
instantes #68

Ao imitar o som do acto de bater numa superfície dura, a palavra que dá titulo ao post de hoje é uma onamatopeia, figura de linguagem que nos leva a um instante sonoro muito específico.
Se o toc toc que antecede o penetrar num espaço mais reservado dentro de uma habitação faz parte das regras de boa educação e é feito com a mão, já o clássico toc toc proveniente de aldrabas (ou aldravas) indicava a presença de alguém no exterior, uma forma comunicacional que foi quase silenciada pelo advento das campainhas eléctricas.
No entanto, pela importância que tiveram na relação público/privado, são imensas as que ainda permanecem em muitas portas.
O meu gosto por detalhes levou a que muitas me “tocassem” e consequentemente a reunir ao longo de meses um bom conjunto de fotografias de aldrabas existentes nas zonas de Alcântara, Santos, Madragoa e Lapa, áreas de Lisboa por onde normalmente passeio na minha hora de almoço.
Uma vez que tenho muitas fotografias, irei repartir em dois posts as imagens que considero mais interessantes. E para que não seja uma partilha aleatória, associei-as por estilos e formas.
Começo pelas clássicas “mãozinhas” que seguram uma espécie de esfera, uma forma bastante comum que aparece geralmente em habitações mais simples. De qualidade diferenciada e mais ou menos perfeitas, podem estar associadas a um encaixe simples ou complexo, apresentar “punhos” rendados, folhos, etc.
Visualmente são as mais perfeitas substitutas daquele toc-toc original saído da mão humana, numa ligação que por vezes é extremamente real e humana, como bem se sente, por exemplo, na primeira imagem do conjunto que se segue. Objectivamente, aquela primeira porta verde tem duas mãos!
As aldrabas que têm por base uma argola são, como todas as restantes formas existentes em metal/ ligas metálicas e podem ser extremamente simples ou mostrarem pequenos relevos decorativos. De uma forma geral revelam um gosto sóbrio e um tanto minimalista.
Pensando retrospectivamente sobre todas as aldrabas encontradas, creio que esta forma é a mais comum e a que existe em maior número. Por não terem muito que as diferencie e serem bastante repetitivas, decidi não fotografar todas as que vi.
Termino este primeiro post com uma curiosidade que revela bem a heterogeneidade de “personalidades” que existe…seja de aldrabas seja de pessoas!
Em três momentos da captação destas imagens as portas en causa abriram-se. E curiosamente as reacções foram todas diferentes: emcontrei um sorriso condescendente…encontrei desconfiança e uma pergunta pouco simpática sobre o que estava ali a fazer…e encontrei indiferença pura.
Realmente…”cada porta sua sentença”!😉
Como sempre, seja em dias de trabalho ou de lazer, uma das primeiras acções que faço quando me levanto é ir à janela “cumprimentar” o dia…ver o tempo….agradecer….
Já passaram pelo Discretamente muitas fotografias captadas na sequência desse olhar matinal. Hoje volto a fazê-lo, não apenas pela beleza do momento, mas pela curiosidade destas duas imagens serem captadas com poucos segundos de diferença.
O que as distingue tem apenas a ver com a zona para onde apontei a máquina fotográfica e fiz a leitura da luz, sendo a primeira realizada no céu/zona mais clara e a segunda na terra/zona mais escura. O resultado foi obviamente diferente, como qualquer pessoa que tira fotos saberá.
Divagando um pouco…
….a forma como olhamos algo (copo meio cheio/luz/positivo….copo meio vazio/sombra/negativo) tem exactamente a ver com esta mecânica. Uma mesma situação ou “paisagem emocional” sempre pode ter duas leituras diferentes, dependendo apenas da forma como encaramos, focalizamos e orientamos a nossa mente e emoções.
Uns preferem uma… outros a outra. Talvez uma terceiro olhar, hibrido, seja o mais equilibrado e fiável. E o mais difícil também!
Como uma terceira foto que, naturalmente e sem pensar, eu nem tentei tirar…
Não obstante serem invasoras, estas aves são uma companhia barulhenta e movimentada nos jardins de Lisboa. Andam normalmente em grupo, pelo que achei muito curiosa esta solitária presença em cima de uma antena.
Nesta dinâmica dos dias e da vida, talvez…
… passasse por um dia menos bom
…tivesse um assunto para pensar/resolver
… necessitasse de um pouco de silêncio e de se afastar dos irrequietos companheiros do bando
…estivesse a dormir
…ou apenas a apreciar a vista!
Fosse o que fosse, certo é que ali ficou por algum tempo, absorta e silenciosa.
Abri a janela e tirei a foto acima. Apercebendo-se da minha presença a alguns metros virou-se para um lado…depois para o outro…
…e por fim para trás, com um ar bastante curioso. Gosto de pensar que foi para me dar os bons dias!!🤗
Bom fim-de-semana!🤗
Com o sol de Inverno a brilhar no céu azul, durante a minha hora de almoço sentei-me um pouco num dos bancos com vista para o rio do miradouro da Rocha do Conde de Óbidos/Jardim 9 de Abril para usufruir dessa dádiva celeste.
Muito devagarinho, esta lagartixa aproximou-se, parando a pouca distância dos meus pés. Foi tão simpática, que me deixou tirar a máquina fotográfica da mala e captar esta imagem.
Permaneceu nesta posição mais alguns segundos, desaparecendo depois num abrir e fechar de olhos.
Das duas uma: ou foi ali para apanhar um pouco de sol como eu…ou então queria mesmo ser fotografada!