Como sabemos, são muitas as características que as identificam. Na prática poderão ser fixas ou dobráveis, tradicionais, híbridas ou eléctricas, urbanas, de estrada ou de montanha, para adulto ou criança, duplas, de carga etc, etc., e materialmente poderão ser em alumínio, fibra de carbono, titânio ou de outros materiais mais ou menos nobres e/ou acessíveis.
Refiro-me obviamente às bicicletas, sendo que muito mais poderia dizer sobre este meio de deslocação neste Dia Mundial da Bicicleta. Mas não o vou fazer pois quero essecialmente falar de uma especial, pequenina, feita de arame e que não roda.
Esta bicicleta tem uma história curiosa; no final de 2021 estava eu a descer muito tranquilamente a Rua do Carmo em Lisboa e a pensar o que poderia comprar para oferecer ao companheiro da minha filha que fazia anos em breve quando, de repente, olho para o lado e vejo uma banqueta com várias pequenas bicicletas de arame. Logo tive a resposta que precisava, pois seria impossível encontrar lembrança mais adequada para alguém que é um grande apreciador de bicicletas.
Foi uma sensação estranha e quase arrepiante a de estar no sítio certo à hora certa. Apenas tinha que adquirir uma e agradecer aos anjinhos…aos gnomos… ao acaso…ou a quem de direito tão rápida resposta ao meu questionar.
Quem as fazia e vendia era um senhor já idoso, muito simples, alguém que certamente encontrou na manufactura destes ternurentos objectos um hobby e um modo de se expressar. E eventualmente também uma forma de complementar a sua reforma, apesar de as vender a um preço bastante baixo.
Adquiri uma para oferta, arrependendo-me horas depois de não ter comprado outra para mim pois, quanto mais a olhava mais a apreciava. Voltei ao mesmo local várias vezes, sempre na esperança de encontrar a dita banqueta ambulante….mas tal ainda não aconteceu, para grande pena minha. Restam-me estas imagens e a ternura que sinto sempre que a vejo em casa da minha filha.
Esta é uma bicicleta sui generis. Pequenina, frágil, leve, cheia de detalhes e um objecto que emana a ternura, o empenho, o jeito e a dedicação das mãos que lhe deram forma.
Gosto de bicicletas, mas delicia-me esta pequena bicicleta!
Entretanto, bicicletando ou não… desejo a todos um bom fim-de-semana!🍀
A viagem que anualmente promoves em tempo de aniversário será este ano bastante diferente, pois não haverá aviões, aeroportos ou cidades a explorar.
Em tonalidades bem mais intimistas viverás a tua primeira viagem como mãe por estes ciclos anuais que marcam a nossa Vida. Nesse novo estado sentirás as rotinas e o cansaço próprio de quem cuida e alimenta um filho com três semanas, mas terás certamente detalhes inesperados e momentos diferentes do habitual. E neles viajarás com os sentidos mais atentos e uma imensa ternura à flor da pele!
Pela minha parte, agora de mãe para mãe, um obrigada por teres nascido, um abraço bem apertado…. e um poema!
Ser Mãe,
é viajar por um trilho
de experiências novas
e profundas descobertas.
Com o teu filho
irás percorrer prados de ternura
e brincadeira,
caminhos semeados de dúvidas,
cansativas subidas,
atalhos surpreendentes,
florestas de insegurança…
…e alcançarás uma nova visão
da Vida
sem subires a qualquer montanha!
Rirás com detalhes mínimos
e chorarás por pouco
ou nada.
E viverás desconhecidas emoções
como se os teus sentidos,
corpo
e pele,
habitassem um novo mundo
de sentimentos
e sensações.
Neste caminho partilhado
procurarás rios
de informação
para te saciar os medos e as dúvidas,
mas logo perceberás
que a melhor resposta a essa sede
estará em ti,
no teu coração
e sempre na tua intuição.
Ser mãe
é esta viagem em poucas palavras.
Mas ser mãe não são palavras,
é algo imenso
intenso
e de um Amor sem fim!
Para além dos genes, o que de nós se prolonga em nossos filhos é sempre uma incógnita. Se os primeiros são responsáveis por um detalhe fisionómico, pela cor dos olhos ou por um trejeito, será a educação ou a vivência em comum durante o seu crescimento que estarão na origem daquilo que, não sendo visível ao olhar, é bem real no estar.
Há poucos dias a minha filha enviou-me uma imagem com um detalhe da sua casa que a sensibilizou. Nesta fotografia, uma das folhas de um grande feto descansa tranquilamente sobre o monitor do computador. A cor e a elegância das folhas em contraste com os restantes elementos presentes concedem uma beleza especial a esta imagem, harmonia que ela se apercebeu com o seu olho clínico e sentido estético, e que também me encantou quando recebi a fotografia.
O meu primeiro pensamento foi “é mesmo minha filha!”, pensamento que surgiu acompanhado de uma imensa ternura e logo complementado por divagações colaterais…
…os meus filhos nasceram e crescerem numa casa com muitas plantas. Quando a minha filha começou a andar tinha alguma tendência para ir mexer na terra dos vasos e nas plantas e pontualmente a fazer asneira. Nessa altura ensinei-a a fazer-lhes “festinhas” com carinho, atitude que foi integrada e que se foi entranhando na sua sensibilidade. Hoje ela tem uma casa com imensas plantas que trata zelosamente e as plantas gostam tanto de estar com ela como sempre gostaram de estar comigo.
Pela vivência e educação acredito que lhe transmiti isso. Não é genético, mas algo que era meu e hoje também é dela. Daí o meu doce sentir quando ela me enviou esta fotografia.
Porém, esta imagem não me sensibilizou apenas pela linguagem estética ou pelas emoções maternais que despertou, mas igualmente pelo simbolismo que tem associado. Na verdade, gosto da ideia de ver a natureza coabitar em harmonia com a tecnologia. Cada uma no seu lugar, sem agredir nem interferir no espaço da outra. Aqui, elas apenas se tocam…com suavidade…com respeito…
Eu sei que este sentir não passa de uma pequena utopia efémera… e caseira. Contudo, absolutamente nada me impede de levar a imaginação por aí!
Em Setembro de 2016 partilhei um post sobre o almanaque Borda d’Água, folheto anual publicado em Portugal pela Editorial Minerva. Ele nasceu dois anos depois da editora e transmite um saber simples, ligado à terra e à agricultura, ao céu, aos astros e às estações do ano, à história, ao mundo cristão e ainda à cultura popular.
Amiúde o meu olhar passa sobre a folha do mês em curso a fim de saber algo mais sobre a “história” e acontecimentos do dia. Hoje porém, ao verificar que a editora que o publica nasceu a 2 de Junho de 1927, o que significa que completa 92 anos de vida, associei de imediato esse evento à minha progenitora e à idade que ela teria se estivesse viva, uma vez que nasceu nesse mesmo ano.
A minha mãe tinha o saber adquirido enquanto estudante, mas guardava um saber bem maior, mais popular e fruto da simplicidade do meio em que nasceu e cresceu. Como apreciadora da natureza em todas as suas versões, sabia identificar a maioria das flores e de muitas plantas, saber talvez aprendido com o seu pai (e meu avô), um homem que sempre teve uma pequena horta ou um jardim para cultivar e zelar.
Minha mãe também entendia a meteorologiade uma forma muito empírica mas assertiva. Se o vento estava assim… tinha um significado; se estava de além…implicava outra coisa; se as nuvens apareciam naquele lado ou se a lua tomava determinado aspecto, era outra coisa qualquer; e assim por diante. E naturalmente associava ao seu próprio conhecimento saberes populares e provérbios que depois partilhava nas mais diversas situações.
Hoje percebi que o meu gesto quase diário de deitar o olhar sobre este almanaque que a Editorial Minerva insiste heroicamente em publicar num tempo em que o “saber” se adquire pela internet é, de certa modo, um olhar sobre as raízes que me deram origem, e talvez, uma forma inconsciente de encontrar um pouco da minha mãe, da sua sensibilidade e de uma sabedoria que muito me encantava e que tantas vezes me levou a pensar “como é que ela sabe estas coisas todas?”
Um olhar ternurento sobre ela e o passado, leva-me sempre a senti-la como alguém muito especial… mas igualmente como um pequeno “almanaque humano”, uma espécie de Borda d’Água com coração!
Neste dia, longa vida à Editorial Minerva e ao seu delicioso Borda d’Água!