
Sob o meu olhar descansava uma consistente e bem quente sopa com vários legumes; e em mim habitava o tempo e a disponibilidade para deixar o pensamento divagar ao ritmo lento do seu arrefecimento…e do vapor que teimava em embaciar-me os óculos!
Naturalmente fui levada pelos meandros da palavra sopa, seja pelas histórias lidas e vividas, memórias guardadas ou pelo imaginário que sempre nos habita…
……o primeiro pensamento levou-me a um tempo inimaginável para a mente humana e à teoria da Sopa primordial, aquela eventual mistura de compostos orgânicos que poderá ter estado na origem da vida que habita este nosso planeta. Enfim, um assunto demasiado complexo… que logo foi levado pelo vapor…
……lembrei as sopas/refeições altruístas que tantas instituições distribuem diariamente pelos mais desfavorecidos, um pouco à semelhança das antigas Sopas do Sidónio ou dos pobres, uma doação estabelecida em Portugal durante a 1ª Guerra Mundial pelo interino e controverso presidente Sidónio Pais;
……mergulhei nas Sopas de letras, seja naquele passatempo que é um verdadeiro jogo de escondidas entre o olhar e um mar de letras na busca de determinadas palavras… seja naquela Sopa de letrinhas da minha infância, em que pacientemente se tentava escrever na borda do prato algumas palavras com esse tipo de massa;
……continuei pela minha infância/juventude e lembrei as sopas da minha mãe, sempre deliciosas, especialmente a Sopa de beldroegas que eu tanto gostava ou, no calor do Verão, a sua Sopa Fria, semelhante ao gaspacho, mas não triturada;
……imaginei estar a passear/almoçar na zona de Almeirim, no Ribatejo, e numa colherada mágica apanhar a pedra que a tradicional, robusta e excelente Sopa de Pedra dessa região costuma incluir;
……viajei aos dias em que ainda faço uma Sopa alentejana, encimada pelo ovo escalfado e cheirando deliciosamente a coentros. E depois, por oposição…
……um pensamento menos prosaico trouxe-me à modernidade e às pouco saudáveis sopas instantâneas que habitam as prateleiras dos supermercados… e que há muito não entram em minha casa!
Porém, já prestes a acabar de a comer…ainda surgiu o pensamento de que uma sopa também pode ser doce e ter poesia…
……é o caso da Sopa dourada, um doce conventual confecionado com imensos ovos e ainda mais açúcar que está presente em muitas mesas de Natal do meu país…
…..ou da poética e tão portuguesa Sopa do mar, uma abrangente e deliciosa sopa com gosto a ondas e cheiro a maresia!
Entretanto…terminei-a. E estava excelente!
Saboreio cada sopa com você. Divinas. Boa domingo
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Obrigada Bia, é preciso é ir saboreando qualquer coisa todos os dias!😉
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Maravilhosa alegoria à sopa. Viva a sopa! Julguei que era para o teu neto e no fim comeste-a tu!
Bjs Lili
Em dom., 14 de fev. de 2021 às 23:20, WordPress.com escreveu:
> dulcedelgado posted: ” Sob o meu olhar descansava uma consistente e bem > quente sopa com vários legumes; e em mim habitava o tempo e a > disponibilidade para deixar o pensamento divagar ao ritmo lento do seu > arrefecimento…e do vapor que teimava em embaciar-me os ócu” >
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O meu neto ainda terá que comer muita sopa de bebé até partilhar uma destas com a avó. Mas lá chegará. Para já, aprecia muito bem as dele!
É bom ver-te por aqui. Bjs e obrigada.
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rsrsrs às 3:00 da manhã, ao ler seu texto aumentou minha fome de ler mais, Dulce… saboreei cada imersão na memória junto, revivendo as diversas sopas que também degustei. É lógico que ao terminar a leitura, tive que atacar a geladeira em busca de uma sobremesa kkkkkkkkk. Isto é que chamo de uma leitura deliciosa, minha cara amiga. Adorei. Que sua semana seja abençoada e produtiva… beijo no coração!
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Ainda bem que o frigorifico tinha uma sobremesa escondida…
Senão…uma sopinha também servia, não era?
Muito obrigada Sandro e desejo igualmente uma boa semana!
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A sopa…tão importante e tão esquecida. Por aqui não passamos sem ela. Todos os dias! Que bonitas palavras lhe dedica. 😊
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Pois…por ser algo de todos os dias é um dado adquirido. Mas sendo tão importante, merece um pouco da nossa atenção.
Obrigada e um dia feliz!
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São, sem dúvida, demasiadas sopas.
Foi uma excelente reflexão! Adivinhe o que vou comer ao almoço?
Um beijinho Dulce, tenha uma semana feliz.
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A Irina vai comer…uma sopinha do Norte! Sempre boas e bem consistentes, como eu gosto.
Obrigada Irina. Bj e boa semana também!
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Um riqueza as suas divagações sobre as ricas sopas. Estou reproduzindo o texto em meu blog (o bem viver), nesta manhã, com os devidos créditos. Parabéns pela inspiração, Dulce!
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Muito obrigada pelas palavras e por partilhar o texto no seu blog. É sempre uma agradável e convincente forma de apreciação.
Entretanto, desejo uma boa semana!
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Não sei como consegue pensar tamanha diversidade enquanto a sopa arrefece; nessa situação, deixo-me tomar de impaciência e vou deglutindo colherinhas escaldantes que sopro, mas ainda assim me escorrem a queimar. E não creio que pense mais do que, como dizia Aristóteles, a sentir. Que a sensação, diz ele, é o grau ínfimo do pensamento . Está visto que penso com força exclusiva nas minhas sopas quentes:).
Bom dia, Dulce.
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Talvez seja tudo uma questão de temperatura…e de disponibilidade!
Eu não gosto de sopa muito quente e prefiro ir mexendo…mexendo calmamente… até estar na temperatura ideal. Foi nesse tempo, enquanto mexia e olhava para ela, que quase tudo isto me passou pela cabeça. O resto… foi enquanto a apreciava!
Será que o Aristóteles não pensava enquanto comia?😉
Muito obrigada Bea e uma boa semana!
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talvez, como eu, apenas sentisse o sabor da sopa e se deliciasse, segundo ele, forma mínima do pensamento.
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Olá Dulce! Por coincidência, minha filha, Sofia, que sempre faz perguntas, curiosas e complexas, ontem perguntou-me quem criou a sopa. Nuuuuuuh!. Quem pergunta difícil. Estou a escrever uma série de diálogos que ela tem comigo. Este terá que ser incluído.
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A curiosidade infantil questiona o que não nos passa pela cabeça. Aliás, o que já nos passou pela cabeça e depois esquecemos…
Certamente que desses diálogos que está a escrever sairão textos interessantes e será uma boa viagem pelos meandros do pensamento e da imaginação.
Muito obrigada pela presença.
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A partir de março começarei a publlica-los aqui. 🌹
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Delicia de sopa ❤️
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Obrigada!😉
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Merece ✨❤️❤️
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Passei a gostar de sopas em Portugal.
Foi lá que tb conheci as festas em sua homenagem.
Os portugueses possuem mesmo talento para confeccioná-las.
A da foto parece muito apetitosa.
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Sim, por aqui existem sopas deliciosas. E como bem refere a Silvana, até se fazem festas e festivais dedicados à sopa. Muito obrigada e um bom fim-de-semana.
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Your mind is always going, isn’t it? Primordial soup, stone soup, and all the rest…it just shows how basic the idea of soup is to humans. I’m curious about what Belgian soup is. Your warm bowl of soup bove looks delicious so I’m curious to know what that is, too. 🙂
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My mind is just very curious …
About soups:
– this is a soup with several vegetables and also cabbage, a kind of Juliana soup, as we call it.
– I think the Google translator was wrong, because I didn’t mention “Belgian soup”, but “Beldroega soup”, a herbaceous plant whose scientific name is Portulaca oleracea. She makes excellent soup!
I hope I have clarified Lynn’s curiosity!
Thank you very much and I wish you a good week!
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I’m laughing about Belgian soup – oops, that’s funny!! I know Portulaca oleraea – it grows near sidewalks here, or near yards and gardens. I saw it when I lived in NY. I heard about using it for soup but never tried it. Juliana soup is new to me but when I google it there are many recipes. 🙂 It looks very good. Thank you!
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