
instantes #59

Voando pelo tempo
eu vou,
planando ou batendo asas
e sentindo o vento
que sou.
Por vezes tropeço
nos sonhos
e foge-me o arco-íris,
então rodopio hesitante
na verdade do tempo
e do instante.
Ele não pára…
…o tempo,
e eu continuo
a avançar
sem meta onde chegar.
Nesse caminhar eu sigo
mais ou menos tranquila,
tentando inspirar
apreciar
aprender
e aceitar,
o que a Vida tem para dar!
Em voos rápidos
e aleatórios pelo ar,
elas voam sobre a água
ao som
do fresco murmurejar.
A seu lado
voa o meu olhar,
atraído pelas cores metalizadas
e transparência fluída
das suas asas.
Com libélulas
no ar,
é tão leve
e fácil
voar neste lugar!
Irrequieto,
o vento
fustiga o cata-vento,
que roda loucamente
sem parar.
Pára!
Pede o galo
do alto do cata-vento,
estou tonto,
cansado
sem norte
e farto desta sorte!
Porquê?
pergunta o vento,
num rodopio
sonoro e menos turbulento…
Porque…
não canto
não voo
não acordo ninguém
não tenho par
nem um quintal onde reinar!
E estou preso
nesta alma de metal,
fria e intemporal!
Mais calmo,
o vento soprou
com ternura
e ecoou…
Puro engano
meu amigo!
Tu és norte,
orientação,
e o corpo que me dá voz.
És o vento que o olhar mais simples
compreende,
linguagem universal
clara e sem igual.
Não voas
é certo,
mas desse lugar
podes ver mais mundo
e horizonte que muitos
a voar.
O teu “quintal” é vasto
aprecia-o com alegria.
E voa,
quando quiseres
e disso precisares.
Basta sentires
o meu afagar em teu corpo
com emoção,
ou a minha loucura
sem razão,
e terás penas
e asas
e voos de imaginação!
Se este é o teu lugar
e destino,
não vires as costas
ao sopro que te dá vida,
sente-o simplesmente
guiando a emoção
para junto do coração!
“Dulce, vem … rápido… e traz a máquina!”
E eu fui, sempre pronta para a surpresa.
Pousado no exterior da janela estava este bonito insecto “pedindo” uma fotografia. Em dois cliques concretizei o intento e, em breve, ele seguiu a sua vida. E eu a minha, feliz com a “captura” e certa que teria que saber um pouco mais sobre ele, o que fiz oportunamente junto de quem poderia esclarecer a minha curiosidade.
Sendo uma apaixonada por insectos, a minha amiga bióloga olhou para esta imagem e em breve me disse que deveria pertencer à ordem Neuroptera. Uma rápida busca pela internet levou a integra-la na família Chrysopidae e pouco depois a associá-la, com alguma certeza, à espécie Pseudomallada prasinus (Burmeister, 1839).
Fiquei feliz por conhecer o nome deste elegante ser de aspecto frágil e asas rendilhadas que decidiu pousar na minha janela. Entretanto, a conversa continuou…
Dizia-me ela que a Neuroptera é uma ordem pouco estudada porque não tem grande interesse científico. A sua existência nada implica de bom ou de mau para o homem ou para a natureza, uma vez que as espécies que a integram não são nocivas nem benignas.
Isto significa que, por exemplo, não são nocivas como os mosquitos que provocam doenças como a malária e dengue, ou como as vespas e gafanhotos que podem ser bastante prejudiciais na natureza; e também não são benignas como as abelhas ou borboletas, fundamentais para a polinização, ou como as joaninhas, que são excelentes controladoras de pragas.
São, pois, uns insectos relativamente neutros e inofensivos, que andam por aí servindo essencialmente de alimento a outras espécies.
E no meu pensamento algumas relações…
Neste mundo, grande parte dos recursos disponíveis são orientados no controle do que é “mau” ou no incremento do que é “bom”, termos que são sempre bastante relativos como todos sabemos. No primeiro caso poderemos incluir as acções que fragilizam a sociedade, como a corrupção, o roubo, a agressão, o crime, as doenças, etc. No segundo, acções como a solidariedade, a educação, a investigação ou a cultura.
Teoricamente resta um “espaço” intermédio de acções que não se encaixam nestes extremos…que contribuem para a sociedade com uma certa neutralidade e que estão associados a gente comum e algo invisível, mas…
…que não “agride” ninguém…
…está atenta aos outros…
…vive o dia-a-dia com simplicidade…
…reage perante a complexidade…
…encara a dinâmica das emoções sem interferir com os demais…
…que sabe apreciar, à sua maneira, os momentos e as “janela” que a vida lhe vai proporcionando…
…talvez como eu…
…talvez como tu…
…talvez como os insectos da espécie Pseudomallada prasinus que andam por aí voando sem grande objectivo a não ser viver…
…existir…
…dar um toque de beleza à vida, à natureza e às nossas janelas…
…até ao dia em que, de uma forma natural mas sempre inesperada, o seu ciclo terminará num “último voo” no bico de um gigante Pássaro…
Estarei muito errada?
Em voo
levada sou,
nas entranhas
de um ponto
viajante,
no azul
e no instante.
Aventuro o meu olhar…
…e pelo rarefeito ar
vejo que o mar
virou céu
com nuvens a decorar!
Enganou-se o meu olhar?
Será que o céu e o mar decidiram brincar?
E as nuvens…
… gostarão elas de estar
abaixo do humano olhar?
Talvez sim…
talvez não…
Mas,
melhor do que eu estarão
neste meu divagar,
nascido para passar o tempo
e sempre,
sempre pensar…
…que já falta pouco para aterrar!
O tempo voa,
líquido
rápido
e eficaz,
como um pássaro transparente
mas voraz.
Não,
não consigo acompanhar
esse voo,
e intranquila,
fico para trás!
Peço-te
pássaro do tempo,
dá-me horas
livres
vazias
e sem memória,
para aumentar os meus dias
e em paz,
continuar a minha história!
No início deste blog revelei o meu gosto por buganvílias. Poucos dias depois, no começo de Maio, foi-me oferecido um exemplar desta espécie repleto de flores (post do dia 10 de Maio, intitulado Buganvilia II).
Sendo uma planta de exterior e não possuindo a minha casa uma varanda, fiquei expectante relativamente à sua adaptação/ sobrevivência, pelo que a coloquei num móvel que se encontra junto ao parapeito de uma janela que normalmente está aberta.
Duas semanas depois começou a perder as flores, que desapareceram totalmente em poucos dias. Fiquei então com uma buganvília sem flores, mas com muita esperança que a sua adaptação ainda fosse possível.
Um dia chegamos a casa e a buganvília não se encontrava no lugar. Senti um grande aperto no coração e rapidamente percebi que a sua ausência só poderia resultar do vento muito forte que se fazia sentir naquele dia… muita trepidação… pequenos deslizes sucessivos… e a buganvília só poderia ter caído do décimo andar onde vivo! Um voo de dez andares!!!
Desci rapidamente até à rua. Procurei-a e encontrei-a junto a um canteiro, perto de um pequeno monte de terra, com as raízes todas visíveis e as três hastes murchas e sem qualquer vitalidade.
Peguei nela cuidadosamente, levei-a para casa e coloquei-a em nova terra e novo vaso. Em poucas horas algumas das folhas ganharam alguma firmeza, iniciando-se a fase dos “cuidados intensivos”, com muito acompanhamento, diálogo e obviamente, um “cinto de segurança” para impedir novas quedas.
Duas das hastes conseguiram recuperar, sendo que a outra secou definitivamente. Após duas semanas, reparei que estavam a nascer novas folhas. Dias depois apareceram pequenos pontos de cor, que pareciam flores. E foram mesmo, o que se revelou uma enorme alegria para mim!
Um mês e meio após a queda, a minha buganvília estava a ficar cheia de flores e a crescer a olhos vistos. Até foi passar uns dias de férias ao Algarve, para uma varanda, estadia que seguramente lhe agradou, dada a sua evolução.
Voltou para casa e continua muito bonita, como mostra esta fotografia tirada recentemente. Parece feliz e espero que assim continue. Porque eu também estou!
Mas, tão importante como essa alegria que sinto, é a lição que ela tem dado a todos os que a temos acompanhado nos últimos tempos: mesmo após uma grande queda, podemos dar a volta e recuperar para a vida e voltar a ser felizes. O ser vivo é, por natureza, um lutador e um sobrevivente. E se tivermos a sorte de ter alguém que goste e cuide de nós, que nos ampare e incentive nesses momentos, então a recuperação será mais provável, fácil e rápida!