o bater do coração

No silêncio da noite e esperando
um adormecer que em breve surgirá,
ouço o coração
bater…
…por vezes com tal nitidez
e detalhe
que consegue ser perturbador.

A primeira sensação que me transmite
é de vulnerabilidade. Eu,
corpo e pensamento,
somos aquele coração, aqueles batimentos, aquele pulsar.

É ali,
naquele lugar que é meta
e ponto de partida do sangue
que me percorre loucamente o corpo,
que está o meu passado
o meu futuro
o meu tempo
os meus sonhos
o meu estar
o meu ser….

Ele bate, bate e bate…
em média 65 vezes por minuto (um pouco menos de noite)
…3900 vezes por hora
…93 600 vezes em cada dia
…e há mais de 66 anos que o faz.

Espantoso, simplesmente espantoso!
 
Nos caminhos da noite continuo a ouvi-lo…
…e apercebo-me dos seus pequenos desequilíbrios
algo perfeitamente compreensível
se pensarmos que é apenas um músculo
humano e sensível,
e não uma mecânica engrenagem
fria e metálica.

Em silêncio
agradeço-lhe o esforço,
assim como as inócuas palpitações que me oferece
de vez em quando.
Sinto-as como a sua forma de variar …
(de sair de uma rotina que a todos pesa…)
…ou então o seu modo de me relembrar
que está ali,
que é núcleo
e que é Vida.

Entretanto o sono chega …abraça-me….

E eu volto a agradecer-lhe com um último pensamento:
“Obrigada amigo,
até amanhã e descansa o que puderes!” 🧡

Dulce Delgado, Maio 2024