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Porque o teu olhar aprecia a simplicidade…..

…porque prefere “aquele menos” que diz mais…

…e porque sempre consegue encontrar no aparentemente banal aquela linha de força, energia ou estética que pode tornar algo mais belo…

…ofereço-te neste dia uma fotografia que tirei no início deste ano e que muito aprecio. Na sua subtileza encontro uma certa transcendência, seja na nudez dos troncos que revelam o essencial, seja nas névoas que temos que ultrapassar para chegar à clareza, à luz e a um “céu mais azul”.

Gosto da sua harmonia, mensagem e por este pouco me dizer-me tanto. E hoje gosto especialmente porque sei que também a irás apreciar.

A par destas palavras é o que te quero oferecer neste mundo virtual. No real terás muito mais. Haverá presenças, partilha e sentirás aquele abraço especial e aquela ternura que só uma mãe sabe dar. E que tu como mãe, já sabes bem como é profundo, intenso e tudo preenche.

Muitos parabéns minha filha!🧡

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Este primeiro dia de Setembro apareceu envolto num nevoeiro morno e agradável, daquele que o corpo não rejeita. Por esse cinzento deambulei um pouco logo pela manhã na zona ribeirinha de Lisboa, levando comigo o sentir luminoso que vivi neste mesmo dia há 38 anos atrás, data em que tu nasceste e eu fui mãe pela primeira vez.

Sempre que os filhos fazem anos, como mães voltamos atrás e vibramos entre recordações e um mar de emoções. As minhas são doces e fluidas, como foi todo o processo do teu nascimento e como têm sido estes 38 anos da nossa relação. Hoje também tu és mãe e eu uma feliz avó do teu filho!

Entretanto a vida foi acontecendo neste planeta/universo. A Terra deu trinta e oito belíssimas voltas ao Sol… mas em nós a sensação é de rapidez… de um tempo fugaz…como aquele gesto simples e meio inconsciente de rasgar ou de riscar mais uma folha do calendário que “gere” o tempo. Não deveria ser assim…

Nestes 38 anos demos incontáveis passos como pessoas individuais. Tu no teu caminho e eu no meu. Atravessamos nevoeiros, céus azuis, dias soalheiros, certezas e incertezas, momentos de pura felicidade e alguns de tristeza. Mas ambas sabemos que é na atenção pelo outro, no estar presente, no aconchego, na troca e no jogo entre o dar e o receber que está tudo o que vale realmente a pena no desenrolar dos dias e da Vida.

Isso é a essência. Diria mesmo que é o Sol que sempre está presente mesmo nos dias de nevoeiro!

Muitos Parabéns minha filha, e continuação de uma boa viagem pela Vida!

(Dulce Delgado, 1 Setembro 2021)

a ponte do meu olhar

O valor que damos a algo é sempre relativo, sendo imenso o que passa despercebido ao nosso olhar enquanto outros alvos são privilegiados por esta transparência que brota de nós. 

A ponte 25 de Abril, que une as duas margens do Tejo em Lisboa, talvez seja a campeão dos meus olhares. Há mais de quarenta anos que descansa na janela da sala onde trabalho e há outros tantos que sob ela passo duas vezes ao dia.

Normalmente mostra bem os seus contornos e elegância, linhas que os nevoeiros surgidos no rio gostam de afagar ou esconder num jogo dinâmico e sensual, ora tapando a base dos pilares, ora os topos, ora tudo. Neste ultimo caso em que ela simplesmente desaparece, gosto de pensar que foi de viagem, que se cansou de estar estática no mesmo lugar há tantos anos…ou então que eu mudei de lugar e outra cidade me recebe! Certo é que, limpa ou envolta em nevoeiro, é sempre bonita e cativante.

Esta estrutura longa e flexível tem uma vida muito própria. Pelas suas entranhas passa um comboio (como se pode ver à esquerda da imagem), um meio de transporte importante na dinâmica dos fluxos de pessoas que se deslocam diariamente entre as duas margens do rio; e no tabuleiro, um tráfego muito intenso ou mais fluido pode, de um momento para o outro, dar lugar a um acidente de onde resulta um humor engarrafado, congestionado e sempre enervante. Por outro lado, mantém uma relação sonora com a cidade emanando um ruído constante, um “vrumm” metálico um tanto cansativo e certamente muito incomodativo para os que vivem perto dela.

Na sua passividade e para além da função de ligação, já foi palco de muitos momentos desde que foi inaugurada em 1966: grandes obras, manifestações, bloqueios, corridas com milhares de pessoas, etc, etc. Já sabe o que é o calor dos passos humanos, do mesmo modo que sabe o que é o desespero dos muitos que decidiram terminar a vida no seu tabuleiro, atirando-se daí ao rio. Com este pensamento, a ponte sempre perde muita da poesia que lhe encontro…

Olhando em seu redor…

…é uma estrutura que tem a seu lado, na margem sul, o Santuário do Cristo-Rei, formando uma parceria inconfundível no perfil da cidade e uma espécie de ex-libris que dá as boas vindas a muitos dos visitantes. No céu, passa sobre eles um dos corredores aéreos de acesso ao aeroporto de Lisboa, percorrido por um constante fluxo de aviões que só a pandemia permitiu travar totalmente. E em baixo, sob a ponte, flui o magnifico rio Tejo prestes a chegar ao oceano e permitindo agora, depois dos trabalhos de despoluição realizados, que muitos golfinhos penetrem diariamente o seu leito e sejam vistos na zona dos dois pilares submersos. Que melhor companhia poderia ter a ponte 25 de Abril?

Os pilares que a sustentam são suporte, mas não só. Na verdade, vale muito a pena ir até ao primeiro em betão implantado no lado norte, em Alcântara, e aí visitar o Centro Interpretativo da Ponte 25 de Abril – Experiência Pilar 7 – inaugurado aquando dos 50 anos desta estrutura. Muito mais do que o interesse do miradouro e do elevador panorâmico que possui, vale imenso pelo percurso expositivo que disponibiliza complementado por meios interativos. E responde a muitas questões que os mais curiosos terão ao olhar para esta belíssima obra de engenharia que resultou do trabalho árduo de muita gente, numa época em que as tecnologias e as questões de segurança era bem diferentes da actuais, facto que levou à morte de muitos trabalhadores em acidentes durante a sua construção.

Publico este divagar no dia de mais um aniversário desta ponte, mais precisamente dos 55 anos após a sua inauguração. Nessa altura, era a maior ponte suspensa da Europa e foi um evento marcante para todos os portugueses. Até para mim, uma criança com apenas oito anos que vivia no Algarve….e que jamais imaginaria que aquela enorme construção seria uma presença constante no seu olhar e, de certa forma, na sua vida.

(Foto captada neste dia de aniversário, logo pela manhã!)

cinco anos!

Já aqui partilhei o quanto aprecio um belo prado, seja pela liberdade que concedem à sua própria natureza, seja por acompanharem naturalmente o ritmo das estações do ano e, especialmente, por serem espaços abertos e repletos de possibilidades. Talvez por isso, neste dia em que faz precisamente cinco anos que publiquei o primeiro post no Discretamente, apetece-me divagar sobre a natureza de um prado e com ele fazer uma analogia.

O sentimento que me invadia no dia 28 de Abril de 2016, era algo semelhante à sensação de ter um pequeno terreno pela frente mas não saber se seria bom ou se nele cresceria algo. E especialmente questionava-me se ele seria o lugar mais propício ao desenvolvimento da minha vontade de partilha criativa.

O tempo foi passando, as estações do ano e a vida acontecendo, as emoções e sensações brotando….assim como o prazer e a alegria de ver nascer “naquele terreno” um pouco de tudo. Assim, ao longo destes cinco anos e muito para além do que eu alguma vez possa ter imaginado, brotaram 625 posts que incluíram centenas de textos, 145 poemas, 160 desenhos, assim como muitas centenas de fotografias, tudo de autoria própria.

Se estou grata por ter dado a mim própria a oportunidade de avançar com o objectivo de superar muitas inseguranças e intranquilidades criativas, estou ainda mais grata por ter uma filha que me ajudou na construção do blog e ensinou a lidar com a plataforma WordPress. Estou igualmente agradecida a todos os que me têm acompanhado, comentado, incentivado e que, de certa forma, já fazem parte da minha “outra família”. A todos discretamente agradeço.

Por fim, que a vida me permita continuar a apreciar e a “regar” com alegria este prado imaginário!

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A viagem que anualmente promoves em tempo de aniversário será este ano bastante diferente, pois não haverá aviões, aeroportos ou cidades a explorar.

Em tonalidades bem mais intimistas viverás a tua primeira viagem como mãe por estes ciclos anuais que marcam a nossa Vida. Nesse novo estado sentirás as rotinas e o cansaço próprio de quem cuida e alimenta um filho com três semanas, mas terás certamente detalhes inesperados e momentos diferentes do habitual. E neles viajarás com os sentidos mais atentos e uma imensa ternura à flor da pele!

Pela minha parte, agora de mãe para mãe, um obrigada por teres nascido, um abraço bem apertado…. e um poema!

 

Ser Mãe,
é viajar por um trilho
de experiências novas
e profundas descobertas.

Com o teu filho
irás percorrer prados de ternura
e brincadeira,
caminhos semeados de dúvidas,
cansativas subidas,
atalhos surpreendentes,
florestas de insegurança…

…e alcançarás uma nova visão
da Vida
sem subires a qualquer montanha!

Rirás com detalhes mínimos
e chorarás por pouco
ou nada.
E viverás desconhecidas emoções
como se os teus sentidos,
corpo
e pele,
habitassem um novo mundo
de sentimentos
e sensações.

Neste caminho partilhado
procurarás rios
de informação
para te saciar os medos  e as dúvidas,
mas logo perceberás
que a melhor resposta a essa sede
estará em ti,
no teu coração
e sempre na tua intuição.

Ser mãe
é esta viagem em poucas palavras.
Mas ser mãe não são palavras,
é algo imenso
intenso
e de um Amor sem fim!

 

 

(Dulce Delgado, 1 Setembro 2020)

 

 

 

 

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Dooois? Onde estás?

– Quem me chama?

– Eu, o Seis. Anda aqui!

…?

– Senta-te aqui a meu lado!

O Dois senta-se pouco convicto à direita do Seis. Este último sorri e diz:

– Chegou a tua vez de ficar aqui deste lado. O Um foi ontem embora e tu és o seguinte. Não posso ficar sozinho, preciso de me encostar a ti durante um ano…

– E eu tenho que ficar quietinho?

– Sim. Podes espernear mas não sair…

Sentado mas inseguro, o Dois está surpreso e sente-se estranho. Fica silencioso, reflecte, medita… e momentos depois mais consciente da situação diz:

– Ok, se chegou a altura de eu ficar um ano a teu lado e ambos um ano na vida da Dulce, então devemos cumprir o melhor possível essa missão. Já estivemos juntos há muito tempo, quando eu estava no outro lado… éramos mais novos….e tínhamos todos outra energia. Agora, com um pouco mais de experiência tudo devemos fazer para tornar os próximos 365 dias de vida da nossa amiga saudáveis, criativos, afectivos, atentos, de partilha e tranquilos, apesar de se vislumbrar um ano de fortes emoções já que será avó pela primeira vez e está muito feliz com isso. Temos que tentar que tudo corra bem!

– Vamos a isso, diz o Seis! Sejamos então uns simpáticos Sessenta e Dois!

 
Discretamente e com muito carinho, agradeço a intenção do 6 e do 2…dos 62…e desejo com esperança, emoção e do fundo do coração que tais palavras se concretizem e sejam uma realidade!

 

 

(Dulce Delgado, 7 Maio 2020)

 

 

 

 

 

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Madrid foi o destino que obrigou a estar no aeroporto de Lisboa às cinco e meia da manhã de ontem.
Em tempo de Uber’s e afins…porque te levei?

Porque sou mãe!

Porque o último abraço dado no aeroporto ficou mais próximo deste primeiro dia de Setembro dos teus 36 anos;

Porque a energia desse abraço perdurou pelo dia de ontem e hoje será sentida por ambas perante a tua voz/imagem, mas igualmente quando leres estas palavras-oferta, que percebi recentemente serem um mimo desejado neste dia;

Porque hoje não estarás perto de mim para fazeres as habituais perguntas associadas ao teu nascimento…à gravidez… ao parto…como eras…como foi…e eu não irei repetir as respostas que tu já sabes de cor. E também não irei ouvir aquela exclamação “Tãaaaaao giro!”, que naturalmente aparece após esse diálogo.

 

Para além disso, minha filha…

Os lugares guardam memórias dos seus visitantes, certamente mais emocionais se associadas a dias de aniversário. Copenhaga, Dublin, Barcelona em anos anteriores e Madrid este ano, guardarão um pouco de ti e da tua boa energia.

E eu, discretamente, gosto de pensar que as emoções despertadas por estas palavras escritas para ti e lidas por aí, ficarão algures a pairar na memória desses lugares.
Sem tempo e doces como um abraço!

 

Muitos Parabéns e um dia muito feliz!

 

 

(Dulce Delgado, 1 Setembro 2019)

 

 

61!

 

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Nasci em plena Primavera, por sorte na época do ano que mais aprecio.

Faz hoje precisamente 61 anos que decidi começar esta aventura para além do útero materno. Nasci rodeada da bela paisagem alentejana, um selo de harmonia e de energias que gosto de acreditar ter marcado a minha sensibilidade ou a forma como a luz, o sol, o céu, a paisagem ou a natureza me tocam e são geradores de sentires muito próprios.

Esta será certamente uma visão algo romântica da questão, pois a realidade regista que deixei o Alentejo com pouco mais de seis meses… contudo, sendo o romantismo um pensar doce e que não faz mal a ninguém, esta sexagenária não resiste ao seu paladar!

Assim, voltando à ideia que as paisagens alentejanas oxigenaram os meus genes nesse período…a verdade é que a minha estrutura emocional se manifesta de uma forma muito vibrante quando encontro um prado na Primavera. Adoro prados! E o Alentejo onde nasci… é um mar de prados!

Se me perguntarem que flores mais gosto, só tenho uma resposta: as flores de um prado e um prado com flores! Sejam as pequenas e menos visíveis que o verde protege com cuidado e gratidão, ou as mais exuberantes que atraem o nosso olhar e chamam a atenção.

Um prado é a “maior democracia” que existe na natureza. É o equilíbrio puro, na sua forma mais espontânea. Todas as espécies têm o seu papel numa cooperação harmoniosa, a que o acaso pela mão dos quatro elementos – terra, ar, água e fogo/sol – criou para deleite da própria natureza e do nosso olhar.

Tudo está no local certo, em resultado de uma dinâmica perfeita. Mesmo que exista competição entre espécies, o que sabemos ser comum na natureza, o equilíbrio é genuíno e existe só por si.

A beleza do conjunto revela-se igualmente num olhar mais detalhado, mas hoje não vou por aí, não é importante. Talvez um dia partilhe essa visão. Nesta data, em que me sinto feliz e muito agradecida por completar mais um ano de Vida (não obstante as dificuldades que sempre vão surgindo), o prado é um símbolo a que dou enorme valor, seja pela capacidade de auto-regeneração anual, seja pela harmonia que transmite e que sempre procuro guardar e “cultivar”, ou ainda pela grande lição de respeito e de cooperação pacífica que dá ao mundo.

A imagem inicial é um detalhe de um belíssimo prado que recentemente encontrei num recanto da região onde resido. Senti-o como um pedaço de Vida, como uma oferta da Natureza…e como tal, ideal para partilhar neste dia!