Nos últimos anos verificou-se em Portugal um grande desenvolvimento da arte urbana, facto que está directamente relacionado com a ocorrência de vários festivais dedicados a este tipo de arte, como o Sm’art em Bragança, o Tons de Primavera em Viseu, o WOOL– Festival de Arte Urbana da Covilhã, o ESTAU em Estarreja, o Festival Iminente em Oeiras ou o Walk and Talk em Ponta Delgada, nos Açores.
Todos terão objectivos a atingir no plano artístico, nomeadamente na qualidade das obras realizadas, facto que se sente ao percorrer muitas das cidades do nosso país, agora bem mais coloridas e revelando excelentes obras para apreciação. Mas há outras situações em que a vertente artística se aliou a uma componente de reabilitação social mais marcante, como sucede por exemplo no distrito de Lisboa, nos Bairros Padre Cruz em Carnide e no Bairro da Quinta do Mocho em Sacavém.
Vou apenas detalhar o segundo caso, o que melhor conheço na sequência de uma visita aí realizada e que permitiu perceber o projecto que lhe deu origem.
Tudo se iniciou no âmbito do festival O bairro i o Mundo que ocorreu em 2014, evento multifacetado onde foram realizadas as primeiras pinturas em edifícios do bairro. A partir daí várias entidades se juntaram a fim de estimular uma população socialmente estigmatizado a aderir ao projecto. Foi um trabalho simultaneamente educativo e de divulgação que deu frutos nos anos seguintes, também com a realização de novas pinturas em edições posteriores desse mesmo festival.
Hoje as obras são muitas, creio que mais de sessenta, e o bairro é alvo de visitas turísticas promovidas por entidades privadas, mas também orientadas gratuitamente por moradores que, empenhada e orgulhosamente, nos acompanham por aquele manancial de criatividade. Existem obras da autoria dos melhores artistas de street art, mas igualmente de outros menos conhecidos que tiveram ali a sua oportunidade. Hoje, este bairro é considerado como a maior galeria de arte urbana a céu aberto da Europa.
São muitos os artistas nacionais e internacionais que pretendem intervir neste projecto apoiado pela Câmara Municipal de Loures através da plataforma Loures Arte Urbana. Mas o mais importante de tudo é o facto do empenhamento de muitos e da arte em particular terem transformado o sentir da maioria dos habitantes, que agora se unem no sentido de preservar e divulgar as obras que mudaram a imagem do seu bairro. E que permitiram abri-lo ao mundo e contribuir para que os seus habitantes hoje se sintam socialmente mais enquadrados e apreciados.
Termino com dois artigos publicados pelo jornal Público em 2015 e 2018, que referem de uma forma bastante mais completa o que acabei de escrever; e ainda com a página do site da Câmara Municipal de Loures que menciona a visita gratuita que ocorre no último sábado de cada mês.
E, como não poderia deixar de ser, seguem-se algumas fotografias das muitas pinturas existentes, assim com o nome e a nacionalidade dos respectivos autores.
Falta referir que o autor da fachada representada na imagem inicial do post é o artista de nacionalidade francesa, Astro.