a urze

Datado de 2001, esta aguarela que integra o livro de férias desse ano tem uma história curiosa como é o facto de existir e de não ter sido simplesmente rasgada.

Ao pintar esta urze (ou torga), a sua base ficou mal, borrada, baça e sem profundidade. Ainda tentei dar a volta mas, em aguarela, geralmente o insistir só piora. Detestei o resultado, peguei na folha e estive a um instante de a rasgar. Recordo bem esse momento.

Porém… racionalizei um pouco e não o fiz. E pensei “Não, realmente tem esta parte péssima, mas tem outras que estão razoáveis. Não tem de ficar tudo perfeito. Se a mantiver comigo, talvez me leve a aprender qualquer coisa.”

Com este pensamento dei-lhe o destino previsto no livro de férias, mas durante muitos anos tive dúvidas sobre essa decisão, porque para o meu olhar esta página tem um “borrão”. Continuo a não gostar dos erros que revela, mas, por outro lado, gosto do que ela me ensinou, como por exemplo, o evitar precipitações e, tecnicamente, a verdadeira importância das zonas de reserva e sem tinta numa pintura a aguarela. São essas zonas de alta-luz que, a par da aplicação de sombras mais ou menos intensas, irão permitir uma leitura em planos e/ou profundidade. Tudo aquilo que esta urze não tem na sua base.

Quando partilhei convosco esse livro de férias, na escolha das páginas exclui de imediato esta. Mas logo aquele “ser pequenino” que vive sobre o nossos ombros me disse ao ouvido: ”Então Maria Dulce, afinal ainda não assumiste o teu erro e estás a escondê-lo. Como é?”

Ele tinha razão, toda a razão. Nesse mesmo momento decidi que partilharia esta página, não em conjunto com as demais mas individualmente e dedicando-lhe um post. O que estou hoje a fazer.

Há coisas que todos sabemos mas que amiúde esquecemos: que os erros são aprendizagens… que aceitá-los é o primeiro passo para os ultrapassar… e que um gesto de precipitação pode significar uma segunda hipótese perdida.

Mal sabia esta urze do norte de Portugal que, a par de muitas outras situações da Vida, me ajudaria a perceber tudo isto.

(se é que já percebi….🤨)

Boa semana para todos!🤗

as cores do mundo

A minha paleta tem todas as cores do mundo…

Se num prado quero correr,
o azul e o amarelo
certamente eu vou escolher.

Se uma montanha sonho subir,
com os castanhos e os ocres
depressa vou conseguir.

Se no mar quero nadar,
agarro o azul e o verde
e com eles vou mergulhar.

Mas se o céu me chamar,
peço apenas ao azul
para com ele voar.

E se uma volta ao planeta
eu decidir realizar,
agarro a minha paleta
viajo por todas as cores
e o mundo vou encontrar!

Dulce Delgado, 2016
Este é mais um dos poemas partilhados no início do blog em 2016. É tempo de  o publicar novamente e, sendo sexta-feira, com ele desejar a todos um fim-de-semana da cor que mais desejarem!🤗

experimentações #39

Depois da “traumática” experiência com o bloco do ano anterior, em 2014 adquiri um da marca Winsor&Newton, adequado a aguarela e que me desse alguma garantia de solidez. Cumpriu essas exigências, mas lamento que nove anos depois o papel esteja extremamente amarelecido nos bordos, como é bem visível nas imagens que hoje partilho.

Comparativamente com o do ano anterior, este registo tem muito menos texto e  abrange um período de férias que contemplou a Extremadura espanhola e o Algarve. A par dos desenhos e de uma ou outra fotografia, integra também detalhes naturais, como folhas e casca de árvores, conchas, algas e ainda parte de uma pele de cobra encontrada num trilho pedestre em Espanha.

Em certos desenhos optei por colorir apenas detalhes pontuais, normalmente aqueles que apresentavam mais cor ou que tinham mais importância no contexto geral. E gostei bastante do efeito conseguido.

Seguem-se então algumas folhas das mais de quarenta que formam este livro de registos em tempo de férias.

Obrigada pela presença!🤗

experimentações #38

Continuando esta partilha de registos e sentires, diria que a palavra a que associo as férias do ano de 2013 é “contratempos”. A começar pelo bloco que utilizei e sobre o qual escrevi no seu final o excerto que se segue:

 “Logo nas primeiras páginas percebi que a encadernação deste caderno era tão má, mas tão má, que ao virar uma folha ela logo se soltava da lombada senão total pelo menos parcialmente. Foi uma luta complexa, porque às vezes me apetecia rasgá-lo todo! Apenas relaxei um pouco quando decidi separar as folhas da lombada sempre que isso não interferia com o registo. Além disso detestei este papel que se dizia adequado a todas as técnicas…mas que se mostrou péssimo para aguarela por ser extremamente absorvente…”

Recordo bem que não desisti por muito pouco. E que apenas continuei porque me habitam umas boas doses de paciência e persistência…

Para além do bloco e entre outras situações desagradáveis que me sucederam, logo no primeiro dia de viagem perdi a carteira com todos os documentos importantes e algum dinheiro. E quem a encontrou não foi honesto, pois não me contactou nem avisou a polícia. Só meses mais tarde – quando já não era necessária – a dita voltou às minhas mãos, sem o dinheiro e depois de já ter obtido uma segunda via de todos os documentos importantes.

Estas férias de 2013 decorreram em Portugal, contemplaram o norte e o sul…. e também tiveram bons momentos para neutralizar os menos simpáticos!

O facto de várias situações/circunstâncias não terem corrido bem, levou-me também a incluir numa das suas páginas o desenho que dá início a este post. Porque o humor sempre ajuda a enfrentar qualquer contratempo!

Um bom resto de domingo e uma boa semana para todos!🤗

experimentações #25

Completam estes desenhos o ultimo post que publiquei desta série, ou seja, um conjunto de experimentações em que prevaleceu a técnica do pontilhismo.

Tal como nos anteriores, também estes revelam a vontade – mesmo que ainda inconsciente – de quebrar com algo, inovar, explorar, expandir… etc. Enfim, qualquer coisa que eu ainda não sabia bem o que era!

(Dulce Delgado, lápis de cor, aguarela e tinta da China sobre papel, 1993)