experimentações #40

Em 2015 comecei a sentir alguma necessidade de estar em férias sem o “compromisso” de registar esse período através de desenhos, textos, etc. Ainda fiz alguma coisa, mas já sem aquela vontade e interesse dos anos anteriores. São esses derradeiros registos em bloco que hoje partilho e que se referem a um período de férias passado entre o Algarve e o sul de Espanha.

No ano seguinte, em 2016, comecei a concentrar uma boa parte da minha energia criativa no Discretamente, pelo que após essa data a maioria dos desenhos realizados foram em função das necessidades do blog.

É muito provável que alguns de vós pensem que os blocos de férias seria algo para não deixar de fazer. De certa forma têm razão, mas precisei de parar por serem uma tarefa bastante exigente. Cada um deles foi uma descoberta e um prazer, mas a partir de certo momento deixou de o ser. Apenas isso. Na verdade, senti que queria começar a ter férias sem compromissos, sem objectivos e libertando a atenção e o olhar. No futuro porém, não descarto a ideia de voltar a eles.

Actualmente faço um ou outro desenho/aguarela, seja em férias seja para oferecer a familiares e amigos em aniversários ou no Natal. Mas nesta fase da minha vida, o tempo e a disponibilidade são realmente escassos. A actividade profissional… o dia-a-dia… a família/ netos…o Discretamente…e uma energia que já não é a mesma, não me permitem fazer mais.

Hoje, é com imensa ternura e alegria que olho para todos os blocos com registos gráficos que possuo e que guardo religiosamente. Afinal é uma parte de mim e da minha vida que está ali a descansar na prateleira de uma estante.

Boa semana!🤗

Advertisement

pelos meandros da noite…

A dupla dormir/noite é sempre uma surpresa. Ora é vivida como um recuperador instante que passou, ora é difícil e visitada por uma inesperada e desconfortável insónia. Este assunto já passou pelo Discretamente mas, sendo as insónias bastante “indiscretas”, volto ao tema…

Creio que ela, a insónia, vive algures em minha casa. Anda por ali a cirandar…e, azar o meu, só gosta de mim. Imagino-a ir todas as noites sorrateiramente espreitar à porta do quarto e questionar-se: “Será que hoje vou chateá-la…ou não?”

Se decide que sim, pode vir ter comigo logo ao tentar adormecer, ou então tocar-me a meio da noite e, num piscar de olho… acordar-me.

Quando esta segunda situação acontece, nem sempre olho para o relógio e, inicialmente, fico ali, quietinha, de olhos fechados, a contar números, carneiros ou estrelas imaginárias, para ver se volto a adormecer. E a pensar pelo meio, obviamente.

Pontualmente o voltar a dormir acontece, mas no geral não. Esse despertar antecipado é bom para planear, tomar resoluções, arranjar ideias para post, etc,. Aliás, este blog nasceu de uma insónia que tive há sete anos atrás. No meu caso, este tipo de insónia gosta de entrar em palco entre as cinco e as seis da manhã.

Como diz o velho provérbio “venha o diabo e escolha”…mas a verdade é que prefiro a insónia que entra em acção logo no início da noite. Quando percebo que fui “picada”, o melhor é sair da cama e aproveitar o tempo com algo útil e que estava à espera de ser concretizado. Esta é uma insónia mais activa, prática e organizativa. Uma ou duas horas depois o sono chega e durmo o resto da noite.

De uma forma geral as insónias são oportunistas e, no meu caso, têm adorado os desequilíbrios hormonais do corpo assim como as fragilidades emocionais associadas à menopausa. Para além disso, apreciam…

… o nosso cansaço

… um qualquer problema ainda pendente

… adoram a presença de um afrontamento pois aproveitam o seu desconforto e…zás, apanham-nos!

… apreciam as mentes femininas, no geral especialistas em pensar demais…

… e, curiosamente, também gostam de aparecer sem qualquer razão… mas apenas porque sim. Diria que isso faz parte da sua natureza, ou seja, chatear!

A experiência e a vida vão-nos ensinando a lidar com aquela questionável ideia ” se não consegues combater o inimigo, aceita-o ou junta-te a ele”….mas nesta matéria eu acrescentaria…..”com o humor possível!”

Desejo um fim-de-semana tranquilo, recuperador…e sem insónias por companhia!🤗

entre flores e insectos

No auge da Primavera, um post sem grandes palavras mas com cor e vários protagonistas. São eles alguns dos insectos recentemente encontrados num passeio pelo Parque Urbano da Serra de Carnaxide (área verde localizada perto de minha casa), e ainda pelas flores silvestres que os acolhem, muito abundantes nesta altura do ano.

São detalhes que me encantam seja pela cor e beleza destes seres de reinos diferentes, seja pelo que representa esta relação de interdependência na preservação e no futuro do nosso planeta. É sabido que a extinção de insectos é uma realidade preocupante, sendo indesejáveis as repercussões que essa situação pode vir a ter na produção de alimentos para a humanidade. Especialmente para as gerações que nos seguirão.

Por tudo isso, ver tantos diferentes e bem activos, foi um prazer. Para além de todos aqueles cujo retrato não ficou apresentável!

Com natureza, cor e vida… desejo a todos uma boa semana!🤗

65!

Quase quarenta anos depois de o fazer com os meus filhos voltei a brincar com plasticina, agora com o meu neto Vasco.

Tudo evoluiu e a plasticina também, seja em quantidade seja na qualidade de moldagem. Sendo um divertimento para ele e de certa forma também para mim, será em tons desse material que partilho convosco este dia em que chego aos 65 anos.

Se agora a brincadeira é com o Vasco, oxalá a vida me permita daqui a dois anos partilhar com a mesma disponibilidade momentos semelhantes também com o Vicente.

Agora é aproveitar as vantagens deste novo tempo, como os descontos e benesses disponíveis na área cultural, transportes, etc,. Sendo direitos que se adquirem nesta “terceira idade”, há que os aproveitar!

Neste “novo tempo”, o que mais desejo a nível pessoal?

… saúde, para que no dia-a-dia dos próximas anos possa aproveitar sem dores nem maleitas o tanto que a vida me dá;

… a capacidade de transformar com um certo humor as dificuldades que surgem nas esquinas deste caminhar. São reais e inevitáveis. Mas pode ser nosso um novo olhar e a capacidade de as relativizar;

… tal como a versatilidade da plasticina sempre permite uma nova moldagem… também eu gostaria de melhorar a capacidade de “moldar a mente” e de a re-orientar sempre que as formas de pensamento presentes sejam entrave ao avançar/evoluir. Por vezes a rotina e o cansaço têm o dom de nos imobilizar, empedernir, etc,.

… aproveitar as circunstâncias e vivências, mesmo que aparentemente simples e banais, para depois dizer a mim própria “esta já ninguém me tira”!

… que a criatividade continue como companheira e a curiosidade uma presença;

… manter-me equilibrada, mesmo que discretamente, neste mundo de tantos desequilibrios!

Porém, e para que tudo isto tenha sentido, desejo profundamente que a minha família esteja bem. Afinal, eles são os alicerces, apesar de eu estar na base da pirâmide.

Bem-vindos 65!🤗

(Aproveito para desejar um bom Dia da Mãe para todas as mães que me vão lendo e um bom domingo a todos os outros!)

dois olhares

Como sempre, seja em dias de trabalho ou de lazer, uma das primeiras acções que faço quando me levanto é ir à janela “cumprimentar” o dia…ver o tempo….agradecer….

Já passaram pelo Discretamente muitas fotografias captadas na sequência desse olhar matinal. Hoje volto a fazê-lo, não apenas pela beleza do momento, mas pela curiosidade destas duas imagens serem captadas com poucos segundos de diferença.

O que as distingue tem apenas a ver com a zona para onde apontei a máquina fotográfica e fiz a leitura da luz, sendo a primeira realizada no céu/zona mais clara e a segunda na terra/zona mais escura. O resultado foi obviamente diferente, como qualquer pessoa que tira fotos saberá.

Divagando um pouco…

….a forma como olhamos algo (copo meio cheio/luz/positivo….copo meio vazio/sombra/negativo) tem exactamente a ver com esta mecânica. Uma mesma situação ou “paisagem emocional” sempre pode ter duas leituras diferentes, dependendo apenas da forma como encaramos, focalizamos e orientamos a nossa mente e emoções.

Uns preferem uma… outros a outra. Talvez uma terceiro olhar, hibrido, seja o mais equilibrado e fiável. E o mais difícil também!

Como uma terceira foto que, naturalmente e sem pensar, eu nem tentei tirar…

o tempo em palavras

No início de 2018 partilhei um post sobre agendas, aqueles clássicos livrinhos que ainda não foram substituídas pelas suas congéneres digitais.

Volto hoje a essas companheiras que, dia a dia, guardam momentos efémeros ou anotações com futuro e memória, escritas pela mais bela ferramenta que possuímos, ora através de uma letra perfeita e bem legível, ora por outra apressada, impaciente…e por vezes mesmo ilegível.

Há uns anos resolvi começar a compilar o conteúdo de décadas de agendas, um manancial de informação com muitos dados concretos e bem localizados no tempo.

E resolvi fazer isso logo que percebi que um dia os meus filhos perderiam rapidamente o interesse por aquele “espólio” porque não perceberiam muito do que lá estava escrito. A minha letra não é fácil, por vezes bastante corrida, pelo que teria que ser eu a retirar o que tivesse interesse para a vida familiar ou para a vida deles, em particular.

Foi uma tarefa complexa e que me exigiu bastante tempo. E o mais curioso foi o facto de, em vários momentos, eu própria não perceber o que escrevera…

Apesar disso, as muitas informações retiradas e associadas a outro tipo de fontes permitiram-me oferecer um “livro” a cada um dos meus filhos quando fizeram trinta anos. Primeiro foi a ela… depois a ele…ficando ambos para a vida com dados sobre o seu crescimento/desenvolvimento, muitos dos quais não sabiam nem recordavam.

Seleccionei em simultâneo aqueles com interesse sobre a minha vida, opções, sensibilidade, sentires, etc., a que fui associando memórias pessoais e familiares. Um dia, quando eu partir para aquela desconhecida viagem, ficará disponível um “retrato” escrito desta mãe que também foi criança e filha…depois mulher e mãe…e agora também avó.

Encaro a passagem por esta Vida como um momento especial que devemos valorizar e agradecer ao máximo. Todos escrevemos algo nesse infinito livro… sendo a nossa família um capítulo por nós também habitado. Se não registarmos nada, algo se perderá.

Nesse trilhar, a clássica agenda foi e sempre será uma valiosa companheira. Para mim, obviamente.

Entre olhares, silêncios e palavras – escritas ou faladas – que o fim-de-semana seja tranquilo e a gosto de cada um!🤗

presente matinal

Foi estranhamente bela a imagem que o céu hoje me ofereceu ao amanhecer. Faltariam poucos minutos para as sete da manhã quando me deparei com este fenómeno provocado por um sol ainda bastante escondido.

Consegui tirar esta foto e em poucos minutos vi aquele raio alaranjado desaparecer e diluir-se no vasto céu que a janela me oferece.

Como habitualmente, também eu me dilui nas rotinas matinais, mas hoje com a sensação de ter estado “no lugar certo na altura certa”, o que é uma agradável forma de começar o dia.

Se é bonito e foi agradável… porque não partilhar?

em família

Este ano, o habitual almoço de Páscoa em família terá mais um elemento. Perto de nós estará no seu berço o Vicente, uma “amostra de gente” com um mês de idade e, para já, portador de uma natureza bastante tranquila.

Será a sua primeira grande reunião familiar/festiva, evento em que irá certamente dormir o tempo todo, apesar do barulho que haverá em redor. Estando habituado a ruídos é muito provável que não se incomode com isso.

Entre ele e o elemento mais velho presente haverá sete décadas de tempo e Vida…sete décadas de mundo, história e de muitas histórias… de Páscoas, Natais e aniversários…de dolorosas perdas familiares e felizes nascimentos…de tristezas e alegrias…e de milhares de dias e noites transformados em memórias, sejam pessoais sejam familiares.

No corpo e na alma todos guardamos um pouco das raízes dos que já partiram e que fizeram parte deste círculo mutável que é a família. Apesar de ausentes fisicamente, eles estarão presentes em memórias e ternura; já o Vicente, apesar de presente fisicamente, estará ausente no seu mundo restrito e ainda virgem de memórias, mundo apenas direccionado para a satisfação das necessidades básicas. Duas realidades que se complementam, ou a Vida no seu mais belo continuar.

Sinto-me grata por fazer parte deste acontecer e por ser um fio que, ao lado dos que me são queridos, forma um entrelaçar que se inscreve num tempo….neste nosso tempo familiar.

Sinto-me grata por estarmos todos com saúde e com vontade de futuro.

Sinto-me grata… e isso é tanto!

—————–

Neste post, o mundo ficou lá fora. Por vezes temos que o fazer.

Ele apenas entra aqui, agora, para que eu possa desejar a todos os meus leitores….

…uma Páscoa Feliz e um bom fim-de-semana! 🤗

uma viagem…

Uma viagem, foi o título que dei ao que escrevi em quatro pequenas folhas durante uma viagem entre o Algarve e Lisboa no chamado comboio-correio que, na minha juventude unia diariamente essas duas regiões do país. Levava toda a noite a percorrer 300 km, porque parava em muitas estações para recolher correspondência, encomendas, etc. Era essencialmente frequentado por jovens estudantes e militares, transportando geralmente pouca gente. Era comum cada um escolher um banco para se deitar, dormir, ler, etc. Eu normalmente dormia…e escrevia.

Na noite de 7 de Março de 1976 fiz essa viagem depois de uns dias de férias em Portimão, onde viviam os meus pais. Tinha dezoito anos, estudava em Lisboa (tirava então o curso de Terapêutica Ocupacional no Centro de Reabilitação do Alcoitão) e, sempre que possível, o Algarve era destino de uns dias de férias.

Há pouco tempo encontrei quatro folhinhas no meio de outros escritos e achei muita piada, porque já não me lembrava deles. Não vou transcrever tudo o que contêm, mas apenas uma parte que já reflecte muito bem o que sou, o que sinto e também um certo optimismo que me é nato.


Há pouco estive a olhar lá para fora. Comecei a ver que não via nada…só às vezes. Mesmo sendo de noite vê-se sempre qualquer coisa, há sempre uma luz qualquer a acompanhar a “terra que corre”. Ou é a luz do comboio, ou é a luz de candeeiros na rua, etc.

….entretanto comecei a comparar o que via com a nossa Vida, também ela com zonas escuras, tristes. Mas a acompanhar essa tristeza e essa escuridão, há sempre uma luz, uma alegria ou qualquer outra coisa boa mesmo por muito ínfima que seja a acompanhar esse escuro da vida. E as pessoas só não a vêem e não a apanham se não quiserem, se fecharem os olhos e não tentarem descobrir algo agradável no meio do desagradável. Se formos optimistas e andarmos sempre com os olhos bem abertos, esse escuro não será tão preto mas apenas cinzento.

Todas as coisas que nos sucedem durante a vida e a que chamamos chatices, desgraças, etc, se as aprofundarmos bem com um espírito optimista, talvez não sejam assim tão graves e algo de positivo se esconda nelas. Sempre se encontra algo, disso tenho a certeza.

…eu estou a falar assim, mas ainda não consigo perceber muito bem as coisas deste modo. Sei que ainda sou um pouco pessimista, embora tenha a impressão que já o fui mais. E que mais optimista serei no futuro….vamos ver!”

Tinha então 18 anos…. passaram 46…. e prezo reconhecer que segui a linha que este texto já pronunciava ainda com alguma insegurança. E gostei de constatar isso, acreditem.

Teria ficado muito triste se hoje fosse uma pessimista inveterada e sombria.

sopro de alma

Entre palavras e silêncios
vive a poesia,
lugar de vibrantes
e dormentes emoções
livres
mas nem sempre libertas.

Alimenta-se da vida
e do amor,

do olhar
e sentir de pele,

da paz
e da dor.

Poesia,
alma de palavras
vividas e expiradas
num sopro sentido!

A Poesia é uma espécie de Árvore de palavras unidas pela Criatividade!

(Dulce Delgado, 21 Março 2023)
(Para lembrar este Dia Mundial da Poesia, Dia Mundial da Árvore e Florestas e Dia Europeu da Criatividade Artística )