo dos seus pilares….mergulha vertiginosamente no rio….conhece as suas dinâmicas ao longo do dia….e aprecia o seu magnífico recorte no perfil maior da cidade.

Na Lisboa de hoje, este meu olhar e o olhar de tantos outros, agradecem a sua presença, beleza e função!

 

 

 

 

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o navegador

 

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Seiscentos anos depois, o Infante D. Henrique, de cognome O Navegador e o grande impulsionador dos descobrimentos portugueses, enfrentou impávido e sereno um “monstro” disforme chamado nevoeiro, que esta manhã se formou no rio Tejo antes do nascer do dia.

Não resisti a  captar esta imagem, não apenas pelo simbolismo, mas pelo profundo respeito e admiração que tenho pelos portugueses daquela época. Nas piores condições, eles enfrentaram os “monstros”, interiores e exteriores, para seguir o sonho de descobrir o que estava para além da linha do horizonte.

Algumas horas depois, já apaziguado, este “monstro” dissipou-se, continuando o Infante a sua eterna tarefa de perscrutar o além.

 

Deste modo, e em tons de nevoeiro e de descobertas…desejo a todos um excelente fim-de-semana!

 

 

 

ponte 25 de abril

 

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Comemorar cinquenta anos de existência é sempre um momento importante, seja de qualquer um de nós, de um evento… ou até de uma ponte!

É o caso da Ponte 25 de Abril que hoje é aniversariante. E fazendo ela parte do meu olhar de todos os dias, uma vez que entra no campo de visão da janela da sala onde trabalho, não podia deixar de lhe dedicar umas palavras.

Neste olhar, já a vi emoldurada por um belo e límpido céu azul, por nuvens variando entre o branco, o cinzento e o negro, ou a ser abraçada por inesperados bancos de nevoeiro que sobem o rio. Mas também a vejo constantemente sobrevoada por muitos dos aviões que aterram em Lisboa, ou enquadrada pelos traços que a alta altitude, eles deixam no seu céu.

Senti-a inúmeras vezes cansada pelo peso do trânsito parado no tabuleiro, mas ágil e fluida quando tudo corre sem imprevistos. E fica com um ar maternal quando nas suas entranhas desliza tranquilamente o comboio ou, no rio, passam barcos entre os seus pilares e sob a sua protecção.

Gosto desta ponte. Gosto da sua elegância simples, mas também da sua parceria com o Cristo-Rei. Não consigo imaginar Lisboa e Almada sem estas estruturas, tal como não consigo imaginar a minha janela sem ambas!

Certamente que a capital também não, porque, para além do seu indiscutível aspecto utilitário, a Ponte 25 de Abril está colada à imagem da cidade e à beleza que a caracteriza mundo fora.

 

nevoeiro no tejo

 

Branco e húmido,
o nevoeiro deslizou pelo rio
e a sua pele,
sem forma,
docemente afagou as margens.

Curioso,
penetrou em cada lugar
num olhar breve,
efémero
entre o ser
e o dissipar.

Com memória
de outras viagens
e saudades de um reencontro,
carinhosamente
e como velhos amigos,
abraçou a ponte
e o Cristo-Rei,
que suspenso no ar
ficou a pairar!

 

(Dulce Delgado, Junho 2016)