cinquenta cravos de abril!

Há datas e eventos que marcam gerações.

A minha, pela mão, luta e sofrimento de muitos, recebeu a liberdade e a democracia no dia 25 de Abril de 1974. Hoje, cinquenta anos depois, celebra com alegria essa dádiva, ao lado de filhos e netos.

Porém, mais do que nunca será necessário estarmos atentos e que cultivemos com inteligência o que não queremos ver murchar. A realidade mostra-nos que as “ervas daninhas” estão activas e querendo brotar.

Sem esses valores então conquistados, nem estas discretas palavras poderiam ser escritas. Por essa e por muitas outras razões, o Discretamente relembra hoje esta importante data da história de Portugal.

Que o espírito do 25 de Abril se mantenha vivo e enraizado para sempre!

E que a Liberdade consiga germinar nos lugares do mundo onde ainda não existe!

voando com o olhar…

Voam as gaivotas
diante do meu olhar,
sobre a terra
rasando o rio
talvez desejando o mar.

Em cada voo
lento e planado
voa o meu sentir
e a vontade
de as seguir
em plena liberdade…

…desejo
friamente cortado
por uma sólida
e transparente
janela
com vítrea crueldade!

(apesar de “cruel”, aquela janela é um libertador escape na rotina do emprego!)

livros que não querem ser lidos…

Há livros que não querem ser lidos e que guardam em si uma imensa dificuldade em se dar aos outros, exigindo a presença das nossas duas mãos para se manterem abertos.

Já desisti de livros por não aguentar essa exigente dinâmica. Cansam-me livros de lombada muito rígida que não se abrem naturalmente e que não se dão de corpo inteiro com total disponibilidade. Além de exigirem uma tensão continua, dificultam a leitura das palavras que se encontram perto da lombada e, num descuido, se uma das mãos relaxa…zás…ele fecha-se como um bater de porta na nossa cara.

Pessoalmente, nessa desagradável dinâmica alguma racionalidade me é exigida, sendo importante perceber se o que ele me vai dando compensa, ou não, a irritação e a energia despendida.

Este post surgiu pelo facto de recentemente ter conseguido chegar ao fim de um desses livros. Desta vez perdeu a vontade de desistir em favor da emoção e de ter gostado do seu conteúdo. Mas irritei-me em muitos momentos…

Senhores escritores….editores… designers….gráficas… etc, não se esqueçam que a alma de um livro está dentro das suas páginas. Deixem-nas abrir e respirar naturalmente! 

Boa semana!🤗

abril de liberdade

O dia 25 de Abril de 1974 sempre passou pelo Discretamente e este ano não poderia fugir à regra pela importância desse evento na sociedade portuguesa.

Enquanto ponderava sobre o assunto e sobre as suas palavras chave – ABRIL e LIBERDADE – percebi que todas as letras da primeira fazem parte da segunda.

Que curioso, pensei….posso ir por aqui…

Entretanto ainda constatei que esta coincidência de letras não se poderia repetir em nenhum outro mês do ano. Se, sonoramente, Abril é o mês-palavra mais “livre e voador” do ano (ideia que já partilhei convosco num post recente), graficamente não tinha percebido que Abril existe em Liberdade… que as palavras “encaixam” uma na outra… e, por isso, intrinsecamente ligadas.

Não sei qual o motivo exacto que levou os militares portugueses a escolher precisamente o mês de Abril para fazer esta revolução. Provavelmente um misto de questões tácticas, meteorológicas, contexto político, urgência nacional, etc.,

Mas, “poeticamente” falando, terão pensado que “Abril” vive em “Liberdade”? Se sim, será ainda mais maravilhoso o que fizeram. Se não o pensaram, outros provavelmente já o fizeram. Ou não.

Tudo isto são apenas divagações sobre algo bem maior que aconteceu nessa data.

Pessoalmente, nunca esquecerei que foi esse longínquo dia de 1974 – tinha eu apenas 16 anos e muita ignorância dentro de mim – que permitiu…

… libertar os que lutaram e sofreram em prol da liberdade

… valorizar os que morreram pela mesma causa

… a possibilidade de todos votarem em eleições livres

… liberdade de expressão e de circulação

… igualdade de direitos

… acesso a um infinito número de novas oportunidades

… etc,.

Apesar de todos os desequilibrios que existem e do bom senso que ainda não conquistamos, foi um dia fundamental para a sociedade que hoje somos. E isso é que é realmente importante.

religião

A etimologia da palavra que dá titulo a este post mudou ao longo dos tempos, mas gosto da versão que a associa a religare…re-ligar… unir…

Unir modos diferentes de estar, pensar, sentir e, especialmente, de viver a fé.

Entre religiões, movimentos religiosos, crenças ou outras formas de associar ideias e de lidar com o que possa estar para além da nossa materialidade, existe um leque enorme de possibilidades.

Perante essa realidade, cada habitante deste planeta deveria viver livremente a sua escolha e o modo de lidar com as energias que ligam tudo o que existe. Assim como ter a liberdade de recusar qualquer tendência ou religião. Mas para isso ser possível, o respeito pela diferença teria obrigatoriamente de ser a base e a essência de todas essas formas de estar/sentir.

Verifica-se porém a incapacidade de muitos em lidar com a diversidade e com a liberdade de escolha, o que levou a que a religião – algo que deveria unir seja um dos factores que ao longo dos séculos maior instabilidade e desunião criou e continua a criar no mundo. A intolerância religiosa existe, sendo um factor gerador de separações, conflitos, guerras, genocídios, migrações forçadas, etc., etc.

Isto é algo inexplicável, inquietante e talvez o maior absurdo desta humanidade que somos, sobretudo porque o sentir associado a cada divindade/religião (ou ausência dela) é do foro pessoal, íntimo, imaterial, e não tem explicação racional. Como pode então ser gerador de conflitos?

Hoje é o Dia Mundial da Religião, um dia que foi criado com o objectivo de promover a união, a tolerância e o respeito por aquilo que é intrínseco a todas as religiões – a fé – algo maior, intemporal e, como tal, com infinitas formas de se expressar.

Em suma, seja qual for o caminho escolhido, nenhum obstáculo, sociedade, política ou forma de pensar poderá impedir alguém de sentir e expressar como quiser o que considera como sagrado, transcendente ou divino.

Diria que tudo se resume a uma palavra, seja neste tema seja em muitas outras áreas da Vida: Respeito!

Que seja um bom domingo para todos!🍀

Achei muito curioso o facto de não haver um consenso sobre a data deste dia. Para uns, ele celebra-se sempre no dia 21 de Janeiro, mas para outros no terceiro domingo de Janeiro. Basta fazer uma busca pela internet e perceber essa discrepância. De certa forma isso reflecte a dificuldade que existe em harmonizar algo que é universal, como é a fé.
Eu optei pela segunda hipótese – terceiro domingo de Janeiro – não só por ter  mais disponibilidade para fazer/publicar o post, mas especialmente por considerar o domingo um dia que concentra em si  melhores e mais positivas energias!

ir… e voltar!

Solto um inquieto pensamento
que a brisa leva,
simplesmente.

Nesse voar…

…um pássaro os pressente
e sorri para esse vento

… as folhas da árvore agitam
num aceno doce e lento

…e ao passarem sobre o mar
provocam o seu ondear!

Depois de muito viajar
pede o pensamento à brisa
para casa o levar…

…e ele regressa ao meu pensar,
agora mais calmo e tranquilo
depois da liberdade provar!

Dulce Delgado, Janeiro 2023
(Poema nascido de um imenso olhar que atravessou a janela da sala onde trabalho e me levou para bem longe ………
Ainda bem o fim-de-semana está  por perto!)

Que seja um tempo tranquilo para todos!🤗

liberdade de abril

Não é cravo mas é flor
Não é vermelha mas tem cor…

Nasceu na liberdade deste Abril,
vive junto a um muro que a ampara,
olha o sol
projecta sombra
é beleza…
…e leveza,
apesar das raízes
e terrena natureza.

Não é cravo mas é flor
Não é vermelha mas tem cor…

Recordando a Liberdade nascida em Abril
e que o nosso imaginar
também permitiu libertar,
escolho esta flor como símbolo do dia,
viva
vibrante
e de cor amarelo energia!

Ao 25 de Abril de 1974, dia de uma liberdade conquistada em Portugal através da Revolução dos Cravos e sempre um dia para lembrar…
…os muitos que sofreram e deram a vida pela liberdade de hoje
… os direitos e os deveres adquiridos
… a liberdade de expressão e a igualdade que se deseja
…o que somos, o que conseguimos, o que queremos e o que poderemos ser como pessoas e como comunidade
…que a nossa liberdade só tem sentido quando a liberdade do outro for respeitada
… 
… e por aqui, é também o dia de discretamente valorizar a flor silvestre, um dos detalhes da natureza que mais respira liberdade!

as voltas da vida

Num recanto da cidade
um estendal…
…e uma branca camisa
em sonhos de liberdade!

Ora enfuna com o ar
e na vontade de voar…
ora na corda se enrola
esgotada de tanto lutar.

Na rotina dos dias
o desalento é total,
usada
e depois despida,
na roupa suja é metida
numa indiferença brutal.

Se a lavagem é desventura,
pior é a tortura
dum ferro quente a passar
percorrendo o seu corpo
para os vincos alisar.

Sucedem os dias difíceis
e nada de bom acontece,
até o tal sonho,
gasto de tão usado
em dor se desvanece.

Um dia…

…estando presa no estendal
um fortíssimo vento norte
faz renascer a esperança,
pois nas molas sentiu desnorte
e na corda insegurança.

Uma rajada maior
liberta-a
daquele lugar,
começando ofegante
numa aventura invulgar.

Como um balão insuflado
voou feliz pelo ar,
e quando longe chegou
viu-se com riso e espanto
uma manga a acenar!

(Poema e desenho, Dulce Delgado, 2016)
Há seis anos, quando iniciei o Discretamente, partilhei alguns poemas que tiveram pouquíssimas visualizações, algo comum no início de qualquer blog. Porque os aprecio, tenho a intenção de os publicar novamente.
As voltas da vida” é um deles e foi agora escolhido porque, não estando a vida e os tempos com qualquer tendência para o humor, que seja a imaginação a nos permitir, talvez, um pequeno sorriso. 
Este poema, agora revisto e com ligeiras alterações relativamente ao original, surgiu num dia de grande ventania ao observar uma camisa branca num dos estendais das habitações localizadas nas traseiras do meu emprego.
 

vento meu…

Gosto de pensar que o vento que empurra aquele barco está repleto de pensamentos e sentimentos de diversas formas, de sonhos e vontades, tristezas e desejos, alegrias e ternuras, e de muitas das energias que constroem ou destroem cada momento das nossas vidas.

A algumas dessas energias damos toda a liberdade, permitindo que o vento as leve para bem longe; outras porém, ficarão para sempre connosco, ajudando ou impedindo o nosso barco de andar.

Estará naquele “vento” algum bocadinho de mim?